São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2008

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Na rede

Em busca da conexão perfeita

Artista francesa quer realizar leitura contínua, com 170 horas, de "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust; 3.000 pessoas gravarão trechos com webcams

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A versão curta da história foi realizada em 1972, pelos humoristas ingleses do Monty Python. Numa esquete para o seu programa de TV, apresentaram o "All-England Summarize Proust Competition". Como o nome diz, os participantes dessa espécie de concurso de calouros tinham que resumir os sete volumes da obra maior de Marcel Proust (1871-1922), "Em Busca do Tempo Perdido", em 15 segundos.
A versão longa deve ocorrer, se tudo der certo, a partir do meio-dia (em Greenwich) do próximo dia 27, e pode se tornar o maior filme da história.
A artista francesa Véronique Aubouy pretende distribuir as milhares de páginas da obra entre desejados 3.000 inscritos no site do projeto (www.lebaiserdelamatrice.fr). Cada um será informado da página específica e do horário em que deve fazer a leitura, e todos juntos, diante de suas webcams espalhadas ao redor do mundo, comporão coletivamente um filme de aproximadamente 170 horas, a ser transmitido no mesmo endereço.
Até a manhã de ontem, já havia 881 pessoas inscritas, de todas as partes do planeta -a leitura, no entanto, terá que ser feita sempre em francês. Do Brasil, eram 34 inscritos.
Entre elas, o tradutor Sergio Flaksman e o fotógrafo e advogado Eduardo Muylaert. Cada participante pode escolher o local em que fará a leitura. Flaksman afirma que ainda não sabe onde acontecerá a sua, já que estará viajando pela Europa no período de realização do filme. "Onde estiver, ligo meu laptop e leio", ele diz. Muylaert estará no Brasil, mas diz que também não pensou em um cenário específico. "Vou tentar encontrar o lugar mais bacana na hora."
Muitos dos participantes dizem, em rápidos relatos para o site da artista, que não leram a obra completa. É o caso de Muylaert e Flaksman. O tradutor afirma ter lido os dois primeiros volumes, "No Caminho de Swann" e "À Sombra das Raparigas em Flor". Muylaert diz não ser "um grande leitor de Proust, como aliás a maioria não é". "Ele é uma espécie de ilustre semidesconhecido."
Ainda pairam dúvidas sobre a viabilidade do projeto. Fazer a reprodução completa de "Em Busca do Tempo Perdido" parece ser tão difícil quanto resumir essa extensa obra sobre a relação entre memória, imaginação e realidade em apenas 15 segundos.
Num outro projeto, chamado "Proust lido", Aubouy vem registrando desde 1993 a mesma obra do escritor francês. Já foram rodadas 77 horas de leitura de 789 participantes. A artista diz esperar concluir o trabalho até 2050. Trata-se de um "compromisso para a vida toda", segundo ela.
No caso do projeto do próximo dia 27, Muylaert diz ter recebido um email de Aubouy em que ela pedia que os participantes conseguissem novos voluntários, e questionava: "Será que cada um de nós consegue mais um [leitor]? Será que a utopia vai virar realidade?".
Há poucas semanas, um encontro entre os participantes do projeto foi marcado no mundo virtual Second Life. Nem Flaksman nem Muylaert participaram (a reunião, de toda forma, não era essencial para a organização da empreitada). "Para mim, isso é moderno demais", diz Muylaert. "Recebi o convite para esse encontro nesse "outro mundo", de realidade virtual, que não freqüento", afirma Flaksman.
Até o final da semana passada, os participantes ainda não haviam recebido instruções sobre horário e trecho a ser lido.


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