São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2011 |
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OPINIÃO HQ Provocador, Alain Voss seguiu seu próprio traço LIBERO MALAVOGLIA JR. ESPECIAL PARA A FOLHA No último dia 13 de maio, morreu em Lisboa, vítima de complicações decorrentes de um AVC (acidente vascular cerebral), o artista Alain Voss, meu mestre na arte de desenhar. Conheci-o na década de 1980, uma lenda da HQ, jaqueta preta, barba ruiva, generoso e aberto pra papear. Começamos a perambular atrás de risadas e trabalho. Viramos amigos. Era filho e neto de ilustradores. Seu pai foi enviado para a Rússia. Sua mãe fez então uma viagem de bicicleta até o front pra encontrar o marido. Ele nasceu em 1946, na França. Roqueiro, iconoclasta, veio para cá criança. Nas férias, acampava no litoral. Às vezes o pai o deixava lá sozinho, em alguma praia. Não sei se foi aí que nasceu sua paixão pela caça submarina. Os irmãos Ricardo e Ju Corte Real o conheceram na adolescência. Contam de uma pintura gigante feita por eles, uma mulher linda, psicodélica, que reagia à luz negra. Depois disso vieram as capas dos discos dos Mutantes, a Europa, a "Metal Hurlant", onde conheceu Moebius, Dionnet, Jano... Suas histórias traziam uma crítica ácida, a inconformidade diante do sistema. Eram sarcásticas, sensuais, acima do bem e do mal. Mais do que desenhar para fãs, queria viver suas aventuras. Morou em uma praia deserta na Bahia conversando só com pássaros e macacos. Era provocador, mexia com as pessoas. Era irritante e estimulante vê-lo desenhar. Ele simplesmente não errava! Acho que nada superou seu amor pelo desenho. Nessa época começou a se entregar a uma linguagem mais inconsciente, deixando-se levar pelo traço. Com ele aprendi que o traço de um desenhista é como o timbre de um cantor. Desejou um lugar menos violento e se mudou para Portugal, onde passou os últimos 20 anos. Lá, trabalhou para propaganda, mas também se divertiu pintando e fazendo suas miniaturas, réplicas perfeitas de carros e motos antigos. Sempre o incentivei a voltar ao Brasil. Ele veio por um tempo, mas teve que voltar para Portugal. Sua saúde se complicou e já não podia desenhar como antes. Quem era? Um artista. Era provocador, mas o amávamos. Gostava de fazer miniaturas, de caçar o peixe que ia almoçar e, acima de tudo, de seguir seu próprio traço. LIBERO MALAVOGLIA JR. é ilustrador e quadrinista. Texto Anterior: A música Próximo Texto: Teatro: MinC estuda viabilidade de acordo sobre Oficina Índice | Comunicar Erros |
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