São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 2011

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CRÍTICA TEATRO EXPERIMENTAL NOS ESTADOS UNIDOS

Bob Wilson está entre os destaques da cena

Inverno teve performances de jovens autores coordenadas pelo dramaturgo e encenadas no Guggenheim


WOOSTER GROUP FEZ MONTAGEM PRECISA DO TEXTO DE TENNESSEE WILLIAMS


LUIZ FERNANDO RAMOS
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

A tradição da ruptura. Uma montagem do lendário Wooster Group a partir do último texto de Tennessee Williams (1911-1983) e performances curadas por Bob Wilson no museu Guggenheim foram destaques da cena experimental na temporada de inverno em Nova York.
"Vieux Carré" (bairro velho) estreou em 1977 e foi um fracasso, à época. Incluída nas peças de memória de Williams, remonta à sua juventude, no início dos anos 1930, quando viveu em um bordel em Nova Orleans e sofreu as dores e delícias de se reconhecer homossexual.
A encenação de Elisabeth LeCompte, diretora do Wooster Group desde sua criação, em 1985, é radicalmente anti-naturalista. O grupo, cujo nome remete a rua onde se situa seu espaço, sempre operou textos dramáticos convencionais com os princípios da performance, incorporando memórias e pulsões dos atores no processo.
Esses procedimentos transfiguram a dramaturgia de Williams, deslocando o tom nostálgico e grave que o autor deu a esse acerto de contas com seu passado para um registro farsesco. Ari Fliakos, no papel do escritor, aparece em cenas de vídeo de sexo explícito, enquanto Scott Sheperd, o velho que o assedia, porta todo o tempo um consolo de borracha, como se vivesse em permanente ereção.
Os elementos erótico-satíricos são pontuados por câmeras ao vivo e material pré-gravado, mas o mais fascinante é o rigor e a precisão espetacular, revelados como pérolas em meio ao aparente caos e despojamento do espaço cênico.
"Watermill Quintet" foi uma série de performances que Bob Wilson curou a partir da produção de jovens artistas residentes em seu centro de criação em Water Mill (Nova York), apresentadas numa única noite de março no museu Guggenheim.
As quatro encenações intercaladas por vídeos de Jason Akira Somma tiveram em comum a luz de Wilson e a música de Michael Galasso, um colaborador antigo e recém-morto. O resultado geral mostrou que, em pelo menos três delas, ainda que Wilson na preleção negasse qualquer influência sobre os artistas, inspiravam-se fortemente em seu trabalho.
A exceção ficou para Andrew Ondrejcak, encenador americano que apresentou "Veneration" (veneração). Correndo em uma esteira em frente a um vidro, visto pelo público e só vendo a si mesmo, ele chega a exaustão. Sua respiração amplificada torna a experiência um dramático encontro com os limites humanos. Na simplicidade da solução, um autor em busca de sua própria forma de transgredir o cânone.


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