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HQ
Criador da personagem Mafalda diz que Argentina de Kirchner tem "obrigação de ser otimista"
Universo de Quino envelhece com graça
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Há quase dez anos, quando publicou pela primeira vez "Não Fui
Eu!", na Argentina, Quino se
mostrava preocupado com os
destinos da mão-de-obra em um
novo mundo dito neoliberal.
Hoje, quando o livro chega ao
Brasil editado pela Martins Fontes
e a Argentina vive novos tempos
com a vitória de Néstor Kirchner
nas eleições, as rugas de preocupação com o futuro de sua profissão milagrosamente sumiram:
"Vou mesmo morrer antes que isso aconteça, não estou nem aí!",
diverte-se o desenhista argentino
de 70 anos, que esteve no país no
último final de semana para participar do Mundo dos Quadrinhos,
no Senac, e recebeu a Folha para
uma conversa sobre cartunismo,
política e... "você não vai perguntar "o que a Mafalda diria hoje da
situação mundial?", vai?".
Não, claro que não. Preferimos
que o próprio Quino, que parou
de desenhar as tiras de sua personagem mais famosa, a pequena
Mafalda, em 1973, e desde então
não quer mais tocar no assunto,
comente: "O poder econômico
superou o poder político. E ninguém tem vergonha de que as
multinacionais tenham mais força do que os políticos".
Filho de imigrantes espanhóis,
Quino começou a desenhar aos
três anos. Das tirinhas da revista
"Pif-Paf" para discussões sobre o
fascismo europeu foi um pulo: "a
politização veio desde pequeno",
diz. "Mas nunca me afiliei a um
partido. Tudo o que penso sobre
política digo na minha página."
De fato. Embora tenha ficado
mais conhecido pelas tirinhas de
"Mafalda", Quino sempre se deu
melhor com os cartuns concisos e
as charges que publica desde o final da década de 50 na imprensa
argentina. Além de "Não Fui Eu!",
outras duas coletâneas de charges, "Potentes, Prepotentes e Impotentes" e "Que Gente Má!", ganham, enfim, versão brasileira.
Quino esteve pela primeira vez
no Brasil nos anos 60 e não descarta a importância do intercâmbio com os brasileiros em sua
obra. "Ziraldo, Millôr, toda a turma do "Pasquim" sempre foi muito importante para a América Latina, especialmente a Argentina."
Com uma diferença: "No Brasil,
esse pessoal sofria uma censura
mais oficial. Lá, não se sabia o que
podia ou não falar, era o secretário de Redação quem dizia o que e
quando podíamos publicar".
Os tempos são outros, e os argentinos não se sentem mais tão
impotentes quanto outrora -
"[Com a derrota de Menem] As
pessoas estão se voltando para a
cultura e seguindo com bastante
interesse a política. Como vocês
com o Lula, nós também temos a
obrigação de sermos otimistas"-, e uma única pergunta insiste em não querer calar: e a Mafalda, Quino, volta?
"Não vale a pena repetir uma
coisa em outra época, com outra
idade e uma visão de mundo muito distinta. Não conheço mais as
crianças como antes, quando tinha cinco sobrinhos na idade de
Mafalda. Pensei dois anos antes
de parar e achei que, se terminasse, terminaria. Nunca imaginei
que 30 anos depois ela ainda estaria vendendo." E como.
POTENTES, PREPOTENTES E
IMPOTENTES; NÃO FUI EU!; QUE
GENTE MÁ!. Autor: Quino. Editora:
Martins Fontes. Quanto: R$ 34,50 cada.
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