São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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Em novo disco, líder do Silverchair canta a via-crúcis da fama

DA REDAÇÃO

Para muitos adolescentes, ver as músicas de sua fita demo correrem o mundo em um piscar de olhos ainda é um sonho. Para Daniel Johns, 23, vocalista, guitarrista e compositor do Silverchair, o fato de ter se tornado um astro do rock do alto de seus 16 anos continua sendo o seu maior pesadelo.
O sucesso repentino de "Frogstomp" (95) e "Freak Show" (97), que levaram o grunge do trio australiano para a casa dos milhões de discos vendidos, em tão pouco tempo, é apontado por Johns como o principal motivo da anorexia nervosa e das crises de pânico que vem sofrendo desde a sua estréia prematura no universo do show business.
Em entrevista à Folha, por ocasião do lançamento de "Diorama", quarto disco do Silverchair, o líder da banda, que está "não tão mal", obrigado, falou sobre sua frustração com o rock, suas expectativas para o futuro do grupo e seus problemas de saúde. (DA)

Folha - Você acha que está muito "velho" para o rock'n'roll?
Daniel Johns -
Estou longe disso ainda. Só acho que enjoei do rock rapidamente. Hoje eu associo o rock pesado a ser um adolescente sem nada na cabeça. Eu cresci e passei a explorar uma abordagem mais intrincada, melódica e não-convencional de fazer música.

E o que ouviu na época da gravação de "Diorama"?
Johns -
Eu tenho uma mente aberta com relação a isso. Estava ouvindo muito os musicais de Hollywood dos anos 50. Hoje tenho escutado muito Aphex Twin, mas gosto ainda de coisas pesadas, como Kyuss. Não gosto mais de tocar isso, só de ouvir.

Folha - Escrever esse álbum funcionou como sua terapia?
Johns -
Eu quis criar algo que explorasse não só a escuridão pela qual passei, mas que evocasse também um pouco da positividade e do êxtase que estava sentindo quando compus as músicas. Só não queria usar metáforas para falar disso. Ao contrário, queria torná-lo óbvio.

Folha - Você se considera feliz?
Johns -
Acho que sim. Por muitos anos eu não soube muito bem como me sentia, porque estava tomando medicamentos antidepressivos e antiansiedade. Definitivamente eu não era feliz. Hoje eu não tomo mais remédios e já posso saber o que é felicidade e o que é tristeza.

Folha - Se não estivesse mergulhado na rotina de uma banda, com drogas e tudo a que se tem direito, sua vida teria sido diferente?
Johns -
Acho que essas experiências contribuíram, sim, para a minha condição, mas é difícil dizer se teria sido diferente porque estou com a banda desde os 14 anos.

Folha - Qual é o futuro da banda?
Johns -
Não sei quanto tempo continuaremos juntos. Sempre acho que o Silverchair fez o seu último álbum. Não quero ter 40 anos e ficar como o U2 e os Rolling Stones (risos).

Folha - Planos de fazer turnê?
Johns -
Sim. Assim que eu melhorar. Temos todo esse material novo... Mas tem dias que mal consigo levantar da cama.


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