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DVDS
"SHAKESPEARE POR LAURENCE OLIVIER"
Caixa preserva Laurence Olivier do esquecimento
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Intimista, com uma dinâmica que não se prende a limitações de tempo e espaço, o teatro
de Shakespeare sempre se prestou
a grandes adaptações para o cinema, seja por modernização -como a que fez de Leonardo DiCaprio um Romeu pós-moderno-,
seja por aproximações com outras tradições, como as versões japonesas de Akira Kurosawa.
A Continental lança uma caixa
de DVDs com quatro versões de
Laurence Olivier, um pioneiro
nesse campo. "Como Gostais", de
1936, dirigido por Paul Czinner,
traz o ator com 29 anos, despontando no cinema com um Orlando cheio de energia, impressionante pela técnica e despojamento, além da beleza física (já abusava de olhares perdidos). O filme,
no entanto, envelheceu bastante e
serve como um documento, um
aperitivo do que virá depois.
"Henrique 5º" (1944) foi a consagração de Olivier, que então já
assume a direção e a produção.
Segundo um princípio que terá
grande endosso nas décadas seguintes, a de que o teatro shakespeariano só funciona plenamente
no espaço físico no qual foi concebido, o filme parte de uma reconstituição do que seria uma apresentação em 1600 no Globe Theater para ir se despojando progressivamente das convenções teatrais, até se beneficiar plenamente
das possibilidades do cinema. É
visível o prazer de Olivier brincando de cabotino no início, para
depois, no famoso discurso ao
Exército inglês, falar direto ao coração de uma platéia que tinha
uma guerra a vencer.
Curiosamente, "Hamlet"
(1948), o filme mais prestigiado
na época, é o que soa menos convincente hoje. Apesar da ousada
direção de arte de Carmen Dillon,
que remete ao expressionismo de
Gordon Craig com suas escadarias e plataformas sobre o oceano,
Olivier erra não tanto por reduzir
a tragédia às desavenças de "um
homem que não podia tomar decisões", acentuando o complexo
de Édipo de Hamlet em detrimento das conotações políticas da peça, mas por concentrar todo o filme em sua atuação, ralentada por
excessivos closes e vozes "over".
Uma vaidade algo ridícula da
qual se redime brilhantemente
anos depois, em "Rei Lear"
(1984). Sem procurar mais provar
nada a ninguém, com uma direção discreta de Michael Elliott que
valoriza harmonicamente um
grande elenco, Olivier prova nesse canto de cisne o quanto deve
ser preservado do esquecimento.
Tarefa, aliás, que a Continental
cumpre apenas parcialmente.
Desdenhando os grandes recursos de interatividade que o DVD
possibilita, limita os bônus a textos curtos e sem assinatura, com
uma filmografia básica em um
formato pouco atrativo. O desleixe se prolonga em excessivos erros de digitação na legenda em
português. Espera-se que, nos
próximos lançamentos, a Continental valorize mais seu acervo.
Shakespeare por Laurence Olivier
Quanto: R$ 190, em média
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