São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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MÚSICA

Alertado por fã que conseguiu músicas por programa de troca na internet, Max de Castro, filho do músico, quer relançar "Mexico '70"

Filho acha disco inédito do auge de Simonal

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Houve um período na história da música brasileira em que Wilson Simonal era o maior cantor do país. Não apenas em popularidade mas também pela qualidade e originalidade de sua música. Entre meados de 1967 e meados de 1970, o único cantor brasileiro que podia se dizer páreo para ele era, no máximo, Roberto Carlos, que já estava em processo de se tornar um cantor "sério".
E foi exatamente nesse momento, no auge, em 1970, que Simonal gravou um disco sempre excluído de todas as suas discografias, que acaba de ser redescoberto por seu filho, Max de Castro, 35 anos depois. O tal disco, chamado "Mexico '70", foi lançado no país e ano que lhe dão título e nunca chegou ao mercado brasileiro -nem sua gravadora por aqui sabia de sua existência.
Max, também músico e cantor, foi um dos responsáveis pela caixa lançada no ano passado com a reedição de todos os discos lançados por Simonal na gravadora Odeon, entre 1961 e 1971. Assim, teve acesso aos tapes e fichas técnicas de todas as gravações feitas nesse período por Simonal no Brasil -e lá não havia nenhum registro do tal disco mexicano.

Pirataria do bem
A descoberta aconteceu por acaso, através de um fã que conseguiu a raridade em um programa de troca de músicas na internet e entrou em contato com Max. Coisas de um mundo globalizado. É a "pirataria do bem", colocada a serviço da preservação da nossa memória musical.
Max conta mais detalhes: "Há uns dois meses recebi um e-mail de uma pessoa me perguntando por que o "disco do México", que ele havia baixado na internet, não tinha saído na caixa com os discos do Simonal na Odeon. Nós sabíamos da existência de um disco gravado no México em 1975, então eu expliquei que o disco já pertencia a outra gravadora e estaria provavelmente em uma próxima caixa. Essa pessoa me mandou, então, uma imagem da capa do disco. Quando vi a lista das músicas, percebi que era outro álbum, que eu nunca tinha visto nem ouvido nem sabia que existia!".
O susto foi ainda maior ao perceber que era uma gravação inédita no Brasil da fase mais inspirada do cantor. Quando o ano de 1970 começou, Simonal estava pegando fogo. Vinha do sucesso da série de discos "Alegria, Alegria", da alta rotatividade do compacto com "País Tropical" e de um famoso show no Maracanãzinho em que havia "regido" sozinho 30 mil pessoas.
A Shell, patrocinadora da seleção brasileira de futebol, que, naquele ano, com Pelé, Tostão, Rivelino, Gérson e Carlos Alberto, ganharia o tricampeonato mundial no México, ofereceu a Simonal um contrato milionário sem precedentes. A idéia era associar a imagem de sucesso do cantor à seleção e levá-lo para cantar no país onde seriam disputados os jogos.
E foi por lá mesmo que provavelmente aconteceu a maior parte das gravações do álbum. Das 12 faixas do LP, quatro foram gravadas e chegaram a ser lançadas por aqui, em um compacto duplo. Outra foi lado B de um compacto simples. As outras sete permanecem inéditas em qualquer formato no Brasil.
No fim de 1970, Simonal lançaria seu penúltimo disco pela Odeon, "Simonal" (também conhecido como "Simona"), já entrando em uma fase diferente, mais "adulta", deixando um pouco de lado seu espírito mais zombeteiro para fazer música tão boa quanto antes, mas com menos humor. O que pode indicar que "Mexico '70" pode ser o último registro do Simonal que entrou para a história: malandro, cheio de si, "pilantra", sempre tirando sarro da sisudez da música brasileira mais "séria".
Segundo Max, a idéia agora é planejar e tentar um relançamento do disco em CD -inclusive em outros países, nos EUA, na Europa. Com acompanhamento do Som Três (do pianista Cesar Camargo Mariano), o disco tem clima internacional, misturando sua famosa "pilantragem" (um cruzamento de soul-jazz, samba e o pop festeiro internacional de Chris Montez que era a marca registrada de Simonal) com interpretações de canções americanas e até uma em italiano.
Mas antes é preciso localizar os tapes com as masters das gravações ou, pelo menos, conseguir uma cópia do LP original. "Agora a gente está na batalha pelo disco. Caso a gente não ache os tapes, pelo menos podemos tirar do LP. Apesar da qualidade ser inferior, às vezes é impossível achar as fitas originais", lembra Max.


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