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61º Festival de Cannes
Crítica se divide sobre filme de Meirelles
Para o inglês "Guardian", "Ensaio Sobre a Cegueira" é "magistral'; o francês "Libération" considera o filme "decepcionante'
Baseado no livro de Saramago, filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles abriu anteontem
o 61º Festival de Cannes
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
O cineasta brasileiro Fernando Meirelles disse que se preparou "para a colisão" quando
seu novo filme, "Ensaio sobre a
Cegueira", foi convidado a abrir
o 61º Festival de Cannes, o que
ocorreu anteontem. O choque
que Meirelles aguardava não
tardou. Críticos de vários países reagiram ao longa "Ensaio
sobre a Cegueira" com opiniões
opostas e enfáticas, em textos
publicados ontem.
O crítico do jornal britânico
"The Guardian" Peter Bradshaw afirmou em seu texto que
"Ensaio sobre a Cegueira" é um
drama "com imagens soberbas,
alucinantes de colapso urbano.
Tem, em seu centro, uma verdadeira espiral de horror, ainda
assim, é iluminado com delicadeza e humor. É cinema corajoso, magistral".
No diário norte-americano
"Los Angeles Times", Kenneth
Turan também aprovou o filme. "Na verdade, só um diretor
com a particular combinação
de talentos de Meirelles poderia ter levado com êxito à tela a
mistura de desespero e esperança do livro [homônimo de
José Saramago]", escreveu.
A revista "Hollywood Reporter", embora faça ressalvas a aspectos do filme, em resenha assinada pelo crítico Kirk Honeycutt, diz que "na adaptação do
livro de Saramago para a tela, o
diretor brasileiro teve um extraordinário plano visual e consideráveis desafios cinematográficos a vencer. Portanto, há
muita coisa aqui [no filme] para
acelerar a pulsação e envolver a
mente". Honeycutt conclui que
""Ensaio sobre a Cegueira" é cinema provocador, mas também previsível: choca, mas não
surpreende".
Sentimentalismo
Entre os que rechaçaram
"Ensaio sobre a Cegueira" está
a revista inglesa "Screen". Avaliando o filme como regular,
Fionnuala Halligan diz que
"Meirelles parece lutar para
encontrar um tom, e "Ensaio
sobre a Cegueira" fatalmente
perde tensão antes da escalada
para um bizarro sentimentalismo no ato final".
Ao criticar o filme na publicação americana "Variety",
Justin Chang viu "impacto minimizado e excesso estilístico"
no retrato do "caos pessoal e
coletivo que resultaria se a humanidade perdesse o sentido
da visão" e avaliou que o filme
"raramente atinge a força visceral da prosa de Saramago".
Dominique Borde, do diário
francês "Le Figaro", diz que o
filme "prometia uma reflexão
antes de se estragar numa metáfora de autodestruição".
O diário francês "Libération"
classificou "Ensaio sobre a Cegueira" como "decepcionante"
e publicou uma dura crítica, de
Olivier Séguret, ao filme.
"O charme teórico da ambição anunciada nos primeiros
minutos de "Ensaio sobre a Cegueira" se volta rapidamente
contra o filme, como se Meirelles só tivesse colocado o bastão
tão alto para estar certo de que
passaria por baixo dele", afirma
o texto.
Na introdução de sua cobertura do primeiro dia do festival,
o "Libération" observa que "a
maioria dos produtores e cineastas não gostam nada da situação de abrir o festival".
O incômodo, segue o texto, é
com "a primeira projeção para
a imprensa, julgada de alto risco. Os jornalistas chegam à
Croisette com a faca entre os
dentes e o filme de abertura é o
alvo dessa agressividade".
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