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CRÍTICA
Cantora injeta emoção na indústria
DA SUCURSAL DO RIO
A companhando a estética
de "Segundo", há uma ética
-não confundir com conceito,
palavra que anda banalizada. E é
difícil falar algo da primeira sem
ressaltar a segunda.
Antes de tudo, Maria Rita não
fez concessões: gravou o que quis,
como quis, com quem quis. Pode-se dizer que, dado o primeiro CD,
isso já era previsível. Mas a tal da
indústria cultural é exímia destruidora de boas previsibilidades
em nome das outras, as pasteurizadas, as fórmulas canhestras de
prorrogação do sucesso. Maria
Rita está livre disso. (E, para não
dizer que não se falou do assunto,
também está livre das comparações com a mãe, Elis Regina, pois
construiu com rapidez uma voz
própria. O resto é assombração.)
A cantora reforçou uma opção
do primeiro CD que pode parecer
supérflua para muitos ouvintes,
mas não é. Ao gravar as faixas
com os músicos tocando junto no
estúdio, ela subverteu a fragmentária ordem estabelecida -em
que cada um opera o seu instrumento e, depois, as máquinas fazem dos pedaços um produto- e
injetou emoção e verdade na asséptica vida digital.
Ao consumidor, deve-se dizer
que o DVD que acompanha o CD
na versão mais cara de "Segundo"
não é fundamental para se apreciar as músicas. Mas ajuda bastante a entender a emoção e a verdade que perpassam as faixas.
O disco ganha muito com o fato
de Maria Rita estar sempre acompanhada dos mesmos músicos:
Tiago Costa (piano), Sylvinho
Mazzucca (baixo acústico) e Cuca
Teixeira (bateria). A sonoridade é
coesa e limpa de efeitos eletrônicos. A grandeza ética está no repertório ainda menos previsível
do que o do primeiro CD, quando
grifes como Milton Nascimento e
Rita Lee funcionavam como um
aval para a estreante.
A maior grife, Edu Lobo/ Chico
Buarque, aparece em "Sobre Todas as Coisas", em uma gravação
que não tem como superar as de
Gilberto Gil e Maria Bethânia, por
exemplo, mas que faz um interessante par com "Minha Alma (A
Paz que Eu Não Quero)", de O
Rappa/ Marcelo Yuka.
Se Edu e Chico cantam a nossa
pequenez diante de um Deus que
nos ignora, Rappa/Yuka mostram a ignorância que cantamos
ao imaginarmos uma paz divina
em fortalezas de grades e vídeos,
protegidos de outros homens.
Não parece por acaso que as duas
músicas estejam juntas no CD.
A agora grife Marcelo Camelo
volta na regravada "Casa Pré-Fabricada" e na inédita "A Despedida", a primeira mais bonita do
que a segunda. E Jorge Drexler entra com a correta balada "Mal Intento". Moska, que ainda não é
grife, brilha em "Muito Pouco",
música em que Maria Rita modula a voz sem cair em caricaturas, e
tenta fazer ato de fé: "Muito pra
mim é tão pouco/ E pouco é um
pouco demais."
O resto são boas apostas, nas
quais se destacam "Recado",
samba de Rodrigo Maranhão na
linhagem temática de "Filosofia"
(Noel Rosa), "A Banca do Distinto" (Billy Blanco) e outras, e "Sem
Aviso" (Francisco Bosco/ Fred
Martins), bolero estranho em que
o pouco se prova muito.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
Segundo
Artista: Maria Rita
Gravadora: Warner
Quanto: R$ 30 (CD) e R$ 50 (CD e DVD)
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