São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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Relações perigosas criaram imagens de Marlene e Leni

TIAGO MATA MACHADO CRÍTICO DA FOLHA "Foi preciso mais de um homem para trocar o meu nome por Lily Shangai", dizia Marlene em "O Expresso de Shangai". Mas, para fazer de Maria Magdalena Dietrich o mito Marlene, foi preciso apenas um, Josef von Sternberg, seu Pigmalião.
Apesar de ser um fetiche de Sternberg, a (eterna) Lola de "O Anjo Azul" aportou na América, no começo dos anos 30, com seu criador, para encarnar a emancipação sexual e econômica da mulher moderna. Marlene, a "vênus loira", fez gato e sapato dos homens até a criação do código Hays, em 1934, quando a auto-censura de Hollywood fez de sua voz um "canto da sereia" para "homens de bem".
Quando a Segunda Guerra começou, Hitler e Goebbels tentaram levar a sereia para cantar "Lili Marlene" nos fronts alemães, mas Dietrich não só recusou a oferta como se engajou na batalha do lado oposto. Sua deserção constituiu uma importante vitória aliada na intensa guerra de propaganda entre Goebbels e Hollywood.
Para Hitler, Marlene era um sonho, e Leni, a realidade. Musa do cinema protonazista, artífice do cinema hitlerista, Leni forneceu à estetização da política promovida pelos nazistas uma de suas armas mais eficientes: o filme de propaganda travestido de documentário. Ela sobreviveu à queda de Hitler, e Marlene, à carreira de Sternberg, mas nenhuma das duas conseguiu se livrar da imagem criada por essas relações perigosas da vida.


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