São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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POLÍTICA CULTURAL

Na disputa pelo governo do Rio, área é vista como instrumento de inclusão social e de combate ao tráfico

Candidatos querem usar cultura contra a violência

RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

A idéia pode parecer romântica ou promessa vazia de campanha, mas os quatro principais candidatos ao governo do Rio dizem acreditar que poemas, filmes e peças teatrais possam ajudar a combater a violência, tema central do debate na sucessão estadual.
"Descentralizar" o acesso à cultura e usá-la como instrumento de inclusão social e de combate ao recrutamento de jovens pelo narcotráfico é ponto comum das propostas para a área de cultura dos candidatos Rosinha Matheus (PSB), Jorge Roberto Silveira (PDT), Benedita da Silva (PT) e Solange Amaral (PFL). Os quatro receberam, por e-mail, perguntas da Folha sobre suas prioridades para a cultura.
"É preciso disputar menino a menino com o tráfico", diz Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de Segurança do Estado e coordenador do programa de governo do PT, que respondeu às perguntas por Benedita -atual governadora, em terceiro lugar na corrida sucessória.
"Para que tenhamos êxito na disputa, temos de oferecer aos jovens pelo menos os mesmos benefícios dados pelo tráfico", afirma Soares. "O tráfico oferece bens simbólicos e afetivos, que reforçam a auto-estima [dos jovens"."
"A disputa pelos meninos, com o consequente esvaziamento do "exército do tráfico", não é só econômica, é também cultural, isto é, depende da capacidade da sociedade e do Estado de atrair o imaginário dos jovens sem esperança e saciar sua fome de sentido."
A líder nas pesquisas de intenção de voto, Rosinha Matheus (PSB), estendeu ao seu projeto de cultura a marca do governo de seu marido e atual candidato à Presidência, Anthony Garotinho (PSB). Seguindo o modelo do restaurante e do hotel popular, que cobram R$ 1 por refeições e pernoite, Rosinha pretende criar o "ingresso popular" de R$ 1.
Além do ingresso mais barato "nos teatros da rede estadual, em dias determinados", Rosinha promete implementar Centros Integrados de Cultura (CICs), "em áreas carentes de equipamentos permanentes de cultura".
Os CICs terão "estrutura tubular" e serão equipados, diz a candidata, com palcos, bibliotecas, salas de exposições e camarins. Neles, Rosinha diz pretender levar teatro, cinema, exposições, cursos e oficinas culturais para a população do Estado.
Os programas de cultura, diz a candidata, serão pensados de maneira integrada com projetos de outras áreas: "Como exemplo, o apoio a ações sociais em áreas críticas que serão desenvolvidas pela Secretaria de Segurança Pública".
O candidato da Frente Trabalhista também promete centros culturais. Centros Populares de Cultura e Cidadania, CPCCs, é o nome que eles ganham com Jorge Roberto Silveira, em segundo lugar na disputa. Rivalizando com as "estruturas tubulares" de Rosinha, os CPCCs têm projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer.
Jorge Roberto também ressalta a importância da cultura para combater a violência. "A cultura, tratada de maneira abrangente pelo governo, abre alternativas aos jovens assediados pela criminalidade e gera empregos", diz.
A candidata da coligação Todos pelo Rio, Solange Amaral, diz que "a cultura é uma mola de mudança social e, se bem impulsionada, de consequências profundas".
"Ao oferecer à população acesso irrestrito a programas culturais de qualidade, como oficinas de arte, música nas escolas, espetáculos teatrais, musicais, o programa público de cultura coloca efetivamente a mão em espaços que poderiam ser ocupados por um poder paralelo", afirma.


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