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Crítica/"Carrie, a Estranha"
De Palma faz mistura de sexo e terror
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Já faz agora mais de 30 anos
que "Carrie, a Estranha" (TC
Cult, 22h) entrou no mundo do
cinema, pelas mãos de Brian
De Palma, renovando o conceito de filme de terror, retirando-o do mundo sobrenatural, explicitando-lhe o caráter sexual.
Sim, porque não há em "Carrie" terror que não passe pela
sexualidade. Existe, para começar, o sangue menstrual que
jorra de uma jovem como se
atravessada por um punhal. A
descoberta da feminilidade
equivale, aqui, a um crime. Há
também as garotas do colégio:
delinqüentes às voltas com
uma erotização a que não conseguem dar saída, exceto pela
agressividade.
Existe, em oposição a esse
mundo erotizado, a permanência de um puritanismo radical,
em que todo o mal passa pelo
corpo: somos filhos do pecado
original, sujos por natureza.
Isso estourou num momento
em que a sexualidade era tida
como natural. Brian De Palma,
misógino por excelência, ia na
contracorrente desse ideário
simplificador. Estava mais próximo de Antonin Artaud, para
quem o sexo era sombrio.
O fato é que cada cena parece
tocada por um vermelho infernal, por uma intensidade quase
abusiva que banha esses personagens. Talvez por isso fosse
mesmo necessário que, ao final, "Carrie" desse um salto do
terror natural ao sobrenatural.
Não apenas um susto derradeiro, e sim uma maneira de lembrar que o "além túmulo" é logo ali, a sete palmos, e um produto de nossas fantasias.
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