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GUILHERME WISNIK
Cultura popular industrial
Densa e econômica, mostra no MAM dá a dimensão do salto vanguardista anunciado nos anos 50
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ESTÁ EM exibição no MAM a
mostra "Concreta 56 - A Raiz
da Forma", que reconstitui a
famosa exposição de 50 anos atrás,
marco do apogeu do movimento
concreto no Brasil. Por situar-se às
vésperas da ruptura neoconcreta,
conta com um conjunto expressivo
e heterogêneo de artistas, como
Lygia Clark, Lygia Pape, Hélio Oiticica, Amílcar de Castro e Franz
Weissmann, entre outros, além do
grupo paulista.
Outra característica é a presença
da poesia concreta em meio às telas
e esculturas, o que facilita a percepção de contaminações recíprocas
entre as áreas. Vale dizer: a ênfase
comum na serialização geométrica,
no ritmo visual e na autonomia dos
elementos sintáticos, por oposição a
qualquer noção de representação ou
conteúdo narrativo linear. Densa e
econômica como a própria arte, a
mostra dá a dimensão do salto vanguardista anunciado naquele momento, que abraçava a ortodoxia
universalizante como arma de combate aos romantismos regionalistas.
Remontada com alguns acréscimos que comentam desdobramentos subseqüentes, a exposição coroa
uma série de mostras sobre o tema
organizadas por Lorenzo Mammì e
João Bandeira no Centro Maria Antonia. Contudo, acrescenta um importante segmento dedicado ao design, com curadoria de André Stolarski. Se na arquitetura brasileira a
ponte com o concretismo resulta
quase sempre indireta e algo forçada, no design ela é fundante. Nesse
sentido, não é coincidência o trânsito intenso, nesse período, entre as
artes plásticas, as artes gráficas, o
desenho de marcas e produtos e os
projetos de mobiliários e intervenções em suportes arquitetônicos.
Influenciada pelo racionalismo
suíço da Escola de Ulm, a vanguarda
construtiva brasileira buscava a integração das artes através do binômio "estética" e "indústria", fazendo
coincidir a atualização cultural com
o desenvolvimento econômico do
país sob uma orientação pragmática
e pretensamente desideologizada.
Não espanta, nesse sentido, a sua
compulsão em criar sistemas visuais
auto-suficientes e infalíveis, em tudo impermeáveis à entropia tropical
brasileira.
Parte expressiva do acervo exposto neste segmento refere-se à produção do "forminform", escritório
fundado por Alexandre Wollner,
Geraldo de Barros e Walter Macedo
em 1958, e que contou com a colaboração de figuras como Ruben Martins, Karl Heinz Bergmiller, Maurício Nogueira Lima, Ludovico Martino, Emilie Chamie, João Carlos
Cauduro e Décio Pignatari. Destaca-se, também, a sólida produção de
Aloísio Magalhães e Goebel Weyne.
Contudo, em que pese a evidente
"vontade de ordem" inculcada no
desenho rigoroso dessas marcas e
embalagens, quando olhamos hoje
para as latas de sardinha Coqueiro,
os biscoitos Piraquê, ou o ladrilho
hidráulico do calçamento de São
Paulo, topamos com a dimensão afetiva daquele esforço civilizatório,
hoje residual. É que ao vê-los no museu, percebemos nesses ícones de
época um sabor popular insuspeitado, a indicar que formamos sim a base de uma cultura industrial pop e
rente à experiência cotidiana.
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