São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARQUITETURA

Crusp, de Kneese de Mello, sofreu alterações ao longo dos anos; além dele, Bienal homenageia Millan e Ícaro

Modernidade de projeto na USP se perde

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A arquitetura brasileira do século 20 não tem só momentos de pleno êxito, como a construção de Brasília e a realização do prédio do MEC, no Rio.
É também a história da desfiguração de projetos com grandes inovações para a época, que sofreram desde uma implantação errada já em seu início e que hoje guardam raros elementos que deles faziam um marco.
O Crusp (Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo) parece sintetizar essa trajetória melancólica. O projeto é assinado por Eduardo Kneese de Mello (1906-1994), que será um dos vértices da tríade de nomes importantes da produção paulista que serão homenageados pela 6ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. O evento começa no próximo sábado na Fundação Bienal de São Paulo, no parque Ibirapuera.
A Folha convidou os curadores das salas dos três arquitetos com homenagens especiais -além de Kneese, Ícaro de Castro Mello (1913-1986) e Carlos Millan (1927-1964)- para visitar obras-chave dos arquitetos.
O panorama oscilou da decepção ao constatar as modificações -no caso de Kneese- ao agrado -com o projeto quase intacto de Millan. O legado de Ícaro de Castro Mello ainda precisa de cuidados maiores, segundo os curadores, mas não chega a estar desfigurado.

Kneese
O projeto do conjunto residencial para os estudantes da USP é de 1961, mas começou a ser implantado no ano seguinte. Também assinado por Joel Ramalho Jr. e Sidney de Oliveira, tinha uma série de inovações técnicas para a época. Kneese havia trabalhado na realização de Brasília, em 1960, e antes participara do projeto do parque Ibirapuera, em 1954, com Oscar Niemeyer, Hélio Uchoa e Zenon Lotufo.
"A utilização de elementos pré-fabricados foi apenas uma das novidades apresentadas por Kneese", afirma uma das curadoras da sala do arquiteto na Bienal, Aline Regino. A curadoria também é acumulada pelas arquitetas Camilla Pilosio e Rosa Carlos, além do professor Ademir Pereira dos Santos, do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
"Foi a primeira vez em que se usou em larga escala o pré-fabricado para os custos diminuírem", conta Ramalho Jr., 70, arquiteto e professor da PUC em Curitiba.
"Ele foi um verdadeiro pai "arquitetônico" para mim. Eu tinha apenas 25 anos quando comecei a trabalhar em seu escritório e passei por um grande aprendizado", diz ele.
Visitando o Crusp, Aline Regino lista a série de elementos de grande qualidade previstos por Kneese. "Os térreos eram livres, mostrando os pilotis. Hoje, foram todos fechados e ganharam outro uso."
Isso é bastante visível no bloco A, o mais próximo à avenida Professor Mello de Moraes, onde uma grade cerca o térreo e uma série de painéis de alumínio esconde as roupas estendidas. "Olhe aquele "puxadinho'", aponta a curadora, onde a grade invade ainda mais a área gramada com uma lavanderia improvisada.
A lista de elementos abandonados pensados por Kneese segue longe: a área livre de 80 metros entre os blocos às vezes é invadida por uma série de construções, como as "colméias", com uma série de núcleos da universidade, e a sede da Coseas, órgão que cuida da assistência social da USP.
"Alguns materiais também foram pintados, o que faz com que aumente os custos da manutenção", diz Regino. Ao mesmo tempo, persistem poucos materiais originais coloridos, como os peitoris de "formiplac" (um tipo de fórmica).
Mas há elementos que resistem, como as escadas de emergência que terminam no primeiro andar.
Procurada pela reportagem entre terça, dia 11, e sexta, dia 14, a Coesp-USP, que cuida do espaço físico da universidade, não respondeu à Folha.


Texto Anterior: Televisão: Record prepara seu "arsenal" contra "Bang Bang" da Globo
Próximo Texto: 6ª Bienal tem início no sábado no Ibirapuera
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.