São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2000

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TEATRO
Montagem do diretor inglês é principal destaque entre as 42 peças do evento que começa hoje na capital gaúcha
Brook catalisa festival em Porto Alegre


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O 7º Porto Alegre em Cena começa hoje com a primazia de trazer para o país a primeira peça de Peter Brook de que se tem notícia no teatro brasileiro. E a R$ 5, valor do ingresso para qualquer um dos 42 espetáculos programados para o festival, 16 deles internacionais (leia destaques da programação no quadro ao lado).
"Le Costume" (O Traje), a mais recente produção do encenador inglês, responsável pelo Centro Internacional de Criação Teatral (CICT), com sede em Paris, será apresentada entre os dias 21 e 24 deste mês.
Os ingressos para as quatro noites estão esgotados há uma semana. O teatro escolhido para receber a montagem, o Renascença, na capital do Rio Grande do Sul, tem capacidade para 300 pessoas.
Um dos encenadores mais importantes do teatro mundial contemporâneo -"Mahabharata" (85, épico hindu também levado ao cinema, pelo próprio, quatro anos depois) e "Marat/Sade" (64), entre outras encenações históricas-, Brook não poderá vir ao Brasil. Está empenhado em uma montagem de "Hamlet", de William Shakespeare.
O Porto Alegre em Cena abre hoje com o "A Vida É Cheia de Som e Fúria", sucesso de público e crítica em São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte.
A Folha apurou que "A Vida É Cheia de Som e Fúria" também teve os ingressos esgotados, assim como mais dez espetáculos da programação, como "Salt", da companhia de dança canadense La La La Human Steps; "Barboni", da trupe italiana Pippo Delbono; e o monólogo brasileiro "Anjo Duro", interpretado por Berta Zemel.
Segundo Luciano Alabarse, 47, diretor-geral do festival, uma das marcas registradas do evento é a inclusão de montagens de países latino-americanos. Há quatro espetáculos da Argentina e outros quatro do Uruguai.
"Temos a absoluta noção da nossa posição geográfica, da importância de estabelecer um diálogo cultural com o Mercosul, com grupos que dificilmente se apresentariam no Brasil", afirma.
Outra característica da curadoria, diz Alabarse, é privilegiar o que ele define como "espetáculos de risco, produções independentes, artesanais mesmo, que investem na pesquisa de linguagem cênica". Não traz espetáculo com atores de televisão ou de apelo comercial, por exemplo.
Essa identidade é acolhida pelo público local. Segundo ele, o espectador está acostumado a conferir as montagens que ousam esteticamente. "Quando sai de casa, ele tem a sensação de que está indo assistir a um projeto importante, que irá estimulá-lo."
Mesmo com essa perspectiva, o Porto Alegre em Cena investe na diversidade. "Há opções para todos os gostos, desde a maravilhosa orgia dionisíaca de Zé Celso, com seu "Boca de Ouro", até o rigor estético de um Peter Brook."
Do "porão paulistano", como define o diretor-geral, aludindo ao underground teatral da cidade, ele queria levar também Antunes Filho, com a tragédia "Fragmentos Troianos". "Ele desistiu por causa de problemas internos", afirma Alabarse.
Este ano, o festival vai ocupar 14 teatros da cidade, seis espaços não-convencionais, além de ruas e praças que receberão espetáculos afins. A estimativa de Alabarse é atrair um público de 50 a 70 mil pessoas, como nos dois últimos anos.
O orçamento do evento é de cerca de R$ 1,2 milhão, do qual R$ 460 mil são provenientes da Prefeitura de Porto Alegre.


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