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Relações perigosas criaram imagens
de Marlene e Leni
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
"Foi preciso mais de
um homem para trocar o meu nome por Lily
Shangai", dizia Marlene em
"O Expresso de Shangai".
Mas, para fazer de Maria
Magdalena Dietrich o mito
Marlene, foi preciso apenas
um, Josef von Sternberg, seu
Pigmalião.
Apesar de ser um fetiche
de Sternberg, a (eterna) Lola
de "O Anjo Azul" aportou
na América, no começo dos
anos 30, com seu criador,
para encarnar a emancipação sexual e econômica da
mulher moderna. Marlene, a
"vênus loira", fez gato e sapato dos homens até a criação do código Hays, em
1934, quando a auto-censura
de Hollywood fez de sua voz
um "canto da sereia" para
"homens de bem".
Quando a Segunda Guerra
começou, Hitler e Goebbels
tentaram levar a sereia para
cantar "Lili Marlene" nos
fronts alemães, mas Dietrich
não só recusou a oferta como se engajou na batalha do
lado oposto. Sua deserção
constituiu uma importante
vitória aliada na intensa
guerra de propaganda entre
Goebbels e Hollywood.
Para Hitler, Marlene era
um sonho, e Leni, a realidade. Musa do cinema protonazista, artífice do cinema
hitlerista, Leni forneceu à estetização da política promovida pelos nazistas uma de
suas armas mais eficientes: o
filme de propaganda travestido de documentário. Ela
sobreviveu à queda de Hitler, e Marlene, à carreira de
Sternberg, mas nenhuma
das duas conseguiu se livrar
da imagem criada por essas
relações perigosas da vida.
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