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Crítica/romance
V.S. Naipul evita assumir riscos em obra conformista e regular
Escrito em 2004, romance "Sementes Mágicas" ganha tradução para o português
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Sementes Mágicas",
romance de V.S. Naipaul de 2004 agora
traduzido para o português,
tem dois momentos bem diferentes. No primeiro, o indiano
Willie Chandran deixa Berlim,
onde vivia uma existência deslocada e apática e volta para seu
país, para se tornar um guerrilheiro. Ao leitor, cabe acompanhar essa jornada que, a despeito de suas causas coletivas, resulta nula em termos político-sociais e importante do ponto
de vista de pessoal. O personagem consegue descobrir quem
ele não era.
O processo é duro e não isento do sofrimento ("Já não tem a
mesma lucidez de antes, e não
há nada mais frágil que um revolucionário cuja lucidez dá sinais de esgotamento") e culpa
("não devia jamais ter me permitido acreditar que só havia
um lado nessa guerra"). A narração, distanciada e econômica,
condiz com o projeto formativo
do indiano, que inicia seu percurso em estado de absoluta
passividade.
No segundo momento, Willie, valendo-se da sua condição
de escritor por conta de um livro que lançara na juventude,
consegue, com a ajuda da irmã,
o apoio de um advogado inglês
e vai para a Inglaterra. A primeira parte abrange anos de
sua vida, já a segunda é bem
mais curta, reduz-se a semanas.
O engajamento e a luta política
dão lugar a conflitos mais íntimos, a relações humanas conturbadas, a dificuldades de lidar com os outros, ao desejo incontornável de sexo.
"Dei parte da minha vida e
não redundou em nada. Não
posso voltar para lá. Preciso
deixar morrer essa parte de
mim (...). Preciso compreender
que grandes países progridem
ou retrocedem de acordo com a
ação de forças internas que estão fora do controle dos homens. A partir de agora devo
tentar ser apenas eu mesmo."
Romance regular
Se os dois momentos de "Sementes Mágicas" tivessem sido
escritos, respectivamente, por
J.M. Coetzee e Ian McEwan,
por exemplo, teríamos possivelmente dois romances estupendos. Com Naipaul, a tensão
latente nas duas situações parece sempre formulada de modo a diminuir os riscos: fica no
ar permanentemente uma boa
dose de conformismo, que
transcende as implicações do
enredo e ao mesmo tempo as
contamina. Lê-se um romance
regular -repleto de inúmeras
questões a serem problematizadas- com a impressão constante de que ele poderia ser melhor.
Para quem se interessar pelo
passado do personagem, Willie
Chandran já fora o protagonista de "Meia Vida", primeira
obra publicada pelo autor depois de receber o Prêmio Nobel
de Literatura em 2001.
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura
da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
USP.
SEMENTES MÁGICAS
Autor: V. S. Naipaul
Tradução: Alexandre Hubner
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 45 (264 págs.)
Avaliação: regular
NA INTERNET - Leia trecho
www.folha.com.br/071661
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