São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2007

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"Voltamos porque Sting é o rei da dor, adora sofrer"

Copeland fala mal do vocalista, da banda e de Bush -tudo brincadeira, com exceção do último

The Police volta ao Brasil para show no dia 8 de dezembro, no Maracanã, na turnê que marca a volta da banda após duas décadas

Albert Gea - 27.set.2007/Reuters
O cantor Sting, o baterista Stewart Copeland e o guitarrista Andy Summers durante show em Barcelona


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O Police só se reuniu depois de duas décadas porque Sting é o "rei da dor", adora sofrer. Tocar junto é um sacrifício. As fãs envelheceram. Mas Stewart Copeland, 55, está feliz. Mais feliz do que quando fundou a banda que ajudaria a mudar o pop mundial, de 1977 a 1984.
"A diferença é que agora continuamos brigando o tempo todo, mas ao menos sabemos o motivo: a única coisa sobre a qual discutimos é a música", disse o baterista, por telefone, à Folha. Os dois, mais o guitarrista Andy Summers, se apresentam em 8/12 no mesmo Maracanã em que tocaram para poucos e bons em 1982 -agora em show quase esgotado.
Todas as suas reclamações são irônicas e bem-humoradas -menos quando fala de George W. Bush, a quem chama de "criminoso". Leia a seguir.

 

FOLHA - Eu vi o show de reestréia do Police em Los Angeles, em junho. O que mudou?
STEWART COPELAND -
Melhorou. Demoramos para enxergar uns aos outros de novo, depois de tanto tempo longe. Nos anos 80, conquistamos o mundo depois de estarmos juntos por cinco ou seis anos. Agora, tivemos de nos tornar um grupo de qualidade internacional em cinco ou seis meses. Nem isso, cinco ou seis semanas. Fizemos a primeira parte da turnê, nos EUA, ficamos parados por uma semana, digerindo, e voltamos dez vezes melhores na Europa.

FOLHA - Qual a diferença entre o público de agora e o dos anos 80? Não só a idade, muita coisa aconteceu entre o fim e a volta da banda: vocês pularam da geração vinil para a do iPod sem passar pela do CD...
COPELAND -
Nada disso afeta a música nem a experiência do show. Afeta o negócio ao redor, que passou por uma grande devastação em todos os setores, menos no de shows. Mas esqueça tudo isso. Quando éramos uma banda de jovens, a maioria do público era composta por meninas de 16 anos desmaiando e sendo carregadas por médicos. Agora, são homens de 45 anos chorando. E aquelas garotas de 16 anos têm 45 -e ainda estão bonitas, pelo menos a maioria [risos]!

FOLHA - E mudou a dinâmica na estrada?
COPELAND -
Antes era simples. Tocávamos em estádios e para grandes públicos, mas vivíamos de maneira simples, a tecnologia era mais básica. Agora, é mais sofisticado, a maneira como as bandas operam evoluiu. É difícil explicar. Resumindo, é muito mais confortável agora. Quando tínhamos 25 anos e estávamos no topo do mundo, eu ficava ansioso o tempo todo, não era feliz, estava nervoso, com raiva, alguma coisa estava errada. Agora, estou feliz. Sting e Andy são duas das pessoas mais legais do mundo, estamos fazendo uma música incrível, o público está enlouquecendo, o que mais podemos pedir? Agora entendemos esse privilégio.

FOLHA - Você já respondeu a essa pergunta milhares de vezes, mas mesmo assim: por que voltar?
COPELAND -
Não sei. Porque o Sting é o "rei da dor" ["King of Pain", nome de um dos sucessos da banda], adora sofrer. Acho que, depois de seu disco de alaúde ["Songs from the Labyrinth", de 2006], ele chegou a um ponto em que não conseguia pensar em nada mais doloroso que me telefonar [risos]. Tentou chicote, ser acorrentado, fazer greve de fome... Toda manhã, a mulher dele, Trudie, o atingia com uma pistola elétrica. Nada mais funcionava, então ele chamou o Stu...

FOLHA - A rotina de grupo continua a mesma?
COPELAND -
A diferença é que agora continuamos brigando o tempo todo, mas pelo menos sabemos o motivo: a única coisa sobre a qual discutimos é a música. Pessoalmente, nós nos amamos, somos muito próximos. Mas, quando se trata de música, entendemos que somos quase opostos e também entendemos que os opostos se atraem, e um muda o outro. E dizemos: "Meu Deus, por que tenho de tocar com esse cara?". Mas esses são os caras com quem tocamos, e funciona, e o público age como juiz. Tocarmos juntos não é fácil, mas o efeito no público torna uma coisa boa, excitante, mostra a importância disso. É como falei: Sting gosta de sofrer e adora o fato de eu ser um grande incômodo logo ali, atrás dele [risos].

FOLHA - Você é filho de um ex-agente da CIA, passou parte da infância e da adolescência no Oriente Médio. Qual sua opinião sobre o estado das coisas nos EUA hoje?
COPELAND -
Estou feliz com o fato de que tudo isso vai acabar logo. O pesadelo vai acabar em breve, espero. Em mais ou menos um ano e meio, vamos nos livrar desse presidente, que é um desastre, um criminoso. E espero que ele seja julgado e colocado na cadeia por seus crimes, não só contra os EUA, mas contra o resto do mundo.


Leia a íntegra da entrevista no blog Ilustrada no Pop

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