|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Morre, aos 76 anos, o acordeonista Sivuca
Chamado de "poeta do som", o multiinstrumentista paraibano lutava havia um ano contra um câncer no pulmão
Sanfoneiro Oswaldinho diz que colegas perderam um "espelho"; para o músico Hermeto Pascoal, Sivuca era "irmão de cor e de som"
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
O músico e compositor Sivuca, 76, morreu na noite de anteontem, em João Pessoa (PB).
Ele estava internado desde a
última terça-feira no Hospital
Memorial São Francisco, com
fortes dores no pulmão e dificuldade para respirar.
Às 23h55 de quinta-feira, Severino Dias de Oliveira, o Sivuca, morreu de insuficiência respiratória causada por edema
pulmonar. Cerca de 30 anos
atrás, o músico descobriu que
tinha câncer nas glândulas salivares. Desde então, passou por
cirurgias e tratamentos para
combater a doença.
Em novembro do ano passado, o câncer atingiu o pulmão, e
o estado de saúde do músico começou a piorar.
O corpo de Sivuca foi velado
no Parque das Acácias, na capital paraibana. Até o início da
tarde, cerca de 2.000 pessoas
haviam passado pelo velório.
Músicos, políticos e fãs foram
ao velório se despedir do "poeta
do som", como era chamado.
"Era uma pessoa conhecedora de vários instrumentos. Tocou mais de sete. Apesar de ser
considerado um acordeonista
jazzístico, nunca perdeu suas
raízes. Isso é muito lamentável,
perdemos um espelho", disse o
sanfoneiro Oswaldinho.
História
Sivuca nasceu no dia 26 de
maio de 1930 na cidade de Itabaiana, região do semi-árido
paraibano. Começou a tocar
sanfona aos nove anos. Em Recife, tornou-se aluno do maestro Guerra Peixe e iniciou sua
carreira como instrumentista.
Depois de discos lançados no
Brasil, viajou para a Europa a
fim de apresentar e gravar suas
canções.
"Para mim, que sou sanfoneiro, ele tem uma importância
tão grande como teve Luiz
Gonzaga para o baião. Ele surgiu determinado, pretensioso,
tocando clássicos, era maestro,
estudou com Guerra Peixe. Teve uma importância extraordinária para o acordeão", afirmou
o músico Dominguinhos.
Em 1964, mudou-se para Nova York, onde assumiu a direção musical da cantora africana
Miriam Makeba, com quem
realizou turnês internacionais.
Com passagens pela Escandinávia, Sivuca quis morrer na
Paraíba. "Ele voltou há aproximadamente três anos para a
Paraíba, queria morrer onde
nasceu", disse Gal Cunha Lima,
produtora executiva do primeiro DVD, "Poeta do Som", que
será lançado em janeiro.
As 12 músicas do DVD foram
divididas com a mulher e parceira Glória Gadelha, com
quem era casado havia 32 anos.
Últimos dias
Mesmo debilitado, Sivuca
quis participar do show de lançamento do DVD, em 20 de novembro, em João Pessoa.
"Ele
era tão iluminado, que quase
ninguém percebeu que estava
gravemente doente", disse Gal.
Sivuca tocou pela última vez
a sua sanfona em público no último dia 30 de novembro, com
a Orquestra Sinfônica da Paraíba. O instrumentista deu uma
canja em dois de seus grandes
sucessos -"João e Maria" e
"Feira de Mangaio".
Ele foi enterrado com honras
de Estado. Grupos paraibanos
de música popular e erudita tocaram durante o sepultamento.
O governo da Paraíba e o município de João Pessoa decretaram luto oficial de três dias.
Para o multiinstrumentista
Hermeto Pascoal, as homenagens deveriam extrapolar o território paraibano. "As pessoas
sempre me confundiram com o
Sivuca. Assim, tenho ele como
um irmão de cor e de som. Tenho certeza que ele será homenageado no mundo todo, e espero que o Brasil dê o valor que
ele tem e não se omita", disse.
Colaborou ADRIANA FERREIRA SILVA, da Reportagem Local
Texto Anterior: "O Céu de Suely" vence 28º festival de cinema de Havana Próximo Texto: Perfil: Artista criou suas próprias regras musicais Índice
|