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CRÍTICA POESIA
Antologia de Geraldo Carneiro peca por redundância e excesso de efeitos
NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O lançamento dos poemas
reunidos de poetas em atividade é uma boa notícia.
É uma prática que deveria
se tornar mais habitual num
mercado que se contenta ou
com antologias parciais ou
com a idade avançada do autor -quando não com sua
morte- para lançar suas
obras completas.
A extensão da obra de Geraldo Carneiro -33 anos (de
1973 a 2006)- e a quantidade
de livros justificam a publicação deste volume.
Mas, infelizmente, a consistência da obra não sustenta a proposta do livro.
É boa a ideia de ordenar a
cronologia dos livros mais recentes para os mais antigos,
mas é isso que faz com que se
perceba certa redundância
nos poemas, como se o tempo mal tivesse passado.
ARTIFICIALISMO
Certamente, os aspectos
mais fortes são a paródia e o
ritmo musical, que, muitas
vezes, soariam muito bem
em uma melodia. Aliás, o
poeta tem parcerias com nomes como Egberto Gismonti,
Francis Hime, Wagner Tiso e
Astor Piazzolla.
Mas, em poesia, diferentemente das canções, versos
como "na nave língua em
que me navego/ só me navego eu nave sendo língua", ou
"a tal totalidade tautológica,/o como somos: nossos
cromossomos" ou "Penélope
peninsulada à beira-mar/ e
eu tristecendo esta trama do
trapézio", as aliterações
soam ao leitor artificiais e o
efeito é de facilidade e livre
associação.
Aliás, o excesso de aliterações e paronomásias faz com
que o efeito se sobreponha ao
trabalho com o sentido, que
se apaga em meio à quantidade de recursos.
Além disso, persiste certo
orgulho anacrônico da marginalidade, numa atitude
poética autodepreciativa,
gauchista, que, de tão exagerada, aponta para o lado contrário: "Nunca soube me tornar civilizado,/faço no máximo as simulações"; "sou um
impostor, um dia saberão/
que simulei tudo o que sempre fui".
O melhor de sua poesia
são, sem dúvida, os poemas
de amor, especialmente
aqueles que, mais concretamente do que de amor, falam
da mulher amada (ou somente observada).
Poemas como "a ideia da
mulher", "recado no avião" e
"olhos de ressaca" conseguem reunir linguagem, imagem e objeto poético de forma mais equilibrada e originalmente carioca.
Mas não há como justificar, num livro deste porte,
um poema como "OLAVO BILAC/ OBNUBILAC/O.B./(absorvente íntimo)". Poesia pode ter graça e brincadeira,
mas não é piada.
POEMAS REUNIDOS
AUTOR Geraldo Carneiro
EDITORA Nova Fronteira
QUANTO R$ 49,90 (432 págs.)
AVALIAÇÃO regular
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