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MÚSICA
Alertado por fã que conseguiu músicas por programa de troca na internet, Max de Castro, filho do músico, quer relançar "Mexico '70"
Filho acha disco inédito do auge de Simonal
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Houve um período na história
da música brasileira em que Wilson Simonal era o maior cantor
do país. Não apenas em popularidade mas também pela qualidade
e originalidade de sua música. Entre meados de 1967 e meados de
1970, o único cantor brasileiro
que podia se dizer páreo para ele
era, no máximo, Roberto Carlos,
que já estava em processo de se
tornar um cantor "sério".
E foi exatamente nesse momento, no auge, em 1970, que Simonal
gravou um disco sempre excluído
de todas as suas discografias, que
acaba de ser redescoberto por seu
filho, Max de Castro, 35 anos depois. O tal disco, chamado "Mexico '70", foi lançado no país e ano
que lhe dão título e nunca chegou
ao mercado brasileiro -nem sua
gravadora por aqui sabia de sua
existência.
Max, também músico e cantor,
foi um dos responsáveis pela caixa lançada no ano passado com a
reedição de todos os discos lançados por Simonal na gravadora
Odeon, entre 1961 e 1971. Assim,
teve acesso aos tapes e fichas técnicas de todas as gravações feitas
nesse período por Simonal no
Brasil -e lá não havia nenhum
registro do tal disco mexicano.
Pirataria do bem
A descoberta aconteceu por
acaso, através de um fã que conseguiu a raridade em um programa
de troca de músicas na internet e
entrou em contato com Max. Coisas de um mundo globalizado. É a
"pirataria do bem", colocada a
serviço da preservação da nossa
memória musical.
Max conta mais detalhes: "Há
uns dois meses recebi um e-mail
de uma pessoa me perguntando
por que o "disco do México", que
ele havia baixado na internet, não
tinha saído na caixa com os discos
do Simonal na Odeon. Nós sabíamos da existência de um disco
gravado no México em 1975, então eu expliquei que o disco já
pertencia a outra gravadora e estaria provavelmente em uma próxima caixa. Essa pessoa me mandou, então, uma imagem da capa
do disco. Quando vi a lista das
músicas, percebi que era outro álbum, que eu nunca tinha visto
nem ouvido nem sabia que existia!".
O susto foi ainda maior ao perceber que era uma gravação inédita no Brasil da fase mais inspirada do cantor. Quando o ano de
1970 começou, Simonal estava pegando fogo. Vinha do sucesso da
série de discos "Alegria, Alegria",
da alta rotatividade do compacto
com "País Tropical" e de um famoso show no Maracanãzinho
em que havia "regido" sozinho 30
mil pessoas.
A Shell, patrocinadora da seleção brasileira de futebol, que, naquele ano, com Pelé, Tostão, Rivelino, Gérson e Carlos Alberto, ganharia o tricampeonato mundial
no México, ofereceu a Simonal
um contrato milionário sem precedentes. A idéia era associar a
imagem de sucesso do cantor à
seleção e levá-lo para cantar no
país onde seriam disputados os
jogos.
E foi por lá mesmo que provavelmente aconteceu a maior parte
das gravações do álbum. Das 12
faixas do LP, quatro foram gravadas e chegaram a ser lançadas por
aqui, em um compacto duplo.
Outra foi lado B de um compacto
simples. As outras sete permanecem inéditas em qualquer formato no Brasil.
No fim de 1970, Simonal lançaria seu penúltimo disco pela
Odeon, "Simonal" (também conhecido como "Simona"), já entrando em uma fase diferente,
mais "adulta", deixando um pouco de lado seu espírito mais zombeteiro para fazer música tão boa
quanto antes, mas com menos
humor. O que pode indicar que
"Mexico '70" pode ser o último
registro do Simonal que entrou
para a história: malandro, cheio
de si, "pilantra", sempre tirando
sarro da sisudez da música brasileira mais "séria".
Segundo Max, a idéia agora é
planejar e tentar um relançamento do disco em CD -inclusive em
outros países, nos EUA, na Europa. Com acompanhamento do
Som Três (do pianista Cesar Camargo Mariano), o disco tem clima internacional, misturando sua
famosa "pilantragem" (um cruzamento de soul-jazz, samba e o
pop festeiro internacional de
Chris Montez que era a marca registrada de Simonal) com interpretações de canções americanas
e até uma em italiano.
Mas antes é preciso localizar os
tapes com as masters das gravações ou, pelo menos, conseguir
uma cópia do LP original. "Agora
a gente está na batalha pelo disco.
Caso a gente não ache os tapes,
pelo menos podemos tirar do LP.
Apesar da qualidade ser inferior,
às vezes é impossível achar as fitas
originais", lembra Max.
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