São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2005

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Netinho pedirá a Oprah apoio a sua nova TV

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O pagodeiro e empresário Netinho de Paula viaja hoje aos Estados Unidos a fim de traçar parcerias para o canal que lançará em novembro. Ele arma um encontro com a apresentadora Oprah Winfrey (no ar no Brasil pelo GNT), militante da comunidade negra. O objetivo é pedir à celebridade mais poderosa do mundo (segundo a revista "Forbes") apoio à TV da Gente, cujo propósito é abrir espaço a afrodescendentes.
Ele disse à Folha que tentará fazer com que Oprah grave um depoimento para a estréia da emissora, em 20/11, Dia Nacional da Consciência Negra.
Nos EUA, terá também reunião na BET (Black Entertainment Television), voltada à comunidade negra, para negociar troca de programação.
Reconhecido por sua militância nessa área, Netinho é apresentador do "Domingo da Gente" e idealizador do bem-sucedido seriado "Turma do Gueto" (ambos da Record).
Tentou emplacar sitcom (série cômica) sobre uma família negra e de periferia na Record e Rede TV!. "Sempre ouvi que não haveria interesse do mercado publicitário. Meu programa e a nova emissora provam que isso não é verdade", diz.
Afirma ter desistido de tentar mais espaço nas redes. "Na teledramaturgia, vejo a mesma vergonha de sempre. Quando foi ao ar "A Próxima Vítima" [Globo, 95], ficamos felizes por ver uma família negra na TV. Depois, só em "Da Cor do Pecado" [a primeira com protagonista negra da Globo, de 2004]. Comemoramos de nove em nove anos. Não suportamos mais esses "calmantes"."
A atriz Zezé Motta, fundadora da ONG Cidan (Centro de Informação e Documentação do Artista Negro), recebe a notícia da TV da Gente com "emoção". "É uma vitória, prova de que não devemos esmorecer diante das dificuldades. A mídia melhorou desde que comecei a atuar, há 36 anos, mas nosso espaço ainda é restrito."
O cineasta Joel Zito Araújo, que poderá dirigir uma minissérie para o canal, espera que Netinho "emplaque a TV". Ele é autor do livro e documentário "A Negação do Brasil", que denuncia a reduzida participação de negros nas telenovelas. "Precisamos de ações inovadoras, que quebrem tabus e elevem a auto-estima dos negros."
A atriz Ruth de Souza parabeniza Netinho e deseja sucesso ao canal, mas diz ter "receio" da imagem de "TV de negros". "Pode ser perigoso num Brasil mestiço, soar como segregação. Todos, brancos e negros, temos de trabalhar juntos."
Segundo Netinho, a idéia não é criar uma "TV de negros", mas que dê espaço a profissionais afrodescendentes atrás e diante das câmeras. Todas as raças, garante ele, poderão ter participação. "Não cometeremos o mesmo erro que vemos na TV brasileira há 55 anos."
A TV terá como geradora um canal de Eusébio, no Ceará. De acordo com Netinho, há negociações com duas emissoras UHF de SP para retransmitir o canal. Tentará convencer TVs pagas a distribuírem o canal.
Seu sonho é ter cobertura nacional. Admite ser uma proposta ambiciosa, já que não é simples conseguir emissoras abertas. "Buscaremos prefeituras que já tenham concessão de TV e precisem de conteúdo."
A sede ocupará instalações da extinta TV Manchete em SP. Netinho contratou 80 profissionais, entre eles Cinthya Raquel (ex-"Castelo Rá-Tim-Bum"), como apresentadora infantil, e Conceição Lourenço (ex-revista "Raça Brasil"), para a direção de jornalismo. Deverá dirigir um programa o cineasta Jeferson De, autor de manifesto do cinema negro.
O investimento inicial é de R$ 12 milhões (R$ 3 mi de investidores angolanos e o restante de Netinho e seus parceiros comerciais). Haverá uma sitcom (série cômica), "Jornal Feliz", sobre uma família de baixa renda e, se a Record concordar, reprise da "Turma do Gueto".


Colaborou LÚCIA VALENTIM RODRIGUES, da Reportagem Local

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