São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2000

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Em "Casei com um Comunista", que chega ao Brasil, Philip Roth revê o macarthismo
O nascimento de uma nação

Associated Press
Multidão saúda o general Douglas MacArthur, que passa de carro pela Times Square, na cidade de Nova York, em 20 de abril de 1951


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Philip Roth está irritado. Um dos três maiores romancistas americanos em atividade (os outros dois são John Updike e Saul Bellow), ele se aborrece justo com o país que retratou tão bem em sua trilogia mais famosa.
O autor de "Pastoral Americana" (1997), "Casei com um Comunista" (1998), que sai agora no Brasil, e "The Human Stain" (A Mancha Humana), seu mais recente livro, de maio deste ano, acha que os Estados Unidos passam por um mau momento.
"George W. Bush não tem capacidade para dirigir nem um armazém de secos e molhados, quanto mais este país", afirma, sobre o candidato republicano. "Escolher um vice-presidente judeu como Al Gore fez é uma jogada para a platéia", define, sobre o democrata Joseph Lieberman.
"Acabou a esquerda na América, agora só temos direita e centro", decreta, sobre a vida política americana, tudo em entrevista à Folha na semana passada.
Philip Roth vive sozinho numa cidadezinha de Connecticut, a 150 quilômetros de Manhattan. Leva uma vida quase trapista. Acorda cedo, escreve seis horas por dia, seis dias por semana.
Não vê televisão, o último filme a que assistiu no cinema foi o documentário "Buena Vista Social Club", de Wim Wenders, e pouco ouve música. Com os raros amigos ("Estão morrendo"), costuma conversar por telefone.
Odeia ficção e só lê sobre o assunto que depois vai escrever. Agora, devora um diário de um judeu romeno que conta como eram os massacres em Bucareste antes mesmo do nazismo. E diverte-se com um aforista francês do século 18.
Seu primeiro livro é de 1959 ("Goodbye, Columbus"), mas a trilogia iniciada em 1997 é o raio X ficcional de uma era, narra a invenção dos EUA tais como são agora, sempre pelos olhos de personagens corriqueiros/autobiográficos. Começa com os anos 60, em "Pastoral Americana", o marco zero da odisséia rothiana.
Recua alguns anos em "Casei com um Comunista", que revê o macarthismo, e se conclui com "The Human Stain", em que o politicamente correto e o escândalo Monica Lewinski são o pano de fundo de um conflito racial.
Nathan Zuckerman, alter ego do autor em vários livros e na trilogia, parecia ter seu fim decretado com o ponto final de "The Human Stain", em que aparece velho e impotente. Mas não é bem assim: "Ainda não decidi qual o destino dele", disse Roth.


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