São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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CINEMA

O diretor de "Olga" rebate as críticas recebidas por seu primeiro longa, que já foi visto por 2 milhões de pessoas

"Só o público me interessa", diz Monjardim

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Quatro semanas depois da estréia, Jayme Monjardim já se sente fortalecido para responder às muitas críticas feitas a "Olga", seu primeiro longa-metragem. Para ele, parte delas foram "respeitosas, mas uns cinco [críticos] usaram palavras chulas, feias, desagradáveis".
Na entrevista abaixo, ele bate forte na cineasta Suzana Amaral ("É uma debilóide"), que atacou o filme, e responde a algumas das restrições feitas a "Olga".
 

Folha - Como você recebeu as críticas à suposta linguagem televisiva de "Olga"?
Jayme Monjardim -
Nunca imaginei que houvesse tanto preconceito em relação à TV. Para mim, é novidade. Muitos criticam sem ter embasamento. Não há diferença de linguagem entre cinema e TV. Existem estilos diferentes. Se me dissessem: "Jayme, você vai fazer "Olga" em vídeo", não ia fazer nem um pouco diferente. Eu sou um contador de histórias, não importa se é na TV ou no cinema.
Para avaliar "Olga", é preciso saber o que eu pretendia. Eu queria fazer um filme simples, popular, no qual pudesse contar bem a história. Para quem? Para todas as pessoas. Da mais simples, que nunca ouviu falar de política, à mais intelectual. Não quero fazer o filme para ganhar um prêmio de novo estilo de câmera. Passadas quatro semanas da estréia, o filme bota 2 milhões de espectadores. Consegui ou não o meu objetivo? Consegui.

Folha - A resposta do público é a principal?
Monjardim -
É só a que me interessa. Não faço cinema para crítico. Sou popular. Vou passar minha vida fazendo histórias para massas.

Folha - Alguns críticos apontaram falas que não teriam ocorrido de fato.
Monjardim -
Existe um erro violento de quem disse que houve deturpação. Um crítico [Arnaldo Bloch, de "O Globo"] escreveu que o [dirigente soviético] Manuilski jamais teria dito uma fala. As falas dele constam dos arquivos do Partido Comunista [soviético]. Como uma pessoa se atreve a dizer em público que isso não existiu? É um despreparo. E nas cartas da Olga consta: "Ele [Prestes] não merecia isso, ele não merecia isso" [outra contestação de Bloch]. O erro é de quem criticou.

Folha - O filme também foi criticado por ser melodramático.
Monjardim -
Que seja! É para ser. Não é melodramático, é real. É drama de vida. Como o intelectual arrancaria a filha dos braços da Olga? Alguém chega e diz: "Com licença, minha senhora, vou levar sua filha". Ah, vai catar coquinho.

Folha - O que você achou da opinião de Suzana Amaral, que disse na Folha que houve uma "deliberada manipulação dramática dos fatos e dos personagens" e que o filme é um "melodrama barato e sentimentalóide"?
Monjardim -
Acho ela uma debilóide. Uma pessoa que fala assim é debilóide. Não pode ter sentimentos. Desculpe, mas pode botar aí: Suzana Amaral é debilóide. O que dá a essa pessoa o direito de crítica? Essas pessoas não podem ser normais. Um ser normal diz: "Não gostei do filme, tem muitos closes, muita música...". Eu boto muita música mesmo. No meu próximo filme vai ter mais música ainda. Se eu pudesse, botava 100% de música. As pessoas têm o direito de criticar, mas dizer que o filme é "trash"... Que vocabulário é esse? Deixa-me triste esse tipo de comentário, não percebendo o quanto é difícil fazer cinema no Brasil. Acho que a Suzana Amaral deve ter feito um filme na vida [fez dois no Brasil e telefilmes em Portugal]. Deve ser uma frustrada.

Folha - Também na Folha, Ivana Bentes perguntou: "Para que sair de casa para ver uma TV piorada e a história aplainada?"
Monjardim -
Acho que ela deve ficar em casa.

Folha - Há gente que reclama de não receber críticas ou receber só uma. "Olga" recebeu várias. Você achou exagerado?
Monjardim -
Eu acho que os críticos aproveitaram "Olga" para aparecer. Precisa aparecer, né? Eu sou de TV, noveleiro, um prato cheio. O que me choca não é o excesso, é o desrespeito. Não sou contra a crítica, mas contra as palavras usadas.

Folha - Você acha que as críticas negativas estão também ligadas ao fato de o filme ser produzido pela Globo Filmes e ter sido amplamente divulgado pela Globo?
Monjardim -
Fazemos filme para uma grande indústria. E eu pretendo ser diretor de filmes de grande indústria. Preciso da TV Globo e faço questão de ter essa divulgação toda. Dei entrevista até para a rádio Camanducaia da Esquina, porque esse é o nosso negócio. Deixei de fazer cinema há 22 anos de tanto andar com roteirinho embaixo do braço na Embrafilme mendigando para fazer meu longa.

Folha - Você acredita que foi atacado por mexer com uma história da esquerda brasileira?
Monjardim -
Meu envolvimento com política é tão pouco que prefiro não entrar no mérito dessa discussão. Mas, quando eu digo que o filme não é quase nada político, é entre aspas, porque eu nunca vi um filme tão político. É político pra caramba.

Folha - Por quê?
Monjardim -
Ele mexe com a política das sutilezas, te humaniza, te ensina [sobre] a intolerância sem impor. As pessoas começam a fazer um balanço de si próprias. Estou falando das pessoas populares, não de intelectuais, historiadores. Estou falando de gente.

Folha - Lágrimas do público servem como medida para você julgar o acerto do filme?
Monjardim -
O que você acha? Alguém chora à toa? Ou será que eu contratei 500 mil mulheres para irem aos cinemas chorar? É o público. É isso que interessa.

Folha - Há divergências entre o que o público quer e o que os críticos pensam?
Monjardim -
Acho que os críticos devem rever os conceitos. "Olga" é um divisor. A partir desse momento, a crítica não respeitosa merecia rever alguns comentários. Porque não fica bem para eles. Não fica bem para Suzana Amaral, que deve ser uma pessoa batalhadora.


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