São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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Casa modernista tem estado precário

Fazenda Capuava, inaugurada em Valinhos em 1938, é uma das construções mais importantes da arquitetura modernista

Cinco anos atrás, acordo permitiu melhoras, mas faltam vidros, parte do concreto superficial cedeu e mezanino está em risco

Tuca Vieira/Folha Imagem
Vista de fachada lateral da Fazenda Capuava, de autoria de Flavio de Carvalho; proprietários reclamam de cobrança de IPTU alto

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Vanguardeiro. Maldito. Ousadamente modernista. Nota original e bizarra na vida de São Paulo. As avaliações registradas nas páginas de jornais sobre a obra arquitetônica de Flavio de Carvalho (1899-1973), entre os anos 20 e 30, refletem o choque com o qual a sociedade da época os recebeu.
Hoje, quase 70 anos após sua inauguração, o abalo de seus dois projetos-chave, a Fazenda Capuava (1938), em Valinhos (SP), e a vila modernista nos Jardins (1936-1938), em São Paulo, vem mais pela precariedade e pela descaracterização.
Carvalho, junto de Gregori Warchavchik (1896-1972), foi um dos expoentes da arquitetura moderna brasileira, mas ficou mais famoso por suas ações performáticas e por sua obra plástica (leia abaixo).
A fazenda e a vila são as únicas construções efetivamente realizadas por Carvalho. Seus outros projetos, tão radicais quanto esses, ficaram apenas nos croquis e nos registros históricos dos concursos públicos de que participou.
A Folha, em junho de 2002, noticiou o estado ruim de conservação da Fazenda Capuava, mesmo sendo tombada desde 1982. Dois meses depois, registrou também um acordo entre o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), os herdeiros de Carvalho e a Prefeitura de Valinhos para a recuperação do imóvel.
Hoje, cinco anos depois, houve alguma melhora na preservação de parte da casa, mas está muito aquém do ideal. Metade da construção passou por reformas emergenciais, como a troca da pintura e de parte do forro, além de ser instalado um sistema de alarme -o que afastou o risco de invasão.
No entanto, ainda faltam vidros em vários cômodos, há pontos onde a camada superficial do concreto tem rachaduras e uma parte do mezanino na sala principal está cedendo. A piscina está vazia e sem sua antiga iluminação.
"A estrutura da casa ainda está boa, mas é necessário reformar e mexer em vários pontos. A construção tem quase 70 anos, é inevitável que precise de mais manutenção", diz o arquiteto Paulo Mauro Mayer de Aquino, que ajuda a família na organização do arquivo de Carvalho. A Folha visitou a propriedade com ele.
De acordo com um dos herdeiros, o veterinário Ricardo Carvalho Pisciotta, 27, os custos de manutenção da propriedade são altos, e a família não pode arcar com as reformas. "Gostaria de reformá-la, mas pagamos um IPTU anual de R$ 46 mil por toda a propriedade. Temos de preservar a residência, gastamos com isso, mas ninguém do poder público vem nos ajudar", afirma ele.
A Prefeitura de Valinhos, por meio da assessoria de imprensa, emitiu uma nota dizendo que "tem amplo interesse na preservação do patrimônio histórico" e que atualmente "mantém parceria com a família herdeira de Flavio de Carvalho nas festividades da semana comemorativa", que ocorre anualmente, em agosto.
No entanto, na nota, a prefeitura diz que "hoje não é possível fazer o abatimento do IPTU, por falta de previsão legal, pois isso acarretaria em renúncia de receita por parte da prefeitura, o que é punido pelo Tribunal de Contas". A nota destaca possibilidade de acordo: "É importante ressaltar que a prefeitura possui interesse na utilização deste espaço (através de doação, parceria ou comodato). Qualquer pedido no sentido de ajuda será analisado pelas áreas competentes".
O arquiteto Flávio Moraes, do Condephaat, disse, em resposta por e-mail, que o órgão sabe do atual estado da casa, mas "teoricamente, nada pode fazer". "É o proprietário que tem o dever de manter seu imóvel em bom estado de conservação. [O tombamento] não interfere no direito de propriedade além dos outros instrumentos já existentes, sobretudo no âmbito do município."


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