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Crítica/série
Falta apuro e acabamento no humor de "Toma Lá Dá Cá"
Segunda ano da série chega ao DVD; comédia esbarra em falta de trama e direção desleixada
HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA FOLHA
O Brasil tem uma indústria do entretenimento
competitiva? Temos
um mercado? Ou o que nos
chegam são subprodutos de um
monopólio? Embatuco essas
perguntas para assistir, com
distorcidos olhos de palhaço, à
série "Toma Lá Dá Cá", lançada
em DVD pela Globo Marcas.
Em sólida parceria com Maria Carmem Barbosa, o autor e
comediante Miguel Falabella
retoma, com habilidade, todos
os recursos da comédia popular, em que o roteiro é pretexto
para que os comediantes criem
as mais abusadas maneiras de
arrancar gargalhadas.
Trash como um Zé do Caixão
e ingênuo como um Didi Mocó,
seu humor não prima pelo acabamento cênico. A força de seu
Caco Antibes, de "Sai de Baixo",
fez uma marolinha midiática
que tomou o personagem pelo
ator. Ficou carimbado de golpista. Ao contrário de Caco, Falabella é generoso, agrega um
elenco talentoso.
Infelizmente, esse elenco
deixa o paletó na cadeira e fica
esperando a hora de surfar sobre sua já reconhecida imagem.
Exceções à regra, Arlete Salles
aposta fundo na composição de
sua fogosa Copélia e se destaca,
hilária. Alessandra Maestrini
cria um tipo cômico único, que
já se firmou no imaginário brasileiro. Pena que são pouco exploradas pelos roteiristas.
"Toma Lá Dá Cá", sem tramas, se apoia no humor dos comentários. Na boca do autor
são pérolas, porém na dos mais
jovens saem quadrados. Os casais trocados, por ausência de
história, deixam de protagonizar e abrem espaço para o desfile de tipos engraçados, mas
ineficientes para sustentar
uma comédia de situação.
Na falta de situações, a série
extrapola sua própria fábula a
cada roteiro. Nos apartamentos, inventa contextos artificiais, pretextos de novos comentários, mas que não se encaixam no conflito das cenas.
Essa renovada família trapo
sofre da falta de desenho cênico, por uma direção desleixada.
A claque contratada subtrai a
espontaneidade das improvisações. Tudo resvala no talento
que gera expectativa e acaba na
falta de acabamento. Lembrando que esse é o comentário de
um comediante não tão famoso, sujeito às mesmas críticas,
mas que gostaria de ver o humor tratado com apuro.
Isso não significa que não seja divertido. Popular, deve ser
visto sem preconceitos. Livre-se deles e divirta-se.
A boa e velha Vênus Platinada, no tempo em que era chamada assim, inventou o "padrão Globo de qualidade", que
hoje está mais para padrão de
apelo a audiência global. Seus
executivos deveriam rever os
valores do passado, quando o
investimento em obras bem
acabadas resultou na construção da maior emissora do país.
A tentação do resultado econômico imediato é grande, ainda
mais em tempos de crise e pirataria generalizada.
HUGO POSSOLO , 46, é palhaço, dramaturgo e
diretor do grupo Parlapatões e do Circo Roda
Brasil.
TOMA LÁ DÁ CÁ - 2ª ANO
Direção: Cininha de Paula e Mauro
Mendonça Filho
Distribuição: Globo Marcas, Som Livre
Quanto: R$ 39,90, em média; 14 anos
Avaliação: regular
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