São Paulo, terça-feira, 16 de novembro de 2010

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Massive Attack toca em SP, mas não em Israel

Banda retoma viés político, com embargo em protesto contra conflito árabe-israelense

FERNANDA MENA
EDITORA DO FOLHATEEN

Passados 12 anos desde a primeira apresentação no país, o Massive Attack sobe hoje ao palco do HSBC Brasil para o show da turnê de "Heligoland", álbum lançado em 2010, depois de um hiato de sete anos desde "100th Window" (2003).
O disco marca a reunião de Daddy G (Grant Marshall) e 3D (Robert Del Naja), dois dos integrantes originais do grupo, que passou por muitas formações e projetou um novo gênero musical na virada dos anos 1980 para os 1990: o trip-hop (mistura de hip-hop e eletrônica com efeitos hipnóticos e vocais climáticos) que veio à tona com o lançamento do álbum "Blue Lines" (1991). O reencontro da dupla, após uma série de desentendimentos, se deu sob a produção conciliadora de Damon Albarn (Blur, Gorillaz). "Do ponto de vista pessoal, "Heligoland" foi um desafio", confessa 3D à Folha, por telefone, de Londres.
"Se eu fosse levar tudo a ferro e fogo, brigaria com Daddy G o tempo todo. Nós nos juntamos no estúdio do Damon [Albarn], e abri mão de uma certa complexidade musical para tornar as canções mais importantes do que a música", filosofa.
O resultado, segundo 3D, são canções mais "orgânicas", que contaram com vocais de Horace Andy e Martina Topley-Bird, além de convidados como Hope Sandoval, Tunde Adebimpe (TV on the Radio), Guy Garvey (Elbow) e o produtor Tim Goldsworthy (DFA).

DESIGN DE ILUMINAÇÃO
Ao palco, subirão hoje dez músicos e uma parafernália de iluminação em LED, fruto de sete anos de pesquisa de 3D com a United Visual Arts.
"Quis adicionar mensagens às músicas do show. É como se você pudesse visualizar o que escuta", explica.
"Foi essa pesquisa que me afastou das artes plásticas, suprindo meu lado artista com design de iluminação."
Antes de emergir na cena musical de Bristol com o coletivo Wild Bunch, 3D era um célebre grafiteiro. Banksy, o artista de rua anônimo mais pop do mundo, sempre o cita como sua maior influência.
"Banksy é o grande culpado por eu ter voltado a pintar recentemente", brinca. "Somos bons amigos, mas não me venha querer saber a real identidade dele, por favor!" Ok.
Além do retorno às artes, 3D tem empurrado o Massive Attack para um retorno às causas políticas. Após uma tentativa frustrada de mobilizar artistas contra a guerra do Iraque, em 2003, o duo abraçou um embargo cultural a Israel, de que fazem parte Pixies e Elvis Costello.
"É frustrante ser britânico e ver que meu país não faz pressão política alguma em relação ao conflito entre israelenses e palestinos. Fiz o que estava ao meu alcance: cancelei nossos shows em Israel. Por enquanto, não toco mais por lá."
Massive Attack, em tradução livre, quer dizer ataque pesado. Por isso, durante a primeira Guerra do Golfo (1991), a gravadora do grupo queria que o nome fosse mudado para Massive, evitando confusões. A maldição continua: hoje, no Google, ao digitar "Massive Attack" e "Israel", surgem links sobre o boicote cultural lado a lado com notícias sobre ataques pesados na Faixa de Gaza.

MASSIVE ATTACK

QUANDO hoje, às 22h
ONDE HSBC Brasil (r. Bragança Paulista, 1.281; tel. 0/xx/11/ 4003-1212)
QUANTO de R$ 60 a R$ 300
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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