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"O RETORNO DO TALENTOSO RIPLEY"
Adaptação de livro de Patricia Highsmith por Liliana Cavani demora a convencer
No cinema, Ripley nem sempre se dá bem
Divulgação
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John Malkovich e Chiara Caselli em cena de "O Retorno do Talentoso Mr. Ripley", de Cavani |
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Tom Ripley nasceu bem cedo,
numa manhã nas areias de
Positano, na italiana Costa Amalfitana, ali mesmo onde, do mar,
Ulisses pediu que seus marinheiros o amarrassem ao mastro para
impedir que o canto das sereias o
fizesse se lançar às águas.
A texana Patricia Highsmith
(1921-1995) caminhava por ali
cuidando de sua própria vida, no
começo dos anos 50. Vinha de escrever um romance, "Pacto Sinistro", que daria origem a uma
obra-prima de Alfred Hitchcock.
De repente, cruza por um rapaz
andando sozinho, pensativo. Naquele momento, por nada, ela começa a imaginar o que o teria levado até ali e o que ele estaria fazendo por aquela região. Quando
voltou ao quarto do hotel, passou
a criar possibilidades de vida passada e futura para o estranho, que
nunca mais veria.
Surgia assim "O Talentoso Mr.
Ripley", pronto em poucos dias,
o primeiro de uma série de cinco
livros que daria a luz a um dos
anti-heróis mais adoráveis da literatura policial, que influenciaria do refinado canibal Hannibal
a variados Stephen King.
Tom Ripley, o rapaz americano
que (como seu antecessor brasileiro Macunaíma) não tem nenhum caráter, flerta com o assassinato em série, adora o luxo,
gosta de música erudita e artes e é
bissexual, logo ganharia o cinema.
A primeira adaptação é do livro
original e saiu da França, com
Alain Delon no papel principal e
René Clement na direção. "O Sol
por Testemunha" ("Plein Soleil",
1959) teve seu lugar no cinema
"sério" -François Truffaut dizia
que Clement fazia "cinema de papai"-, mas eliminou toda a tensão homossexual entre Ripley e o
amigo rico Dick.
A segunda veio da Alemanha,
com Wim Wenders. Seu "O Amigo Americano" ("Der Americanische Freund", 1977) encontra
um Ripley mais velho, frio e calculista, que se parece mais com a
cara de Dennis Hopper, que o interpreta, do que com a criação de
Highsmith, mas o filme é genial.
O mais famoso, não por acaso
dos EUA, é "O Talentoso Mr. Ripley" (1999), em que o chato Anthony Minghella procura homenagear o original cinematográfico em detrimento do romance, e
o resultado é um Ripley tíbio, inseguro de suas ações, que se encaixa perfeitamente em Matt Damon.
Eis que chega do mundo globalizado (EUA, Reino Unido, Itália), pelas mãos de Liliana Cavani
(de "O Porteiro da Noite"), uma
nova adaptação de "O Amigo
Americano", agora com o nome
original do romance, "Ripley's
Game" (O Jogo de Ripley), que
no Brasil ganha o título de "O Retorno do Talentoso Ripley" e estréia hoje.
Em uma palavra? Médio. Não
ajuda o fato de o papel-título ter
ficado com John Malkovich. O
ator desenvolveu uma persona
cinematográfica tão forte (uma
espécie de Jack Nicholson entediado) que agora só funciona em
autoparódias (como em "Quero
Ser John Malkovich").
Aqui, demora a convencer como o Ripley maduro, semiaposentado numa vila italiana (no livro era uma cidadezinha parisiense), que volta à ativa por insistência de um ex-sócio e para se
vingar de um pobre coitado, que
ele flagra o insultando.
Especialmente constrangedora
é a seqüência em que ele e o tal
coitado, agora já transformado
em assassino de aluguel, esperam
seus inimigos na vila. Aí, Ripley
vira Stallone...
O Retorno do Talentoso Ripley
Ripley's Game
Direção: Liliana Cavani
Produção: EUA/Reino Unido/Itália,
2004
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Paulista e circuito
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