São Paulo, sábado, 16 de julho de 2011 |
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CRÍTICA DRAMATURGIA Texto de Pirandello revela universo de falsas certezas "Assim É (Se Lhe Parece)", de 1917, foi um dos grandes sucessos do autor O CLÍMAX DA TRAMA CONFIRMA, PARA EXASPERAÇÃO DOS PERSONAGENS E DO LEITOR, QUE SERÁ IMPOSSÍVEL ALCANÇAR UMA VERSÃO DEFINITIVA LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA A verossimilhança contra a verdade. Em "Assim É (Se Lhe Parece)", do italiano Luigi Pirandello (1867-1936), qualquer certeza sobre os fatos permanece suspendida entre especulações plausíveis, mas contraditórias. Escrito e encenado em 1917 e agora editado pela primeira vez no Brasil, o texto leva ao paroxismo a máxima aristotélica de que à poesia dramática interessa mais o verossímil do que o verdadeiro, já que este é atributo do historiador, e ao poeta cabe apenas construir realidades possíveis. Pirandello criou seus primeiros dramas quando era já um escritor consagrado e só envolveu-se com a encenação deles na fase final de sua vida, dirigindo o Teatro d'Arte de Roma. Se eles têm, por isso mesmo, vocação para serem lidos na poltrona, não deixam de render bem quando são encenados. No caso de "Assim É (Se Lhe Parece)", antes da estreia no teatro Olímpia de Milão, o diretor, Virgílio Talli, manifestou em carta ao autor sua desconfiança sobre as chances de a peça arrebatar o público, graças ao seu "desenvolvimento totalmente não convencional". Talli estava errado. O espetáculo foi um sucesso imediato e tornou-se um dos textos mais montados de Pirandello. No posfácio da caprichada edição brasileira, Alcir Pécora faz uma excelente análise da singular curva dramática da peça e destaca a tortura psíquica a que os habitantes de uma pequena cidade submetem três forasteiros. Os diálogos ocorrem, durante os três atos, em duas salas de estar. Ali a comunidade local se indaga sobre as relações entre um recém-chegado casal e uma mulher que o acompanha. As dúvidas geradas por versões opostas sobre as identidades reais desses três personagens, oferecidas pelo marido e sua suposta sogra, desdobram-se ao infinito quando cada um deles diz fingir-se de louco para o outro, por conta da loucura que projeta no antagonista. O clímax da trama confirma, para exasperação dos personagens e do leitor, que será impossível alcançar uma versão definitiva. Se em "Seis Personagens em Busca de um Autor" (1921) Pirandello sugeriu a impossibilidade de a forma dramática dar conta da realidade, aqui ele ensaia uma narrativa para desmoralizar todas as narrativas, ou para, antecipando o ceticismo contemporâneo, demonstrar que o que é crível não é necessariamente real. Ou que o real é só um arranjo possível, sempre sujeito a revisões. ASSIM É (SE LHE PARECE) AUTOR Luigi Pirandello EDITORA Tordesilhas TRADUÇÃO Sérgio Nunes Melo QUANTO R$ 37 (200 págs.) AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: Aos 60, Glauco ainda quer escandalizar Próximo Texto: Ficção/Não ficção Índice | Comunicar Erros |
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