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ARQUITETURA
Crusp, de Kneese de Mello, sofreu alterações ao longo dos anos; além dele, Bienal homenageia Millan e Ícaro
Modernidade de projeto na USP se perde
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A arquitetura brasileira do século 20 não tem só momentos de
pleno êxito, como a construção de
Brasília e a realização do prédio
do MEC, no Rio.
É também a história da desfiguração de projetos com grandes
inovações para a época, que sofreram desde uma implantação errada já em seu início e que hoje
guardam raros elementos que deles faziam um marco.
O Crusp (Conjunto Residencial
da Universidade de São Paulo)
parece sintetizar essa trajetória
melancólica. O projeto é assinado
por Eduardo Kneese de Mello
(1906-1994), que será um dos vértices da tríade de nomes importantes da produção paulista que
serão homenageados pela 6ª Bienal Internacional de Arquitetura
de São Paulo. O evento começa no
próximo sábado na Fundação
Bienal de São Paulo, no parque
Ibirapuera.
A Folha convidou os curadores
das salas dos três arquitetos com
homenagens especiais -além de
Kneese, Ícaro de Castro Mello
(1913-1986) e Carlos Millan (1927-1964)- para visitar obras-chave
dos arquitetos.
O panorama oscilou da decepção ao constatar as modificações
-no caso de Kneese- ao agrado
-com o projeto quase intacto de
Millan. O legado de Ícaro de Castro Mello ainda
precisa de cuidados maiores, segundo os curadores, mas não chega a estar desfigurado.
Kneese
O projeto do conjunto residencial para os estudantes da USP é
de 1961, mas começou a ser implantado no ano seguinte. Também assinado por Joel Ramalho
Jr. e Sidney de Oliveira, tinha uma
série de inovações técnicas para a
época. Kneese havia trabalhado
na realização de Brasília, em 1960,
e antes participara do projeto do
parque Ibirapuera, em 1954, com
Oscar Niemeyer, Hélio Uchoa e
Zenon Lotufo.
"A utilização de elementos pré-fabricados foi apenas uma das novidades apresentadas por Kneese", afirma
uma das curadoras da sala do arquiteto na Bienal, Aline Regino. A
curadoria também é acumulada
pelas arquitetas Camilla Pilosio e
Rosa Carlos, além do professor
Ademir Pereira dos Santos, do
Centro Universitário Belas Artes
de São Paulo.
"Foi a primeira vez em que se
usou em larga escala o pré-fabricado para os custos diminuírem",
conta Ramalho Jr., 70, arquiteto e
professor da PUC em Curitiba.
"Ele foi um verdadeiro pai "arquitetônico" para mim. Eu tinha
apenas 25 anos quando comecei a
trabalhar em seu escritório e passei por um grande aprendizado",
diz ele.
Visitando o Crusp, Aline Regino lista a série de elementos de
grande qualidade previstos por
Kneese. "Os térreos eram livres,
mostrando os pilotis. Hoje, foram
todos fechados e ganharam outro
uso."
Isso é bastante visível no bloco
A, o mais próximo à avenida Professor Mello de Moraes, onde
uma grade cerca o térreo e uma
série de painéis de alumínio esconde as roupas estendidas.
"Olhe aquele "puxadinho'", aponta a curadora, onde a grade invade
ainda mais a área gramada com
uma lavanderia improvisada.
A lista de elementos abandonados pensados por Kneese segue
longe: a área livre de 80 metros
entre os blocos às vezes é invadida
por uma série de construções, como as "colméias", com uma série
de núcleos da universidade, e a sede da Coseas, órgão que cuida da
assistência social da USP.
"Alguns materiais também foram pintados, o que faz com que
aumente os custos da manutenção", diz Regino. Ao mesmo tempo, persistem poucos materiais
originais coloridos, como os peitoris de "formiplac" (um tipo de
fórmica).
Mas há elementos que resistem,
como as escadas de emergência
que terminam no primeiro andar.
Procurada pela reportagem entre terça, dia 11, e sexta, dia 14, a
Coesp-USP, que cuida do espaço
físico da universidade, não respondeu à Folha.
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