São Paulo, quarta, 16 de julho de 1997.



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MÚSICA
Guitarras contra-atacam na terra do axé music

Divulgação
A banda Catapulta, que tem o vídeo de "Puêra" concorrendo ao prêmio de revelação no Vídeo Music Brasil


PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

O lançamento de nove discos, um festival reunindo 31 bandas, vídeo na MTV e página na Internet. Desde o final de 96, o rock baiano vem concretizando seu contra-ataque na terra do axé e de Caetano Veloso.
A investida teve origem há cinco anos -quando a maioria das bandas que estão chegando às gravadoras (independentes ou não) foram formadas.
Encontrou como obstáculo o reinado absoluto do axé nas rádios -das oito principais, seis são dedicadas ao axé-, casas de show e na mobilização de público. Mas reverteu a seu favor a estrutura de estúdios, lojas de instrumentos musicais e proliferação de espaços para música ao vivo na cidade.
Os principais exemplos de que a investida está dando certo são os recém-lançados discos de Maria Bacana, Catapulta, Brincando de Deus e Dr. Cascadura. Duas bandas, aliás, vão abrir shows internacionais este ano.
As duas primeiras tiveram seus trabalhos lançados por selos de grandes gravadoras, respectivamente o Rockit! (Universal) e o Original (Roadrunner).
Já o Brincando de Deus faz tudo por conta própria, no seu selo independente Self Records. Por fim, o Dr. Cascadura, junto com os Dead Billies, colocou seu trabalho em CD graças ao estúdio WR -que nasceu dedicado ao axé, mas agora começa a dar espaço às bandas de rock.
O Dr. Cascadura já tem material para um próximo disco, que começa a ser gravado no segundo semestre e tem previsão de lançamento para início de 98. "Sempre fomos identificados como tendo muitas referências dos Rolling Stones, fazemos algo muito voltado para as raízes do rock'n'roll", disse Fábio Cascadura.
Diversidade
Diferentemente do que acontece em Pernambuco, onde uma das características principais do mangue beat é a fusão com ritmos regionais, o rock que vem da Bahia não tem traços definidos.
Por lá, se faz de tudo: metal, pop ao estilo das bandas brasileiras dos anos 80, psicobilly, guitar etc. Dentro da cena, as próprias bandas e seu público mais frequente já apelidaram alguns estilos (leia quadro na página).
A única banda representante da fusão com sons mais brasileiros é o Catapulta. Também é possível apontar o Catapulta como a banda que mais rapidamente está se popularizando pelo país. A música "Puêra" toca nas chamadas "rádios rock" e o clipe concorre no 3º Vídeo Music Brasil, da MTV, na categoria revelação.
Mas o Catapulta, ao contrário dos outros conterrâneos, não tem um histórico de apresentações ao vivo em Salvador. Na última sexta-feira, eles fizeram seu terceiro show na cidade, participando do 6º Garage Rock Festival.
O festival, aliás, é uma das ações mais importantes na cidade em termos de rock. São 31 bandas baianas e mais nove de outros Estados tocando em todos os finais de semana do mês de julho. Desta vez, o evento ocorre no Casablanca, uma casa com capacidade para público de mil pessoas.
A organização é da Uivo Produções, de Rui Mascarenhas, que também está por trás do lançamento das coletâneas "Umdabahia" e "Doisdabahia".
Segundo ele, a época da realização do festival não foi escolhida por acaso. "Julho é o mês em que toda a estrutura do axé está descansando. Ou eles estão no estúdio, gravando, ou se preparando para o final do ano e para o Carnaval", diz Mascarenhas.
Outros espaços da cidade também abrigam as bandas. Um deles é o Hotel Pelourinho, onde o Brincando de Deus fez o show em homenagem a Ian Curtis (vocalista morto do Joy Division), que virou o disco "Running Live on Your Mind: the Official Bootleg".
Mas não foi se apresentando em shows por Salvador que o Maria Bacana chegou às gravadoras. O trio fez o famoso caminho: gravar uma demo, distribuir pelas gravadoras, alguém ouve, gosta e produz. No caso, quem decidiu produzir foi Dado Villa-Lobos, ex-Legião Urbana.
"Para a gente foi um orgulho. Ouço Legião desde 88 e a primeira coisa de trabalhar com o Dado foi o impacto emocional. Ele conseguiu deixar a gente bem à vontade", disse Marcello Medeiros, baterista e percussionista da banda.
Segundo ele, apesar do nome -uma homenagem à avô de Medeiros e também ao "Super Bacana" de Caetano Veloso-, a banda não faz um som "engraçadinho ou regionalista".
A música "Repeat, Please", onde o vocalista André Mendes diz que "tem dias que a vida parece Coca-Cola sem gás", foi a escolhida para tocar nas rádios.



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