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Padilha quer mudar Lei do Audiovisual
SILVANA ARANTES
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
A estreia maiúscula de
"Tropa de Elite 2" - o longa
se aproxima dos 3 milhões de
espectadores, com apenas
uma semana em cartaz- dá
fôlego à pretensão do cineasta José Padilha de impulsionar mudanças na lei brasileira de incentivo ao cinema.
Padilha avalia que "no
modelo de financiamento do
cinema brasileiro há algo intrinsecamente errado".
Trata-se dos termos em
que é dividida a renda dos filmes entre produtores e distribuidores -estes últimos são
os responsáveis pelo lançamento dos longas nas salas.
"No modelo norte-americano, o distribuidor banca o
filme. Se [o diretor Francis
Ford] Coppola vai fazer "O Poderoso Chefão", o distribuidor coloca o dinheiro da produção e do p&a [sigla da expressão em inglês print and
advertising, que designa a
impressão das cópias do filme e a propaganda para lançá-lo]. O distribuidor corre todo o risco, e o risco molda as
cláusulas do contrato", diz.
Já no Brasil, "a maior parte
do dinheiro de um filme vem
do produtor. Num longa de
R$ 10 milhões, um distribuidor pode colocar até R$ 3 milhões [usufruindo da lei de
incentivo ao audiovisual] e o
produtor, até R$ 7 milhões".
"O p&a é pequeno no Brasil . "Tropa de Elite" [2007],
que custou R$ 11 milhões, teve R$ 1 milhão de p&a. Houve
muito mais dinheiro colocado pelo produtor do que pelo
distribuidor. Isso é verdade
para todos os filmes. O contrato feito entre o produtor e
o distribuidor no Brasil é
igual ao norte-americano. Na
minha opinião, há uma distorção aí", afirma Padilha.
Para testar um modelo que
"modifica as relações de força econômica entre a produção e a distribuição", Padilha
abriu mão de um distribuidor
para "Tropa de Elite 2".
Decidiu lançar o filme com
o selo de sua produtora, a Zazen, e contratou um "coordenador de lançamento", o especialista em distribuição
Marco Aurélio Marcondes.
A performance de "Tropa
de Elite 2" nos cinemas vem
se configurando como um
êxito sem precedente recente
no mercado brasileiro.
"Queremos que todo mundo veja os números dessa experiência. Contratamos uma
auditoria. No final, teremos
um relatório para mostrar o
retorno que isso dá. Se funcionar, poderá servir de
substrato para uma política
pública. O governo olha e
diz: "De fato, esse modelo é
legal. Vamos mudar as leis.'"
Antes de levar a discussão
ao governo, Padilha buscará
apoio de seus pares. "Funcionando, vou passar a mão no
telefone, ligar para os produtores brasileiros, para a Total
[da franquia "Se Eu Fosse Você"], a Lereby [de Daniel Filho], a O2 [de Fernando Meirelles] e propor que a gente se
junte e faça uma distribuidora. Estou otimista", diz.
Jorge Peregrino, executivo
da Paramount, que distribuiu "Tropa de Elite" em
2007, disse à Folha que desconhece os termos da proposta de Padilha e, por isso,
prefere não comentá-la.
Manoel Rangel, presidente da Agência Nacional do Cinema, diz que, "se essa experiência for um grande sucesso, todo mundo, inclusive o
governo, vai ter que parar para ouvir o José Padilha".
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