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POP/ANTIPOP
Músicos se dividem entre diversas bandas, que expõem conflitos com o uso de palavra, língua e artifícios pop
Coletivos e rodízios proliferam em SP
DA REPORTAGEM LOCAL
A turma da Vila Mariana centraliza atenções hoje em torno da
Reco-Head e do impacto causado
pelo Jumbo Elektro em quem já
assistiu a algum de seus shows. Mas não é a primeira
nem a única turma a se organizar
em São Paulo em torno de preceitos de mão na massa, desprezo à
indústria e relação de conflito
com o estrelato pop.
O coletivo mais célebre, até
aqui, é o Instituto, centralizado
em eletrônica, hip hop e black
music. Ativo desde pelo menos
1989, existe também Adriano Cintra, 30, roqueiro inveterado que
atualmente trabalha em seis grupos ao mesmo tempo.
Sua banda "principal" é Thee
Butchers" Orchestra, de punk
rock acelerado, mas ele também
mobiliza as femininas e feministas Cansei de Ser Sexy e Verafisher, o Ultrasom, o Loveboxx Music e o Mango Kid (onde escoa tudo que faz sozinho, sem bandas).
Adriano diverge da trupe Reco-Head porque, afora o caso dos
Butchers, desistiu de gravar CDs.
"Tenho preguiça, dá muito trabalho. O disco do Ultrasom está parado na [gravadora independente] Bizarre há três anos, quando
sair vou estar de saco cheio de tocar aquelas músicas", diz.
Seu escoadouro é o braço cibernético da gravadora Trama
(www.tramavirtual.com.br), onde se encontram faixas avulsas de
todos os seus projetos. Segundo
ele, não lhe rende um centavo direto, mas divulga as bandas e aumenta a rotina de shows.
A internet é ponto de convergência também para os Reco-Head. A gravadora tem site próprio (www.recohead.com.br), assim como algumas de suas bandas principais.
Atrasado nesse quesito, o
www.jumboelektro.com.br só
disponibiliza um MP3 antigo de
"Freak Cat", que dá idéia vaga da
salada pop do grupo, que acasala
Devo, The B-52's, Tom Zé, Mutantes, Serge Gainsbourg (um dos
integrantes da banda, o nipobrasileiro Dudu Tsuda -ou Dimas
Turbo-, já foi florista em Paris)
etc. etc. etc.
Pop, linguagem
Um traço comum a integrantes
diversos da cena paulistana atual
é certa briga com as palavras, com
o líder de cena como a indústria
sedimentou nas últimas décadas.
Adriano Cintra só há pouco começou a intercalar o português
com o inglês de hábito. "Hoje desencanei, mas tinha insegurança e
vergonha do que fazia em português. Sinto-me exposto, é como
ficar pelado", diz Cintra, intérprete de grandes recursos vocais que
costuma ficar sem voz porque grita demais nos shows da Butchers"
Orchestra.
Arthur Joly, que cantava em sua
primeira banda, se auto-ironiza:
"Havia uma ala do grupo, na qual
eu me incluía, que era contra eu
cantar". Joly, Setti e Guab assumem o medo/timidez/sofrimento
no palco. "Aqui em São Paulo é
uma tensão, o público analisa e
critica demais", diz Joly, abordando as crises de crítica e autocrítica
da maior cidade do país.
Tatá Aeroplano canta em "embromation" ou em português
pouco legível. Daniel Setti (ou Lê
Cheval, no Jumbo Elektro) define-o: "Ele é uma pessoa no Cérebro, outra no Jumbo, nem a voz é
a mesma. A gente não tem cantor,
mas Tatá é a voz".
Um dos truques pop/antipop
do Jumbo Elektro é pedir vaias ao
final, em vez de aplausos; a hora
da vaia já virou uma das marcas
registradas da relação de malucos
entre o grupo e seus fãs escassos,
mas cada vez mais numerosos.
"O Jumbo é uma banda de sinais trocados", filosofa Guab. "É
assim que tem que ser, tem tanto
picareta por aí se fazendo de sério", atalha Marcelo Ozorio, que
adota ali o pseudônimo de Otto
van der Vander, "primo de Otto e
filho de Wander Wildner".
Há mais pontos de confluência
na diversidade. Apesar de ainda
serem antipop, vários dos nomes
que você escutou aqui vêm de escolas de publicidade -casos de
Joly, Tatá Aeroplano e Cintra.
Vários se agruparam à época da
faculdade. Autor de frases curtas e
precisas, Guab (que também é
jornalista, como Daniel Setti) sintetiza as novas cenas: "É a estética
da amizade".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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