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CINEMA/ESTRÉIAS
Vin Diesel vira herói solitário em ficção científica de tons shakespearianos
Caubói duela em western sombrio
THIAGO STIVALETTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Não é muito comum, mas
acontece uma ou duas vezes
por ano estrear um filme de
ação com profundidade suficiente para limar os preconceitos que
recaem sobre o gênero. Ninguém
há de botar muita fé em Vin Diesel depois que ele se tornou sinônimo de filmes descerebrados como "Triplo X" e "O Vingador".
Mas o fato é que, em "A Batalha
de Riddick", que estréia hoje, ele
dá seqüência ao filme que o revelou, "Eclipse Mortal" ("Pitch
Black", disponível em DVD), um
misto de aventura e terror que
apontava um caminho melhor.
O responsável pela volta de Diesel ao bom cinema tem nome: David Twohy, diretor dos dois filmes, mais conhecido em Hollywood como roteirista de "Waterworld" e "O Fugitivo". Neste novo
episódio da saga de Riddick, ele
decidiu fazer uma seqüência
completamente diferente do original. Trocou a aventura e o terror
pela ação e a ficção científica,
criando uma espécie de "Senhor
dos Anéis" dark e intergaláctico.
O visual e os diversos cenários
imponentes (todos construídos
em tamanho real) impressionam
mais que os da Terra Média. Em
um universo dominado pelo
Exército dos necromangers, o fugitivo Riddick vaga pelos planetas
tentando escapar à conversão forçada. Como a perseguição nunca
termina, ele percebe que só terá
paz depois de enfrentar (e vencer)
os atuais donos do mundo e, sem
saber, concretizar assim uma antiga profecia. Para isso, vai buscar
ajuda em diferentes planetas e encontrar pessoas do seu passado.
"Riddick" não deixa de ser um
western futurista. Vin Diesel é o
caubói solitário que carrega dentro de si a ambigüidade de ser
bom e mal ao mesmo tempo; de
lutar pela própria sobrevivência e
com isso, sem querer, ajudar todo
mundo à sua volta; de buscar apenas vingança e com isso se tornar
o líder da nova era.
Também pode ser lido como filme anti-Bush. Os necromangers
dominam o universo como os
americanos dominam a Terra.
Quem não se converte perde até a
alma em uma das melhores cenas
do filme: um comandante confronta humanos rebeldes e arranca o espírito de um deles com as
próprias mãos.
Mas é, acima de tudo, uma história de ressonâncias shakespearianas -daí o elenco de apoio ser
formado por veteranos do teatro
clássico. Vaako (Karl Urban),
braço direito do poderoso Lorde
Marshal (Colm Feore), conspira
para tomar o trono obedecendo
as ordens da mulher, uma soberba Lady Macbeth vivida por
Thandie Newton (de "O Assédio"
e "Missão Impossível 2"). Há ainda a oscarizada Judi Dench (de
"Shakespeare Apaixonado" e
"Chocolate"), um ser etéreo que
zela pelo cumprimento da profecia que levará Riddick ao poder.
Apesar de todos esses predicados, em Hollywood o que vale é
fechar as contas e, nisso, o segundo episódio se deu mal. "Eclipse
Mortal" havia rendido apenas
US$ 39 milhões, mas foi feito com
parcos US$ 23 milhões, ou seja,
deu lucro. Já "A Batalha de Riddick" custou bem caro, mesmo
para os padrões hollywoodianos
(US$ 105 milhões) e rendeu só a
metade (US$ 55 milhões no mercado americano). O final aberto
deixa espaço para uma seqüência,
mas é pouco provável que Riddick volte a batalhar. Vin Diesel
vai ter que retomar o seu clone
vulgar de James Bond.
A Batalha de Riddick
The Chronicles of Riddick
Produção: EUA, 2004
Direção: David Twohy
Com: Vin Diesel, Judi Dench, Thandie Newton
Quando: a partir de hoje nos cines
Central Plaza, Interlagos e circuito
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