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O JULGAMENTO DE SIMONAL
Simoninha defende causa do pai na OAB; cantor marcou encontros com Chico e Caetano nos 80
"Queriam dar um sumiço nele na época"
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a disseminação da alcunha de "dedo-duro" em órgãos de
imprensa como "O Pasquim",
Wilson Simonal saiu da gravadora Odeon, mas continuou gravando discos, desta vez pela Philips, a
mesma gravadora de Chico Buarque e Caetano Veloso.
O então diretor da Philips, André Midani, afirmou em entrevista à Folha em 2001 que contratara
Simonal por imposição do regime
militar. "Tive que ir artista por artista, entre os mais importantes,
explicando que ia ter que contratá-lo", disse. Hoje Midani afirma
que não quer voltar ao assunto.
Consumada a condenação informal pela esquerda, veio então o
julgamento pela direita. Simonal
só voltou ao noticiário em novembro de 74, no desenlace do caso policial com o contador (que,
segundo a família de Simonal, desapareceu após esse episódio).
Acusado pelo contador de sequestro, coação e extorsão, foi
condenado a cinco anos de prisão, pelo terceiro crime. Também
julgado, o policial que conduziu a
sessão no Dops, Mário Borges (já
morto), foi absolvido.
Na ocasião, a imprensa publicou a afirmação, por parte de Borges, de que Simonal afirmara em
juízo que era informante do regime militar -o que o músico seguiu negando até a morte.
Por habeas corpus, Simonal foi
solto uma semana depois e cumpriu pena em liberdade. Numa
das poucas declarações à imprensa na ocasião, citou o maestro Erlon Chaves, seu parceiro próximo
e figura de destaque no movimento black power do início dos 70.
Erlon morrera de infarto aos 40
anos, no dia seguinte à prisão de
Simonal. "Ele morreu por minha
causa, eu não merecia uma homenagem tão grande", disse.
Crianças à época, os filhos de Simonal, Wilson Simoninha, 40, e
Max de Castro, 30, guardam memórias difusas do tempo da prisão. "Ele pagou uma pena que
ninguém mais nessa situação pagou. O dia da prisão foi o pior da
minha vida", diz Simoninha, que
afirma acreditar irrestritamente
na inocência do pai e tomou para
si a causa do fã potiguar João Bastos Santana Filho, 51.
Max, que tinha dois anos e estava com o pai no ato da prisão, lança mais um dado: "A gente sabe
que pessoas queriam matar ele
naquela época. Não sabemos
quem foi, mas havia um plano de
dar um sumiço nele".
"No auge disso tudo ele estava
no momento mais feliz da sua vida. O condenado pela agressão foi
meu pai, mas como uma pessoa
civil pode agredir alguém dentro
das dependências do Dops?"
Dali em diante, Simonal gravou
discos largamente ignorados na
mídia, mergulhou no alcoolismo
e tentou de forma intermitente
denunciar o boicote a seu nome e
pedir socorro a colegas.
Nos anos 80, chegou a se encontrar com Caetano Veloso, que
lembra: "Senti muita ternura por
ele. Mas achei que as palavras de
encorajamento e solidariedade
que disse caíram num pântano de
desesperança autodestrutiva".
Outra tentativa de encontro foi
com Chico Buarque, que, segundo o fã Santana Filho, teria recusado o pedido. Por meio de sua
assessoria de imprensa, Chico
afirma que topou o encontro por
razões humanitárias, porque se
teria dito que Simonal tentara o
suicídio. Chico teria ido ao encontro, mas Simonal, não.
Simonal morreu em junho de
2000, ainda clamando sua inocência. Pelo princípio constitucional
agora relembrado pela OAB,
morreu inocente -até que alguém venha provar o contrário.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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