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CINEMA
O diretor de "Olga" rebate as críticas recebidas por seu primeiro longa, que já foi visto por 2 milhões de pessoas
"Só o público me interessa", diz Monjardim
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Quatro semanas depois da estréia, Jayme Monjardim já se sente fortalecido para responder às
muitas críticas feitas a "Olga", seu
primeiro longa-metragem. Para
ele, parte delas foram "respeitosas, mas uns cinco [críticos] usaram palavras chulas, feias, desagradáveis".
Na entrevista abaixo, ele bate
forte na cineasta Suzana Amaral
("É uma debilóide"), que atacou o
filme, e responde a algumas das
restrições feitas a "Olga".
Folha - Como você recebeu as críticas à suposta linguagem televisiva de "Olga"?
Jayme Monjardim - Nunca imaginei que houvesse tanto preconceito em relação à TV. Para mim,
é novidade. Muitos criticam sem
ter embasamento. Não há diferença de linguagem entre cinema
e TV. Existem estilos diferentes.
Se me dissessem: "Jayme, você vai
fazer "Olga" em vídeo", não ia fazer nem um pouco diferente. Eu
sou um contador de histórias, não
importa se é na TV ou no cinema.
Para avaliar "Olga", é preciso
saber o que eu pretendia. Eu queria fazer um filme simples, popular, no qual pudesse contar bem a
história. Para quem? Para todas as
pessoas. Da mais simples, que
nunca ouviu falar de política, à
mais intelectual. Não quero fazer
o filme para ganhar um prêmio de
novo estilo de câmera. Passadas
quatro semanas da estréia, o filme
bota 2 milhões de espectadores.
Consegui ou não o meu objetivo?
Consegui.
Folha - A resposta do público é a
principal?
Monjardim - É só a que me interessa. Não faço cinema para crítico. Sou popular. Vou passar minha vida fazendo histórias para
massas.
Folha - Alguns críticos apontaram
falas que não teriam ocorrido de
fato.
Monjardim - Existe um erro violento de quem disse que houve
deturpação. Um crítico [Arnaldo
Bloch, de "O Globo"] escreveu
que o [dirigente soviético] Manuilski jamais teria dito uma fala.
As falas dele constam dos arquivos do Partido Comunista [soviético]. Como uma pessoa se atreve
a dizer em público que isso não
existiu? É um despreparo. E nas
cartas da Olga consta: "Ele [Prestes] não merecia isso, ele não merecia isso" [outra contestação de
Bloch]. O erro é de quem criticou.
Folha - O filme também foi criticado por ser melodramático.
Monjardim - Que seja! É para ser.
Não é melodramático, é real. É
drama de vida. Como o intelectual arrancaria a filha dos braços
da Olga? Alguém chega e diz:
"Com licença, minha senhora,
vou levar sua filha". Ah, vai catar
coquinho.
Folha - O que você achou da opinião de Suzana Amaral, que disse
na Folha que houve uma "deliberada manipulação dramática dos fatos e dos personagens" e que o filme é um "melodrama barato e sentimentalóide"?
Monjardim - Acho ela uma debilóide. Uma pessoa que fala assim
é debilóide. Não pode ter sentimentos. Desculpe, mas pode botar aí: Suzana Amaral é debilóide.
O que dá a essa pessoa o direito de
crítica? Essas pessoas não podem
ser normais. Um ser normal diz:
"Não gostei do filme, tem muitos
closes, muita música...". Eu boto
muita música mesmo. No meu
próximo filme vai ter mais música
ainda. Se eu pudesse, botava 100%
de música. As pessoas têm o direito de criticar, mas dizer que o filme é "trash"... Que vocabulário é
esse? Deixa-me triste esse tipo de
comentário, não percebendo o
quanto é difícil fazer cinema no
Brasil. Acho que a Suzana Amaral
deve ter feito um filme na vida [fez
dois no Brasil e telefilmes em Portugal]. Deve ser uma frustrada.
Folha - Também na Folha, Ivana
Bentes perguntou: "Para que sair
de casa para ver uma TV piorada e a
história aplainada?"
Monjardim - Acho que ela deve
ficar em casa.
Folha - Há gente que reclama de
não receber críticas ou receber só
uma. "Olga" recebeu várias. Você
achou exagerado?
Monjardim - Eu acho que os críticos aproveitaram "Olga" para
aparecer. Precisa aparecer, né? Eu
sou de TV, noveleiro, um prato
cheio. O que me choca não é o excesso, é o desrespeito. Não sou
contra a crítica, mas contra as palavras usadas.
Folha - Você acha que as críticas
negativas estão também ligadas
ao fato de o filme ser produzido pela Globo Filmes e ter sido amplamente divulgado pela Globo?
Monjardim - Fazemos filme para
uma grande indústria. E eu pretendo ser diretor de filmes de
grande indústria. Preciso da TV
Globo e faço questão de ter essa
divulgação toda. Dei entrevista
até para a rádio Camanducaia da
Esquina, porque esse é o nosso
negócio. Deixei de fazer cinema
há 22 anos de tanto andar com roteirinho embaixo do braço na
Embrafilme mendigando para fazer meu longa.
Folha - Você acredita que foi atacado por mexer com uma história
da esquerda brasileira?
Monjardim - Meu envolvimento
com política é tão pouco que prefiro não entrar no mérito dessa
discussão. Mas, quando eu digo
que o filme não é quase nada político, é entre aspas, porque eu nunca vi um filme tão político. É político pra caramba.
Folha - Por quê?
Monjardim - Ele mexe com a política das sutilezas, te humaniza, te
ensina [sobre] a intolerância sem
impor. As pessoas começam a fazer um balanço de si próprias. Estou falando das pessoas populares, não de intelectuais, historiadores. Estou falando de gente.
Folha - Lágrimas do público servem como medida para você julgar
o acerto do filme?
Monjardim - O que você acha?
Alguém chora à toa? Ou será que
eu contratei 500 mil mulheres para irem aos cinemas chorar? É o
público. É isso que interessa.
Folha - Há divergências entre o
que o público quer e o que os críticos pensam?
Monjardim - Acho que os críticos
devem rever os conceitos. "Olga"
é um divisor. A partir desse momento, a crítica não respeitosa
merecia rever alguns comentários. Porque não fica bem para
eles. Não fica bem para Suzana
Amaral, que deve ser uma pessoa
batalhadora.
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