São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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Estilistas buscam driblar crise com investimentos em temas inusitados para a estação

Verão 2005 aposta na criação


Foto Eduardo Knapp/Folha Imagem; Produção
Letícia Toniazzo; Beleza Rogerio Santana (Molinos & Trein)

Na ávore estão Lilian Queiroz (Elite) de biquini Rosa Chá, e Mariana Hansen (IMG) de look Zapping; em pé, Rojane (Elite) veste maiô Água de Côco; à frente, da esquerda para direita: Bruna Del Bortoli (Marilyn) com maiô Cia. Marítima; Ingrid Villas - Boas (Elite) veste look Cavalera; Tuane (Marilyn) de camisola Alexandre Herchcovitch; Aline Tielke (Marilyn) veste regata e calça Reinaldo Lourenço; Jéssica Pauletto (IMG) veste Fause Haten; Marília Krakek (IMG) veste Lorenzo Merlino



Temporada de lançamentos começa hoje com a São Paulo Fashion Week, que terá 47 desfiles até terça


ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Anos 70, otimismo, cores, mix de estampas, romance, sensualidade, escapismo, universo infantil e delírio. São esses os principais temas da moda na temporada de lançamentos de primavera-verão 2004/2005 que começa hoje na Fundação Bienal, com as 47 marcas participantes da 18ª edição da São Paulo Fashion Week.
Espera-se reunir um público de convidados que atinja entre 12 mil e 15 mil para cada um dos sete dias do evento, o maior realizado na América Latina.
Entram novas marcas no line-up: Raia de Goeye, Isabela Capeto e Carlos Tuvfesson, migrando do Fashion Rio, mais a masculina VR e a espanhola Custo Barcelona. Sob o guarda-chuva da Ellus, dentro do projeto experimental Second Floor, um elenco de jovens estilistas apresenta seu trabalho.
A crise do varejo de moda e a diminuição dos patrocínios que se evidenciam nessa estação impõem mudanças. Para começar, o evento acontece cerca de 15 dias mais cedo, visando ajustar os prazos da cadeia têxtil (apressando fiações, tecelagens e grifes).
Ficam de fora dessa vez três marcas (Mareu Nietschke, Rodrigo Fraga e Carlota Joakina), enquanto Caio Gobbi decide fazer apenas uma exposição. Ellus e Fause Haten, que antes apresentavam seu masculino em desfiles separados, desta vez mostram junto com o feminino.
A Forum deixa de desfilar masculino e mostra só feminino. Ainda como tendências impostas pela vida real, a ênfase no badalado jeanswear brasileiro e desfiles mais curtos, com menos roupas.
"Dessa vez existe o desejo de uma coisa menor. São 50 looks. Nunca fiz isso antes", confirma Thais Losso, da Zapping, que desfila sábado. "Mas esse desfile é pura fofice", adianta a estilista, sempre um dos nomes mais esperados do evento.
O nome da coleção é "Made in", por causa dos cacarecos que a jovem criadora tinha na infância e adolescência: "Tudo era made in China, made in Hong Kong. Agora faço um olhar ocidental sobre o Oriente", diz. E como a China estava muito longe (e cara), Thais focou seu olhar na trecaiada daqui mesmo, na 25 de Março e no Saara, no Rio.
Inusitado? Espere então até ver, hoje às 17h30, a latinidade louca da Cavalera e as bonecas russas de Alexandre Herchcovitch, às 16h (Hello Kitty incluída). O criador vai misturar flores com estampa de tapetes do Oriente Médio, vermelho com amarelo, turquesa com verde. "Mas o que vai vir forte mesmo no verão é a leveza", explica ele.
Mais absurdos: Marcelo Sommer divide seu desfile em blocos, como a Festa dos Mortos mexicana. "Fiz esqueletinhos nas cores do arco-íris, que também aparecem na coleção toda. É um desfile bem otimista, menos retrô e quase futurista", diz o estilista, que acaba de vender sua marca para o grupo de moda AMC (que é dono da Colcci e da malharia Menegotti), mantendo-se como diretor criativo.
Como hype do desfile, a presença da garça inglesa Erin O'Connor, que deverá se destacar nessa temporada em que Gisele não vem (sem ninguém para pagar seus cachês, um punhado de tops brasileiras importantes também decidiu pular esse verão).
A coleção de Maxime Perelmuter para sua British Colony (sábado) serve para ilustrar bem o desejo de driblar a crise. "Inconscientemente existe um desejo de fugir dessa realidade, que não está fácil. Estou dando tudo de mim, como se fosse a última vez que estivesse fazendo isso", diz o estilista carioca de moda masculina. "Essa é a minha coleção mais rica em elementos. Trabalho com muitas cores e brilhos. Misturo o lado lisérgico, rock'n'roll burguês com ar tropical e estilo pescador."
As peças trazem estamparia feita com técnica "air brush". "É de pintar pranchas", afirma Maxime -que também é surfista. "Os motivos são bem anos 70, com aquelas paisagens de ondas com planetas esquisitos no céu." A peça-chave é o cáftan, em suas variações canguru e esportiva, com zíperes e patchwork.
Passado versus presente. A tendência aparece na moda de Lorenzo Merlino, que vem crescendo a cada temporada. "Vivemos uma época de cruzadas modernas, achei que a gente poderia usar esses elementos na coleção. Queremos passar no styling uma confraternização de religiões", conta Marcelo Barbosa, que agora assina a criação com Merlino.
A marca se mantém fiel a seu estilo inteligente, com muita informação de moda. O sexy da hora aparece, mas é "cerebral e sofisticado". Os estilistas apostam no colete e no short como itens mais fortes, reforçando uma das características da estação: a ênfase nas peças em si -e menos nos temas-, o que já começou a aparecer nos últimos desfiles do hemisfério Norte.
O estilo sexy brasileiro continua revelando o corpo, principalmente na moda praia, claro. Amir Slama, que no último verão trouxe ao mundo os polêmicos maiôs com "cofrinhos" em evidência, quer agora "muita pele à mostra". "É um desfile abusado, em que exploramos uma temática utópica, com referência nos anos 70 e 80", diz.
Mais vestidos, ainda que perto do mar, Ricardo Almeida vai em busca de um homem mais elaborado. Almeida tem como ícone o ator Marcello Antony, que participa do desfile de hoje. A inspiração vem da Riviera Francesa -também na década de 70. "Era uma região muito bem freqüentada por um homem refinado, educado, elegante, com dinheiro, vindo de todas as partes do mundo", define o estilista.
A fiel clientela de Ricardo Almeida pode se preparar para usar calça com a boca mais larga. "É uma semiboca-de-sino", explica o estilista.
Também na vertente 70 segue a Raia de Goeye, de Fernanda de Goeye e Paula Raia, que veste as garotas mais descoladas de São Paulo. A dupla estréia na segunda com um curto desfile (40 looks) num casarão antigo. "Prefiro mostrar menos, mas garantir", diz Paula, sem querer definindo a saudável fórmula para esse verão da crise.

Colaboraram Jackson Araujo e Camila Yahn, free-lances para a Folha


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