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Em novo disco, líder do Silverchair canta a via-crúcis da fama
DA REDAÇÃO
Para muitos adolescentes, ver
as músicas de sua fita demo correrem o mundo em um piscar de
olhos ainda é um sonho. Para Daniel Johns, 23, vocalista, guitarrista e compositor do Silverchair, o
fato de ter se tornado um astro do
rock do alto de seus 16 anos continua sendo o seu maior pesadelo.
O sucesso repentino de "Frogstomp" (95) e "Freak Show" (97),
que levaram o grunge do trio australiano para a casa dos milhões
de discos vendidos, em tão pouco
tempo, é apontado por Johns como o principal motivo da anorexia nervosa e das crises de pânico
que vem sofrendo desde a sua estréia prematura no universo do
show business.
Em entrevista à Folha, por ocasião do lançamento de "Diorama", quarto disco do Silverchair,
o líder da banda, que está "não tão
mal", obrigado, falou sobre sua
frustração com o rock, suas expectativas para o futuro do grupo
e seus problemas de saúde.
(DA)
Folha - Você acha que está muito
"velho" para o rock'n'roll?
Daniel Johns - Estou longe disso
ainda. Só acho que enjoei do rock
rapidamente. Hoje eu associo o
rock pesado a ser um adolescente
sem nada na cabeça. Eu cresci e
passei a explorar uma abordagem
mais intrincada, melódica e não-convencional de fazer música.
E o que ouviu na época da gravação de "Diorama"?
Johns - Eu tenho uma mente
aberta com relação a isso. Estava
ouvindo muito os musicais de
Hollywood dos anos 50. Hoje tenho escutado muito Aphex Twin,
mas gosto ainda de coisas pesadas, como Kyuss. Não gosto mais
de tocar isso, só de ouvir.
Folha - Escrever esse álbum funcionou como sua terapia?
Johns - Eu quis criar algo que explorasse não só a escuridão pela
qual passei, mas que evocasse
também um pouco da positividade e do êxtase que estava sentindo
quando compus as músicas. Só
não queria usar metáforas para
falar disso. Ao contrário, queria
torná-lo óbvio.
Folha - Você se considera feliz?
Johns - Acho que sim. Por muitos anos eu não soube muito bem
como me sentia, porque estava
tomando medicamentos antidepressivos e antiansiedade. Definitivamente eu não era feliz. Hoje eu
não tomo mais remédios e já posso saber o que é felicidade e o que
é tristeza.
Folha - Se não estivesse mergulhado na rotina de uma banda, com
drogas e tudo a que se tem direito,
sua vida teria sido diferente?
Johns - Acho que essas experiências contribuíram, sim, para a minha condição, mas é difícil dizer
se teria sido diferente porque estou com a banda desde os 14 anos.
Folha - Qual é o futuro da banda?
Johns - Não sei quanto tempo
continuaremos juntos. Sempre
acho que o Silverchair fez o seu último álbum. Não quero ter 40
anos e ficar como o U2 e os Rolling Stones (risos).
Folha - Planos de fazer turnê?
Johns - Sim. Assim que eu melhorar. Temos todo esse material
novo... Mas tem dias que mal consigo levantar da cama.
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