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ANO DO BRASIL NA FRANÇA
Integrantes do grupo ensaiam samba com adolescentes de colégios e se apresentam hoje à noite
Alunos de Paris encontram Velha Guarda da Portela
KÊNYA ZANATTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
O samba mudou a rotina escolar de um grupo de 50 alunos da
periferia de Paris, que teve nesta
semana aulas de canto e de percussão com os integrantes da Velha Guarda da Portela.
O encontro entre os sambistas
cariocas e os adolescentes franceses faz parte do festival de jazz Banlieues Bleues, na região Seine-Saint-Denis, que fica ao norte da
capital.
O evento comemorou o Ano do
Brasil na França com shows de artistas como Yamandú Costa, Naná Vasconcellos, Vinícius Cantuária e Renata Rosa.
A Velha Guarda da Portela fará
hoje à noite o show de encerramento, que terá ainda apresentação do músico Tom Zé. Os alunos
serão convidados a subir ao palco
para acompanhar os veteranos
em três canções.
"O samba é uma música de partilha, de festa, por isso queríamos
que os jovens vivessem esse momento com os músicos", diz
Christel Deslis, coordenadora do
projeto, explicando que esta é a
primeira vez que os alunos dos
ateliês musicais promovidos pelo
festival participam de um dos espetáculos.
Ela acredita que o samba tem
muito a dizer a esses jovens da periferia de Paris: "Muitos deles são
de origem árabe ou africana e têm
uma história de imigração na família, o que os aproxima desses
músicos descendentes de escravos, que enfrentaram grandes dificuldades na vida".
Ensaios
Antes de encontrar os sambistas, os adolescentes ensaiaram
canções do repertório da Velha
Guarda sob a direção de uma cantora profissional por três meses.
A Folha acompanhou uma tarde de ensaios no colégio Robert
Doisneau, em Clichy-Sous-Bois.
No primeiro encontro, Monarco e
sua trupe, composta por Serginho
Procópio, Guaracy, Timbira,
Marquinhos e Casimiro, contaram um pouco da história do
samba. Sabrina, 15, resumiu a lição: "Antes era rejeitado. Hoje em
dia todo mundo gosta".
Reunidos em uma roda no pátio
do colégio, é hora de colocar em
prática o que aprenderam. Diante
da falta de balanço dos jovens, os
integrantes da Velha Guarda não
hesitaram em mostrar que samba
não é questão de idade.
Vestindo o tradicional figurino
branco e azul, que dava uma nota
alegre ao dia frio e cinzento, levantaram-se das cadeiras e começam a girar, tocando e brincando
com cada um. No começo foram
apenas risadinhas e requebros tímidos, mas aos poucos o círculo
bem-comportado se desmanchou numa algazarra de gente
dançando e cantando "Foi um
Rio que Passou em Minha Vida".
"Fiquei emocionado quando os
ouvi cantando o nosso samba na
ponta da língua. Eles têm um
pouco mais de dificuldade com o
ritmo, mas vão acabar aprendendo", comentou Monarco, enquanto distribuía encorajamentos e recomendações com a ajuda
de um intérprete.
A performance dos veteranos
da Portela entusiasmou os jovens:
"Tem um grupo que toca e outro
que responde, eles parecem felizes quando cantam e dançam entre eles. E a gente fica feliz quando
ouve", explicou Ilham, 12, tentando descrever o que tinha visto.
Sua colega Daloba, 14, concorda:
"Eu já tinha ouvido falar do samba, mas é melhor do que eu pensava. Os textos parecem poemas.
Tudo isso é genial, a gente não
tem muita oportunidade de ver
músicos como esses".
O violonista Guaracy saiu do
ensaio propondo aos organizadores gravar um CD da Velha Guarda com seus convidados franceses: "Estou encantado. Essas
crianças nos fazem lembrar a nossa infância".
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