São Paulo, domingo, 16 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Groening prevê mais 5 anos para série

Criador de "Os Simpsons" afirma que provocações são a isca para, passados 17 anos, ainda despertar a atenção do público

Roteiristas da animação norte-americana preparam adaptação para o cinema há 10 anos; filme apresentará personagens inéditos

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

"Você é do Brasil, não é? Tivemos alguns problemas com seu país. Aliás, acho que nosso departamento jurídico ainda está tendo. Por ora, estamos proibidos de citar o Brasil", disse à Folha, rindo, o produtor executivo e roteirista Al Jean, durante a entrevista que ele, o criador Matt Groening e o roteirista Tim Long deram para a imprensa de fora dos EUA em Los Angeles para apresentar a 17ª temporada de "Os Simpsons" e falar do projeto de longa-metragem.
A menção ao Brasil se deu na pergunta sobre a possibilidade de a série ter muitos problemas por causa do roteiro subversivo, que zomba pessoas, países e situações, americanas ou não.
Em 2002, no episódio "Blame It on Lisa", o seriado mostrou o Rio de Janeiro com macacos e ratos nas ruas. Lisa foi atacada por pivetes. E Homer foi seqüestrado. Isso virou incidente internacional. A Embratur protestou formalmente contra a série.
Leia abaixo alguns trechos da entrevista com o trio. (LÚCIO RIBEIRO)  

A LONGEVIDADE
"O desenho já tem 17 anos, e isso é tempo demais. Mas enquanto os Simpsons divertirem as pessoas, não tem razão para o seriado acabar. Estou trabalhando nele há nove anos e, toda vez que eu penso nisso, fico chocado. Imagino a pessoa que via o desenho quando criança, adolescente e, agora adulta, parou de ver. Tenho um pouco de medo disso. Mas aí eu vejo o Bart e falo: "vamos em frente'", disse Long. "O objetivo é encontrar maneiras de sempre surpreender a audiência. Mas primeiro, tentamos surpreender a nós mesmos. Temos um número grande de roteiristas na equipe, gente de várias idades, exatamente para tentar não nos canibalizar nas idéias. Às vezes, na hora de escrever o roteiro, eu paro e penso que já fiz aquela piada. Mas aí eu volto e acho que ela cabe de novo, então eu faço. O Homer trabalha numa usina nuclear há 17 anos, e nós continuamos a fazer piadas de usinas nucleares. Enquanto rirem delas, vamos fazê-las. Uma boa medida vai ser o filme para o cinema, nosso projeto mais ousado. Sempre pensei em fazê-lo depois que o desenho parasse de passar na TV, mas fomos "obrigados" a produzi-lo agora por uma demanda popular. Se ele falhar nas bilheterias, será hora de pensar na continuidade dele na TV também. Mas se for para prever o futuro, acho que a série tem ainda mais uns cinco anos", afirmou Groening.

AS CONTROVÉRSIAS
"A gente às vezes tenta arrumar uma encrenca só para aliviar o trabalho de 17 anos e mostrar que ainda estamos vivos e importando de alguma forma para as pessoas. Esse medo de não se importarem com o programa nos torna mais provocativos. Acho que tendemos a incomodar mais em questões familiares, de uns tempos para cá. "Os Simpsons" são um desenho levemente progressista para os padrões atuais da América e, às vezes, nossas piadas anti-republicanas podem deixar alguns políticos enfurecidos", conta Groening. "Os canadenses já não ligam mais para nossas brincadeiras. Ficaram muito bravos no começo, mas agora está tudo bem. E tivemos esse problema com o Brasil há alguns anos... Porque botamos o Rio no desenho e fizemos uma brincadeira com macacos selvagens na rua, atacando pessoas, as pessoas lá ficaram muito bravas. Parece que fomos processados. Acho que o caso ainda não está resolvido. Ficamos torcendo muito para o governo brasileiro nos processar, para que nós fôssemos obrigados a passar um tempo no Brasil, lidando com a Justiça. Se fosse num período de Carnaval, então, seria perfeito", brincou Jean.

CONVIDADOS ESPECIAIS
"Já virou uma instituição do programa, e ficamos muito orgulhosos que as pessoas que a gente convida para dar voz a "Os Simpsons" botem isso em lugar de destaque no currículo delas. A gente não costuma escrever um episódio pensando em convidar alguém. Quando terminamos, pensamos: "Talvez possamos encaixar certa pessoa bem aqui'", disse Jean.

O FILME
"Falamos em fazer o filme desde 1996. Agora, ele vai acontecer de verdade. Já escrevemos e reescrevemos a história. Com tantas animações quebrando recordes de bilheteria, não podemos jogar a história de Homer e Bart nas telas e isso ser um fiasco. Desta vez, estamos fazendo as pessoas pagarem US$ 10 para nos ver. Precisamos justificar isso com algo a mais do que elas vêem na TV. Por isso, haverá muitas surpresas. Alguns personagens novos e os já conhecidos que o desenho tem", encerrou Groening.


Texto Anterior: Família do barulho
Próximo Texto: [+] opinião: "Simpsons" não perderam o cinismo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.