|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Netinho pedirá a Oprah apoio a sua nova TV
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O pagodeiro e empresário
Netinho de Paula viaja hoje aos
Estados Unidos a fim de traçar
parcerias para o canal que lançará em novembro. Ele arma
um encontro com a apresentadora Oprah Winfrey (no ar no
Brasil pelo GNT), militante da
comunidade negra. O objetivo
é pedir à celebridade mais poderosa do mundo (segundo a
revista "Forbes") apoio à TV da
Gente, cujo propósito é abrir
espaço a afrodescendentes.
Ele disse à Folha que tentará
fazer com que Oprah grave um
depoimento para a estréia da
emissora, em 20/11, Dia Nacional da Consciência Negra.
Nos EUA, terá também reunião na BET (Black Entertainment Television), voltada à comunidade negra, para negociar
troca de programação.
Reconhecido por sua militância nessa área, Netinho é
apresentador do "Domingo da
Gente" e idealizador do bem-sucedido seriado "Turma do
Gueto" (ambos da Record).
Tentou emplacar sitcom (série cômica) sobre uma família
negra e de periferia na Record e
Rede TV!. "Sempre ouvi que
não haveria interesse do mercado publicitário. Meu programa e a nova emissora provam
que isso não é verdade", diz.
Afirma ter desistido de tentar
mais espaço nas redes. "Na teledramaturgia, vejo a mesma
vergonha de sempre. Quando
foi ao ar "A Próxima Vítima"
[Globo, 95], ficamos felizes por
ver uma família negra na TV.
Depois, só em "Da Cor do Pecado" [a primeira com protagonista negra da Globo, de 2004].
Comemoramos de nove em
nove anos. Não suportamos
mais esses "calmantes"."
A atriz Zezé Motta, fundadora da ONG Cidan (Centro de
Informação e Documentação
do Artista Negro), recebe a notícia da TV da Gente com
"emoção". "É uma vitória, prova de que não devemos esmorecer diante das dificuldades. A
mídia melhorou desde que comecei a atuar, há 36 anos, mas
nosso espaço ainda é restrito."
O cineasta Joel Zito Araújo,
que poderá dirigir uma minissérie para o canal, espera que
Netinho "emplaque a TV". Ele
é autor do livro e documentário "A Negação do Brasil", que
denuncia a reduzida participação de negros nas telenovelas.
"Precisamos de ações inovadoras, que quebrem tabus e elevem a auto-estima dos negros."
A atriz Ruth de Souza parabeniza Netinho e deseja sucesso ao canal, mas diz ter "receio"
da imagem de "TV de negros".
"Pode ser perigoso num Brasil
mestiço, soar como segregação. Todos, brancos e negros,
temos de trabalhar juntos."
Segundo Netinho, a idéia não
é criar uma "TV de negros",
mas que dê espaço a profissionais afrodescendentes atrás e
diante das câmeras. Todas as
raças, garante ele, poderão ter
participação. "Não cometeremos o mesmo erro que vemos
na TV brasileira há 55 anos."
A TV terá como geradora um
canal de Eusébio, no Ceará. De
acordo com Netinho, há negociações com duas emissoras
UHF de SP para retransmitir o
canal. Tentará convencer TVs
pagas a distribuírem o canal.
Seu sonho é ter cobertura nacional. Admite ser uma proposta ambiciosa, já que não é
simples conseguir emissoras
abertas. "Buscaremos prefeituras que já tenham concessão de
TV e precisem de conteúdo."
A sede ocupará instalações da
extinta TV Manchete em SP.
Netinho contratou 80 profissionais, entre eles Cinthya Raquel (ex-"Castelo Rá-Tim-Bum"), como apresentadora
infantil, e Conceição Lourenço
(ex-revista "Raça Brasil"), para
a direção de jornalismo. Deverá dirigir um programa o cineasta Jeferson De, autor de
manifesto do cinema negro.
O investimento inicial é de R$
12 milhões (R$ 3 mi de investidores angolanos e o restante de
Netinho e seus parceiros comerciais). Haverá uma sitcom
(série cômica), "Jornal Feliz",
sobre uma família de baixa renda e, se a Record concordar, reprise da "Turma do Gueto".
Colaborou LÚCIA VALENTIM RODRIGUES, da Reportagem Local
Texto Anterior: Crítica: Com linguagem televisiva, filme se perde na condução dos atores Próximo Texto: "Diário de um Novo Mundo": Sem unidade, épico sulista funde drama de amor e ocupação açoriana Índice
|