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Vale quanto pesa
Moacyr Luz transforma talento para boemia e baixa gastronomia em livro e visita, a convite da Folha, alguns bares cariocas citados em "Botequim de Bêbado Tem Dono"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Antes de chegarmos ao Lord
Bar, o cantor e compositor
Moacyr Luz avisa: "Lá só tem
banheiro para homem. Mas
tem que ser muito homem".
Já no balcão -não há mesas,
naturalmente-, o compositor
observa com atenção o farto
naco de carne seca servido em
meio a feijão, arroz, farofa e à
própria gordura da carne. "Onde você vai encontrar um pedaço desse de carne seca? Que pedaço lindo!", emociona-se.
Parceiro de Aldir Blanc, Martinho da Vila e outras feras,
Moacyr está transformando
seu talento para boemia e baixa
gastronomia numa segunda
atividade. Três anos depois
do "Manual de Sobrevivência
nos Butiquins Mais Vagabundos", ele lança o livro "Botequim de Bêbado Tem Dono",
conjunto de histórias bem e
mal passadas em bares do Rio.
São crônicas, e não uma obra
de "botequineur" (gente que
faz sumas teológicas sobre o tamanho da espuma do chope) ou
um guia de serviço. Quem quiser buscar a melhor dobradinha, o melhor mocotó e outras
singelezas, terá que correr atrás
-embora o verbo não se aplique a esse tipo de atleta.
É preciso ser um expedicionário como Moacyr para encontrar, numa galeria do centro
do Rio, o Lord Bar, cujo nome
aristocrático só se adequa ao
ambiente se levado em conta o
monopólio do gênero masculino. Numa brecha entre dois comentários picantes, o português de Trás-os-Montes Antônio Alves dos Santos, 74, conta
que vende 60 kg de carne seca
por dia. O prato maior, que comoveu Moacyr, tem cerca de
meio quilo e custa R$ 13. O menor tem uns 300 g (R$ 10).
"É preciso deixar a carne de
molho por dois dias." Esta é a
informação mais significativa
que o repórter conseguiu extrair de seu Antônio sobre o
modo de preparo da carne.
É que cozinha de boteco não
tem muita frescura. No Aboim,
em Copacabana (zona sul), há a
conhecida rabada com agrião
das sextas e dos domingos. A
Folha fez esforços para arrancar algo próximo de uma receita, mas não obteve nada muito
além de "ah, isso aí varia".
A rabada é ótima, garante
Moacyr. No cardápio, outros
clássicos da baixa gastronomia,
como língua (terças), carne seca com abóbora (quarta) e mocotó (quintas) -além de famosos pastéis (fins de semana).
Come-se, de preferência, no
balcão, pois o bar tem 10 m2, o
que o levou a assumir nos guardanapos seu apelido: Bar Bunda de Fora. Também é banheiro único, e sequer há telefone
fixo, para poupar espaço. O paraibano Ademar Souza Farias,
43, atende no seu próprio celular, protegido por uma imagem
de São Jorge colada a garrafas
diversas, de caninha incendiária a uísque 15 anos.
"É a essência do bar de
bairro. A beleza não está nos
azulejos, mas no atendimento.
E a comida é muito honesta",
analisa Moacyr.
Músculo e açafrão
O músico não é preconceituoso. No livro e em conversas,
mostra-se capaz de tecer loas
tanto ao músculo na pressão do
Momo, na Tijuca (zona norte),
quanto ao polvo estufado do
Casual Retrô, no centro, e ao
arroz de açafrão com frutos do
mar do Sobrenatural, um restaurante de Santa Teresa (região central) com espírito de
botequim -samba quase todo
dia e idiossincrasias como uma
farinha de mandioca exclusiva,
trazida da Baixada Fluminense.
Moacyr se dedicou tanto à
pesquisa para o livro que precisou trocar o jiló com alho pelo
queijo minas. Está há mais de
um mês sem comer nada gorduroso nem beber. Ordem da
médica. "Ela disse que nunca
viu uma taxa de triglicérides
tão alta", conta, levemente orgulhoso. Mas, no final do mês,
ele deverá retomar seus roteiros, que podem começar com a
fritada tripla (queijo, presunto
e cebola) do Paladino e terminar com o cabrito do Nova Capela, ambos no centro. É um
prazer que vale quanto pesa.
BOTEQUIM DE BÊBADO TEM
DONO
Autor: Moacyr Luz (com ilustrações
de Chico Caruso)
Editora: Desiderata
Quanto: R$ 39,90 (112 págs.)
DE BAR EM BAR - ALGUNS CENÁRIOS DO LIVRO
ABOIM (r. Souza Lima, 16-B,
Copacabana, RJ, tel. 0/xx/21/
9818-2272)
CASUAL (r. do Rosário, 24,
centro, RJ, tel. 0/ xx/21/2233-6904)
LORD (r. da Quitanda, 30, centro, RJ, tel. 0/ xx/21/2232-9223)
MOMO (r. Gal. Espírito Santo
Cardoso, 50-A, Tijuca, RJ, tel. 0/
xx/21/2570-9389)
PALADINO (r. Uruguaiana,
224, centro, RJ, tel. 0/xx/21/
2263-2094)
SOBRENATURAL (r. Almirante
Alexandrino, 432, Sta. Teresa,
RJ, tel. 0/xx/21/2224-1003)
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