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Ator e palhaço lança curta "Cegueira"
Ator paraense se endividou para adaptar em 12 minutos a mesma obra que inspirou Fernando Meirelles
CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-feirante, ex-dono de restaurante, ex-terapeuta corporal de pacientes com transtorno mental e dependentes químicos, atual palhaço de festas e
ator, o paraense Herculano Almeida, 50, estava desempregado, sem dinheiro e recém-chegado a São Paulo quando decidiu fazer um filme.
Com um cartão de crédito
com limite de R$ 2.500 e a idéia
de cobrar R$ 100 de cada ator,
Almeida fez um curta de 12 minutos baseado na obra "Ensaio
sobre a Cegueira", de José Saramago. Sim, a mesma que inspirou o longa mais recente de
Fernando Meirelles. Mas "bem
antes" de Almeida saber que o
diretor de "Cidade de Deus" havia tido a mesma idéia.
Foi em 2007 que, com uma
mini-DV emprestada, um microfone de mesa e um computador com software de edição,
Almeida começou a jornada de
dez meses da sua primeira incursão como diretor de cinema.
Treze horas foram gravadas
em locações paulistanas como
o Minhocão (viaduto onde Meirelles também rodou algumas
cenas), sem autorização, em
meio a mendigos, ameaças de
furto e imagens desfocadas.
Entre os atores que pagaram
para estar no curta, a maioria
não é profissional. "A gente foi
encontrando os atores: amigos,
colegas de Fátima Toledo [curso que freqüentou]..." Uma das
participantes, ele escolheu
após saber que ela "gostava de
filme europeu"; outra, ao ganhar um longo abraço.
O resultado é que a maior
parte dos diálogos acabou sendo cortada, segundo ele, por
causa do resultado constrangedor das interpretações. "A gente resolveu poupar os atores."
Mas o corte final agradou ao
diretor estreante. "Ficou orgânico. Dei para uma amiga ver e
ela disse que teve vontade de
vomitar no começo do filme.
Eu digo: "É essa sensação que
eu queria passar"."
Já do longa de Meirelles ele
não gostou tanto: "Quando comecei a ver, disse assim: "Poxa,
é difícil você colocar o que está
no livro no vídeo, né?". Achei
aquela coisa do cara ficando cego no meio da rua... Nossa!
Achei muita coisa forçada, sabe? Não sei se é porque eu tinha
lido o livro, tem esse negócio
também. Achei, assim, careta.
Tenho que ver de novo... Mas
saí um pouco decepcionado."
Quem quiser comparar os
dois "Cegueira", porém, terá
que esperar. O curta, que estreou no último dia 6, na Cinemateca Brasileira, dentro de
projeto dedicado a novos realizadores, não tem outras datas
de exibição definidas. Almeida,
que já sonha em ter Saramago e
Meirelles como espectadores,
começa agora a inscrever sua
obra em festivais.
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