São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2008

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Crítica

Internacional, longa explora tema brasileiro com talento e oportunismo

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A primeira cena define "Terra Vermelha": um grupo de brancos passa de barco, diante de um grupo de índios que os observa com alguma hostilidade, até que em dado momento começam a preparar seus arcos e a atirar flechas no rio. Os brancos apressam o passo. Os índios retiram-se. Atrás, trocam as roupas de índio por outras e recebem o pagamento pelo seu trabalho. Ou seja: o trabalho dos índios era fazer o papel de índios. Para efeitos turísticos. Saídos do cenário, ei-los em suas patéticas roupas "de branco", ostentando a pobreza e o desajuste absolutos em relação à cultura que foram forçados a adotar. Logo, o suicídio de duas moças (ao menos isso não é contestado: o fato é que elas aparecem enforcadas na floresta) leva os índios a abandonar a reserva. Querem voltar à sua terra, reencontrá-la. A "sua terra" não existe. Acampam numa beira de estrada, ao lado de uma fazenda, território branco. O conflito se anuncia. "Terra Vermelha" é tão mais interessante quanto expressa uma visão exterior do conflito entre brancos e índios. O autor do filme, Marco Bechis, consegue captar o âmago do conflito: a perda de identidade do índio (reduzido a ator de si mesmo) e sua busca por reencontrá-la.

Faroeste
Se se quiser, estamos num território próximo ao de "Serras da Desordem", de Andrea Tonacci, mas aqui o tema é tratado em termos de filme de aventura. Bechis faz do enfrentamento de brancos e índios quase um faroeste. Não fica muito distante, em todo caso. E o faz sem baratear a questão. São raros os momentos em que se deixa seduzir pela tentação demagógica. No início, a descrição da vida dos brancos beira o caricatural: não passam, aparentemente, de sanguessugas. Felizmente, adquirem mais realidade ao longo do filme. Mais do que tudo, "Terra Vermelha" dá conta dos Gullane como os produtores mais avançados no Brasil atualmente. Realizam um filme internacional -com capitais de vários lugares e potencial de exibição também internacional-, explorando um assunto brasileiro com talento e senso de oportunidade. Quem quiser, pode pôr ênfase no oportunismo envolvido na operação: ninguém nunca disse que cinema era um negócio limpo. Para além disso, temos aqui um belo filme.

TERRA VERMELHA
Direção: Marco Bechis
Produção: Itália, Brasil, 2008
Quando: amanhã (16h) no Cine
Bombril; dia 21 (18h10) no Reserva Cultural 1; dia 29 (20h) no Cine Bombril 1
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: ótimo



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