|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Comentário
"Globo Mar" introduz tema com respeito
AMYR KLINK
ESPECIAL PARA A FOLHA
Neófito e desinteressado espectador de estreias televisivas,
cheguei -bem impressionado- ao final dos quatro primeiros episódios de "Globo Mar"
(quintas, às 23h45; classificação não informada).
Para começar, foi boa escolha
a de Mariana Ferrão e Ernesto
Paglia como apresentadores.
Para um tema tão vasto e rico, tão singrado de especialistas, uma boa dose de humildade
e respeito da parte de quem o
introduz fez muito bem -como
também fez o bom humor,
sem excessos.
A ideia de convidados especiais, conhecidos do público,
creio, é desnecessária. São justamente os desconhecidos autênticos que tornam interessante a vida no mar.
Péssima escolha foi o horário. Tarde como se houvesse
medo de incomodar a audiência, desperta e crítica. Cedo demais para noctívagos profissionais ou navegadores insones.
Serviu para testar o público
que, ao que parece, foi bom.
Os temas cotidianos, escondidos do dia-a-dia de quem fica
em terra, ajudarão a série.
E também a nossa curiosidade pelo meio imprevisível, pelo
que não conhecemos, pelo ganha-pão arriscado ou por tudo
que sabemos que não faríamos.
Tentativas passadas de falar
das coisas do mar, na televisão,
falharam.
Talvez porque nasceram empanturradas de adjetivos e exageros... tubarões assassinos,
ondas descomunais -essas expressões do jornalismo que, no
mar, não existem.
Talvez porque omitiram coisas simples e grandes de gente
que não tem plateia e que, para
continuar viva, não pode errar.
Falharam por tentar dramatizar o que é apenas difícil, vício
incorrigível da nossa TV.
O assunto mar, por esse nosso lado do Atlântico, é particularmente ilustrado.
A nossa história não americana, as cores da nossa pele , a
diversidade de tipos de embarcações, a jangada de Piúba, um
Zé Peixe usando em alto mar o
corpo de 80 anos... há muito do
que falar, e pautas não faltarão.
Os oceanos doces e os sólidos. Ou clima, indústria, moda,
soberania, técnica, migração,
música, fome, sede, guerra.
Quase tudo pode ser puro assunto de mar.
O duro, como se viu, vai ser
captar as cenas. Continuidade,
que até uma película como "Titanic" não conseguiu; assistentes e jornalistas encharcados;
atrasos e vendavais. Esses são
alguns dos desafios, e é boa a
ideia de não os esconder.
Competência e meios para
espalhar uma série consistente
-quem dera uma sucessora da
lendária "Thalassa" francesa-
os atuais envolvidos têm. E audiência não faltará. Que não falte o engenho nem a arte.
AMYR KLINK é navegador, economista e autor
de "Linha-d'Água", entre outros livros.
Texto Anterior: Crítica/DVD/"Os Piratas do Rock": Longa emociona em tributo às rádios piratas Próximo Texto: Novelas da semana Índice
|