São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2008

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Além da construção

11ª Bienal de Arquitetura de Veneza traz videoinstalações, grafites, HQs -e quase nada dos usuais croquis e maquetes

Vincenzo Pinto/France Presse
"Lotus', experimento que conjuga casa e mobília, da iraquiana Zaha Hadid

MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Uma videoinstalação com cenas de filmes. Uma obra que gera imagens e sons a partir das batidas do coração do espectador. Uma compilação de vídeos retirados da internet dispostos em uma sala cheia de pufes.
Grafites e histórias em quadrinhos em salas especiais.
Parece a descrição de uma mostra de arte contemporânea, mas é a 11ª Bienal de Arquitetura de Veneza, aberta ao público anteontem -em cartaz até 23 de novembro.
O curador da mostra, o norte-americano Aaron Betsky, optou por uma estratégia de risco ao lançar mão de montagem e seleção inusuais. A presença de maquetes, croquis e painéis, comum em exposições da área, é quase nula em Veneza, cuja mostra tem como título "Out There: Architecture Beyond Building" (lá fora: arquitetura além da construção).
"Temos de apoiar a capacidade do arquiteto de ver, experimentar, explorar, imaginar", disse o presidente da Fundação Bienal de Veneza, Paolo Baratta, na entrega dos Leões de Ouro, no último sábado (leia texto nesta página). "Uma Bienal com essa proposta só pode ter sido feita com paixão e imenso envolvimento", disse Betsky, atual diretor do Museu de Arte de Cincinnati, nos EUA. "A saída foi recolher e encorajar a experimentação: aquela da estrutura efêmera, da visão de outros mundos ou da prova tangível de um mundo melhor."

Divisões
Uma das principais evidências da diferença, uma videoinstalação, "Hall of Fragments", de David Rockwell, Casey Jones e Reed Kroloff, está no início da seção "Instalações", o coração da mostra, no prédio do Arsenale. Dividida em 40 espaços/ participantes, a seção usa uma série de recursos audiovisuais e de montagem para capturar a atenção.
"Hall of..." é bem-sucedida nessa abordagem, ao exibir cenas de cinema que retratam cidades de todo o tipo. Há as referências futuristas -como "Alphaville", de Godard-, espaços intimistas -como os de "A Noite", de Antonioni- e recortes surpreendentes, como os de "O Iluminado", de Kubrick.
Já a instalação da dupla austríaca Coop Himmelb(l)au, "Feed Back Space", é um aperfeiçoamento de outra obra, "Astroballon", de 1969. O trabalho atual consiste em uma esfera transparente que captura os batimentos cardíacos de dois espectadores e os transforma em imagens e sons que são exibidos e veiculados em quatro placas metálicas acima da esfera. Segundo os autores, é um diálogo com os ritmos da cidade contemporânea.
Outro destaque do segmento é "Mimetic Interpretations of Urban Fabric", que mistura colagem, desenho, grafite e assemblage, da dupla holandesa Kramervanderveer. "Instalações" também conta com um ambiente doméstico desenhado para ser informatizado e interligado, criado por Vicente Guallart; uma casa tomada por tubulações, dos croatas Penezic & Rojina, e "Furnivehicles", dos japoneses do Ateliê Bow Wow, protótipos que fundem carros e móveis cotidianos, como uma pia de cozinha.

Outros espaços
O experimentalismo e o viés conceitual continuam em outros ambientes fora do Arsenale, como nos Giardini (jardins), onde ficam os pavilhões nacionais. Na representação da Itália são apresentadas as exposições "Arquitetura Experimental" e "Uploadcity" -esta última com vídeos da internet sobre situações urbanas. Em "Arquitetura...", prevalecem os trabalhos colaborativos, tendo como destaque uma HQ sobre Dubai, de Wes Jones, e os edifícios ecológicos dos espanhóis do escritório de arquitetura Cloud 9.
Ecologia e sustentabilidade, aliás, estão por toda parte, com destaque para o pavilhão dinamarquês, que discute a arquitetura junto de questões como o Protocolo de Kyoto, o aquecimento global e a reciclagem.


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