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CRÍTICA DRAMA
Grupo enfrenta tabus com inventividade
Em novo espetáculo, os Satyros abordam a sexualidade com elenco que inclui transexuais e atores amadores
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Um teatro para além do
teatro, expandido aos nervos
pulsantes da cidade. É com
esse desejo ambicioso que os
Satyros encenam "Hipóteses
para o Amor e a Verdade".
Se a encenação não chega
a realizá-lo, areja as referências e redefine os vetores do
projeto artístico do grupo.
No ano em que celebram
uma década na praça Roosevelt, seus criadores, Ivam Cabral e Rodolfo García Vásquez, dão voz aos seus habitantes mais estigmatizados e
partem de entrevistas feitas
com travestis e prostitutas
para investigar as relações
afetivas e eróticas.
É um terreno difícil de trilhar, pois minado de clichês,
mas que eles percorrem costurando uma dramaturgia
cênica inventiva.
O denominador comum
das várias personagens que
se apresentam é a solidão.
Nesse sentido, é natural
que a profusa variedade de
relacionamentos hoje praticados na internet e por meios
virtuais sirva como pano de
fundo para as histórias que
vão se desenrolando fragmentariamente.
HISTÓRIAS REAIS
O mais interessante na encenação, contudo, não são as
tentativas de provocar imprevistos em um jogo aberto
com os telefones celulares
dos espectadores.
Mobiliza, sim, a narração
de histórias reais, reverberadas pela atuação de um grupo de atores e não atores.
De fato, três dos oito integrantes do elenco são transexuais com experiências distintas com o teatro e um deles, Leo Moreira, traz sua própria história, aproximando o
espetáculo da situação da
performance em que a autenticidade do vivido aparece
sem mediação, como um
"ready made" entregue à
apreciação do público.
A contra face desse caráter
documentário revela-se na
interpretação inspirada do
ator Tiago Leal, que encarna
o intrigante depoimento de
um homem apaziguado com
sua predileção por travestis.
Esse tema tabu no universo masculino é esmiuçado
com base em uma fala colhida nas ruas, mas vivificada
na cena.
Também se destaca a personagem da prostituta, criada pela não atriz Luiza Gottschalk, cuja experiência como
apresentadora de TV de programas adolescentes valoriza seu desempenho.
Claramente os Satyros, que cravaram sua marca com
a pena do Marquês de Sade,
ampliam agora a discussão
sobre a sexualidade e as relações humanas nos tempos
que correm.
Talvez as intenções estejam consumadas mais nos
discursos do que na cena.
Porém a liberdade com
que o grupo enfrenta o desafio, despreocupados de qualquer convenção ou fórmula
pronta, acaba confirmando
se tratar de uma obra vital e
honesta, que merece atenção
e reconhecimento.
HIPÓTESES PARA O AMOR E
A VERDADE
QUANDO sex. a dom., às 21h30;
por tempo indeterminado
ONDE Espaço dos Satyros 1 (pça.
Roosevelt, 214, Consolação, tel.
0/xx/11/2358-6345)
QUANTO R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO bom
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