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Crítica
Internacional, longa explora tema brasileiro com talento e oportunismo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A
primeira cena define
"Terra Vermelha": um
grupo de brancos passa
de barco, diante de um grupo de
índios que os observa com alguma hostilidade, até que em dado momento começam a preparar seus arcos e a atirar flechas no rio. Os brancos apressam o passo. Os índios retiram-se. Atrás, trocam as roupas de
índio por outras e recebem o
pagamento pelo seu trabalho.
Ou seja: o trabalho dos índios
era fazer o papel de índios. Para
efeitos turísticos. Saídos do cenário, ei-los em suas patéticas
roupas "de branco", ostentando a pobreza e o desajuste absolutos em relação à cultura que
foram forçados a adotar.
Logo, o suicídio de duas moças (ao menos isso não é contestado: o fato é que elas aparecem enforcadas na floresta) leva os índios a abandonar a reserva. Querem voltar à sua terra, reencontrá-la. A "sua terra"
não existe. Acampam numa
beira de estrada, ao lado de uma
fazenda, território branco. O
conflito se anuncia.
"Terra Vermelha" é tão mais
interessante quanto expressa
uma visão exterior do conflito
entre brancos e índios. O autor
do filme, Marco Bechis, consegue captar o âmago do conflito:
a perda de identidade do índio
(reduzido a ator de si mesmo) e
sua busca por reencontrá-la.
Faroeste
Se se quiser, estamos num
território próximo ao de "Serras da Desordem", de Andrea
Tonacci, mas aqui o tema é tratado em termos de filme de
aventura. Bechis faz do enfrentamento de brancos e índios
quase um faroeste. Não fica
muito distante, em todo caso. E
o faz sem baratear a questão.
São raros os momentos em que
se deixa seduzir pela tentação
demagógica. No início, a descrição da vida dos brancos beira o
caricatural: não passam, aparentemente, de sanguessugas.
Felizmente, adquirem mais
realidade ao longo do filme.
Mais do que tudo, "Terra
Vermelha" dá conta dos Gullane como os produtores mais
avançados no Brasil atualmente. Realizam um filme internacional -com capitais de vários
lugares e potencial de exibição
também internacional-, explorando um assunto brasileiro
com talento e senso de oportunidade. Quem quiser, pode pôr
ênfase no oportunismo envolvido na operação: ninguém
nunca disse que cinema era um
negócio limpo. Para além disso,
temos aqui um belo filme.
TERRA VERMELHA
Direção: Marco Bechis
Produção: Itália, Brasil, 2008
Quando: amanhã (16h) no Cine
Bombril; dia 21 (18h10) no Reserva
Cultural 1; dia 29 (20h) no Cine
Bombril 1
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: ótimo
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