São Paulo, sábado, 16 de abril de 2011

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Um artista no paredão

Prisão do maior criador chinês, Ai Weiwei, desperta protestos na comunidade artística

Wolfram Steinberg/Efe
Retrato do artista chinês colado numa rua em Berlim

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Preso já há duas semanas, o artista Ai Weiwei (pronuncia-se "ái ueiuei") é hoje a figura mais importante da China no cenário artístico global e crítico ácido de abusos de poder naquele país.
Autoridades chinesas afirmam que investigam o artista por sonegação fiscal, disseminação de pornografia e bigamia, e que Ai não é o herói que o Ocidente vê, e sim um "criminoso suspeito".
Mas essas declarações só acentuaram a forte onda de protestos na comunidade artística. Está marcada para amanhã, no mundo todo, uma manifestação em que artistas levarão cadeiras às portas das embaixadas chinesas para esperar sentados pela resolução do impasse.
Um manifesto lançado pelo Guggenheim, em Nova York, exigindo sua soltura, já tem mais de 82 mil assinaturas. Entre elas as dos diretores do MoMA, Glenn Lowry, da Tate, Nicholas Serota, e dos curadores Hans-Ulrich Obrist, da Serpentine, em Londres, e Agnaldo Farias, que levou uma obra de Ai à última Bienal de São Paulo.
"Isso é um escândalo", disse Farias à Folha. "Ele é uma figura primordial. Agora é um cabo de guerra; a grita internacional é enorme."
Aquele mesmo trabalho que estava no Ibirapuera, réplica em bronze de animais do zodíaco chinês (foto no alto), será montado em maio em Nova York, seguindo para Londres. Lá, a Tate exibe agora uma instalação com milhões de sementes de girassol feitas de porcelana.
Toda a obra do artista, aliás, adota essa postura iconoclasta, repudiando os atropelos na modernização da China, que tem massacrado seu patrimônio histórico.
Depois de viver mais de dez anos em Nova York, Ai voltou nos anos 90 para Pequim, onde despertou a ira do governo pintando a marca da Coca-Cola em vasos antigos. Também destruiu móveis e relíquias do país em atos de protesto contra a marcha modernizante e a exploração de trabalhadores.

1.001 CHINESES
Mas o artista ganhou mesmo a posição de astro global em 2007 com sua participação na Documenta de Kassel.
Lá, ele expôs 1.001 portas de casas das dinastias Ming e Qing, que recuperou de demolições. Levou 1.001 cadeiras antigas, para o que público se sentasse, e negociou para que 1.001 chineses vivessem na cidade alemã enquanto durasse a mostra.
No que muitos críticos viram como tentativa de cooptar sua fama, o governo chinês convocou o artista para colaborar no desenho do estádio olímpico de Pequim, a construção em forma de ninho de pássaro da firma suíça Herzog & De Meuron.
Mas, no ano da Olimpíada, um terremoto arrasou a cidade chinesa de Sichuan. Ai documentou o desastre, e os vídeos, que mostraram a inépcia do governo em reagir à tragédia, levaram a agressões da polícia ao artista e à destruição de seu ateliê. Ele teve uma hemorragia no cérebro e passou por cirurgia.
Desde então, Ai tem feito de sua vida pública uma espécie de performance em tempo real, o retrato vivo de um artista perseguido.


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