São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2010

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Padilha quer mudar Lei do Audiovisual

SILVANA ARANTES
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

A estreia maiúscula de "Tropa de Elite 2" - o longa se aproxima dos 3 milhões de espectadores, com apenas uma semana em cartaz- dá fôlego à pretensão do cineasta José Padilha de impulsionar mudanças na lei brasileira de incentivo ao cinema.
Padilha avalia que "no modelo de financiamento do cinema brasileiro há algo intrinsecamente errado".
Trata-se dos termos em que é dividida a renda dos filmes entre produtores e distribuidores -estes últimos são os responsáveis pelo lançamento dos longas nas salas.
"No modelo norte-americano, o distribuidor banca o filme. Se [o diretor Francis Ford] Coppola vai fazer "O Poderoso Chefão", o distribuidor coloca o dinheiro da produção e do p&a [sigla da expressão em inglês print and advertising, que designa a impressão das cópias do filme e a propaganda para lançá-lo]. O distribuidor corre todo o risco, e o risco molda as cláusulas do contrato", diz.
Já no Brasil, "a maior parte do dinheiro de um filme vem do produtor. Num longa de R$ 10 milhões, um distribuidor pode colocar até R$ 3 milhões [usufruindo da lei de incentivo ao audiovisual] e o produtor, até R$ 7 milhões".
"O p&a é pequeno no Brasil . "Tropa de Elite" [2007], que custou R$ 11 milhões, teve R$ 1 milhão de p&a. Houve muito mais dinheiro colocado pelo produtor do que pelo distribuidor. Isso é verdade para todos os filmes. O contrato feito entre o produtor e o distribuidor no Brasil é igual ao norte-americano. Na minha opinião, há uma distorção aí", afirma Padilha.
Para testar um modelo que "modifica as relações de força econômica entre a produção e a distribuição", Padilha abriu mão de um distribuidor para "Tropa de Elite 2".
Decidiu lançar o filme com o selo de sua produtora, a Zazen, e contratou um "coordenador de lançamento", o especialista em distribuição Marco Aurélio Marcondes.
A performance de "Tropa de Elite 2" nos cinemas vem se configurando como um êxito sem precedente recente no mercado brasileiro.
"Queremos que todo mundo veja os números dessa experiência. Contratamos uma auditoria. No final, teremos um relatório para mostrar o retorno que isso dá. Se funcionar, poderá servir de substrato para uma política pública. O governo olha e diz: "De fato, esse modelo é legal. Vamos mudar as leis.'"
Antes de levar a discussão ao governo, Padilha buscará apoio de seus pares. "Funcionando, vou passar a mão no telefone, ligar para os produtores brasileiros, para a Total [da franquia "Se Eu Fosse Você"], a Lereby [de Daniel Filho], a O2 [de Fernando Meirelles] e propor que a gente se junte e faça uma distribuidora. Estou otimista", diz.
Jorge Peregrino, executivo da Paramount, que distribuiu "Tropa de Elite" em 2007, disse à Folha que desconhece os termos da proposta de Padilha e, por isso, prefere não comentá-la.
Manoel Rangel, presidente da Agência Nacional do Cinema, diz que, "se essa experiência for um grande sucesso, todo mundo, inclusive o governo, vai ter que parar para ouvir o José Padilha".


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