|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EXPOSIÇÃO
Em seu novo trabalho, o norte-americano utiliza som e linguagem para preencher espaço
Nauman faz colagem de vozes humanas
JOAQUÍN RÁBAGO
DA EFE
O norte-americano Bruce Nauman encheu de vozes humanas o
gigantesco espaço da Sala das
Turbinas na Tate Modern Gallery,
que, desde sua inauguração, em
2000, como ampliação da mais
conhecida galeria britânica de arte moderna, se converteu em poderosa atração para os londrinos e
os turistas em geral.
À fascinação visual da mais recente exposição, chamada "Weather Project", do dinamarquês
Oliafur Eliasson, consistindo de
um gigantesco sol que enchia a sala de uma estranha luz difusa e
diante do qual as pessoas caíam
ao chão para ver a imagem refletida no espelho do teto altíssimo,
segue-se agora uma mostra puramente acústica.
Intitulada "Raw Materials"
[matérias-primas], a montagem
de Nauman, nascido em 1941, utiliza 21 gravações de som realizadas nos últimos 30 anos, combinadas pelo artista para criar uma
"colagem" de vozes. O som funciona, de certa forma, como material invisível de escultura, de maneira que o visitante possa explorar sua relação com o espaço vazio de um edifício que, em sua origem, tinha uso industrial, antes de
ser transformado em museu de
arte contemporânea.
À medida que o visitante avança
pela sala gigantesca, totalmente
vazia, escuta textos distintos, alguns gritados, outros sussurrados, e sempre repetitivos, que lhe
chegam vindos de alto-falantes
instalados sobre colunas de ferro
dispostas em intervalos regulares.
O visitante pode selecionar seu
percurso, voltar atrás ou interromper a visita a qualquer momento.
Caso se aproxime de quaisquer
dos alto-falantes, escuta os sons
de maneira distinta, mas, quando
se afasta e se posiciona no centro
da sala, fica envolvido por uma
gritaria angustiada e confusa que
às vezes causa a impressão do inferno imaginado por Dante em
sua "Divina Comédia".
"Raw Materials", de qualquer
forma, é uma "obra aberta", que
sugerirá coisas distintas a cada
pessoa, sobre a qual é perceptível
a influência da música aleatória e
minimalista de John Cage ou Philip Glass e também a da visão de
mundo, em parte obsessiva e em
parte desesperada, do escritor Samuel Beckett.
Em declarações à imprensa,
Nauman disse que se orientou basicamente pela intensidade e pelo
ritmo, na hora de montar os elementos extraídos de seus vídeos
anteriores. Ele afirmou que havia
se sentido intimidado e que encarou o espaço da galeria como desafio. A curadora da exposição,
Emma Dexter, indicou a importância da linguagem na obra, linguagem simples nos termos utilizados, mas que, graças à repetição
contínua das mesmas palavras,
adquire imediatamente uma
grande ambigüidade quanto à
função que desempenha.
Outro elemento a destacar na
obra de Nauman é a presença do
tempo: o artista mesmo se referiu
ocasionalmente aos filmes de
Andy Warhol, de horas de duração, nos quais nada acontece, exceto o transcorrer do tempo em si.
Na instalação da Tate Modern Gallery, o artista norte-americano
conseguiu jogar de maneira muito inteligente elementos distintos
como o som, a linguagem e o espaço, entre os quais os visitantes
avançam, consumindo tempo.
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: "João do Rio, um Dândi na Cafelândia": Textos pintam cidade com tintas da tradição Próximo Texto: Panorâmica - Arte 1: Identificados envolvidos no roubo de Munch Índice
|