São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2010

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CRÍTICA POESIA

Antologia de Geraldo Carneiro peca por redundância e excesso de efeitos

NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O lançamento dos poemas reunidos de poetas em atividade é uma boa notícia.
É uma prática que deveria se tornar mais habitual num mercado que se contenta ou com antologias parciais ou com a idade avançada do autor -quando não com sua morte- para lançar suas obras completas.
A extensão da obra de Geraldo Carneiro -33 anos (de 1973 a 2006)- e a quantidade de livros justificam a publicação deste volume. Mas, infelizmente, a consistência da obra não sustenta a proposta do livro.
É boa a ideia de ordenar a cronologia dos livros mais recentes para os mais antigos, mas é isso que faz com que se perceba certa redundância nos poemas, como se o tempo mal tivesse passado.

ARTIFICIALISMO
Certamente, os aspectos mais fortes são a paródia e o ritmo musical, que, muitas vezes, soariam muito bem em uma melodia. Aliás, o poeta tem parcerias com nomes como Egberto Gismonti, Francis Hime, Wagner Tiso e Astor Piazzolla.
Mas, em poesia, diferentemente das canções, versos como "na nave língua em que me navego/ só me navego eu nave sendo língua", ou "a tal totalidade tautológica,/o como somos: nossos cromossomos" ou "Penélope peninsulada à beira-mar/ e eu tristecendo esta trama do trapézio", as aliterações soam ao leitor artificiais e o efeito é de facilidade e livre associação.
Aliás, o excesso de aliterações e paronomásias faz com que o efeito se sobreponha ao trabalho com o sentido, que se apaga em meio à quantidade de recursos. Além disso, persiste certo orgulho anacrônico da marginalidade, numa atitude poética autodepreciativa, gauchista, que, de tão exagerada, aponta para o lado contrário: "Nunca soube me tornar civilizado,/faço no máximo as simulações"; "sou um impostor, um dia saberão/ que simulei tudo o que sempre fui".
O melhor de sua poesia são, sem dúvida, os poemas de amor, especialmente aqueles que, mais concretamente do que de amor, falam da mulher amada (ou somente observada).
Poemas como "a ideia da mulher", "recado no avião" e "olhos de ressaca" conseguem reunir linguagem, imagem e objeto poético de forma mais equilibrada e originalmente carioca. Mas não há como justificar, num livro deste porte, um poema como "OLAVO BILAC/ OBNUBILAC/O.B./(absorvente íntimo)". Poesia pode ter graça e brincadeira, mas não é piada.

POEMAS REUNIDOS

AUTOR Geraldo Carneiro
EDITORA Nova Fronteira
QUANTO R$ 49,90 (432 págs.)
AVALIAÇÃO regular


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