São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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CINEMA

Na edição atual, Glauber Rocha (1938-1981) dá o tom da participação brasileira, com mostras, homenagens e filhos

Cannes deve ter "Pavilhão Brasil" em 2005

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, traz hoje à direção do Festival de Cannes uma proposta de que a divisão de mercado do evento, em que são comercializados os filmes de diversos países do mundo todos os anos, tenha em 2005 o Brasil como tema, na programação do Ano do Brasil na França.
O pavilhão do mercado seria rebatizado de "Pavilhão Brasil". Na articulação do evento, Gil e o secretário do Audiovisual do ministério, Orlando Senna, devem se encontrar com o ministro da Cultura francês, Renaud Donnedieu de Vabres, e o presidente da emissora estatal TV5, Serge Adda.
Segundo a Folha apurou, a idéia encontrou boa receptividade do diretor artístico Thierry Frémaux e deve ser aprovada e anunciada na festa que os organizadores do festival e os distribuidores de filmes brasileiros fazem amanhã à noite, nas areias da Croisette, a avenida beira-mar do balneário.
Já na edição em andamento, o cinema brasileiro é o principal tema da mais nova seção do festival, criada neste ano e batizada de Cannes Classics. O cineasta Glauber Rocha (1938-1981) e o cinema novo, movimento do qual foi um dos mentores, são homenageados com a exibição de seis filmes, a partir da noite de hoje.
Começa com "Bye Bye Brasil" (1979), de Cacá Diegues, segue com "Vidas Secas" (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964), de Glauber, amanhã; "O Pagador de Promessas" (1962), de Anselmo Duarte, na quarta, e "Macunaíma" (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, e "Terra em Transe" (1967), de Glauber, na quinta-feira, com reprise de "Bye Bye" numa telona no meio da praia.
"Há 40 anos, "O Deus Negro e o Diabo Loiro" [como foi batizado na França a obra de Glauber] e "Vidas Secas" deixaram os espectadores do festival estupefatos", escreveu Thierry Frémaux no lançamento do Classics. Foi dele ainda a idéia de conceder uma gentileza extra aos cineastas brasileiros que começam a chegar.
Cacá Diegues e Nelson Pereira dos Santos desfilarão, respectivamente hoje e amanhã, no badalado tapete vermelho do Grand Théâtre Lumière, a maior sala, onde se enfileiram fotógrafos e cinegrafistas do mundo inteiro e acontecem as exibições oficiais dos títulos em competição, embora seus filmes sejam exibidos na sala Buñuel, menor e ao lado, para onde os brasileiros serão levados em seguida, por uma porta lateral.
Mesmo 22 anos depois de sua morte, o mais revolucionário dos cineastas brasileiros parece dar o tom da participação do país neste Festival de Cannes 2004. Para começar, além dos filmes do próprio, o diretor Silvio Tendler exibe "Glauber, o Filme, Labirinto do Brasil" na seção fora de competição reservada a documentários sobre a história do cinema.
Na competição, além de "Diários de Motocicleta", de Walter Salles, está o curta experimental "Quimera", de Eryk Rocha, filho de Glauber, que será mostrado aos jornalistas na sexta, numa sessão junto dos outros nove curtas da categoria. Mais: entre os títulos que vêm sendo exibidos para o mercado (obras como "Lisbela e o Prisioneiro", "Sexo, Amor e Traição" e "Nelson Freire", todos fora de competição), estão sessões especiais de "Rocha que Voa", do mesmo Eryk, e "Depois do Transe", este um documentário inédito de Joel Pizzini e Paloma Rocha, também filha de Glauber.
A obra foi feita para o DVD de "Terra em Transe", que deve sair em junho. São 40 minutos com o making of do clássico, cenas inéditas reunidas pela filha do cineasta e trechos de uma entrevista pouco vista que ele deu quando exilado em Roma, em 1975.


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