São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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comentário

Megaestrela ainda tenta fazer sentido

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Madonna chegou com estrépito no mundo pop, mas demorou um certo tempo para que se diferenciasse de tantos outros artistas inventados pelo então novo mundo dos videoclipes. Havia um certo teor de escândalo interessante em "Like a Virgin", mas tinha muita coisa acontecendo na música pop em 1984, 1985 para a gente prestar atenção naquela moça de voz meio esganiçada, que usava a lingerie por cima da roupa e parecia muito com aquela outra, a Cyndi Lauper.
Estávamos, aqui no Brasil, descobrindo o pós-punk, tirando o atraso do punk, tentando acreditar no rock nacional. Madonna, junto com Cyndi Lauper e Boy George, faziam música informada pelos sons da new wave diluídos num caldo pop palatável e cultivavam uma extravagância simpática.
Madonna foi se firmando nos programas de videoclipe. No início vendia a imagem da "garota que só queria se divertir", mas, no seu caso, a diversão era sempre e explicitamente igual a sexo. Então, vimos "Procura-se Susan Desesperadamente" e uma Madonna mais descolada e insolente emergiu de lá.
O sucesso desse filme cult -isso sim havia aos montes àquela época, filmes que tornavam-se objetos de culto pela carga de informação pop que detinham- transformou Madonna num ícone, em que misturavam-se doses iguais de pós-feminismo e de inconsequência pop.
Mesmo que ela ainda transitasse musicalmente na trilha estreita daquilo que chamávamos de mainstream, a provocação sexual era sua arma e, sim, ela sabia usá-la de muitas formas. Os clubes gays, de onde emanava uma nova sensibilidade para a música para dançar, adotaram Madonna rapidamente e, mais para o final da década de 80, em qualquer lugar em que houvesse uma pista, tocava Madonna.
Nos anos 90, radicalizando tanto a provocação como a vocação para a dance music, ela ocupou um lugar singular dentro do pop -o de megaestrela, com um pé na credibilidade alternativa. Depois, a música mudou e essas categorias deixaram de fazer sentido. Ela, Madonna, também mudou, mas tenta, desesperadamente, ainda fazer sentido.


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