São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIA ABRAMO

Eu pago, eles decidem e nós engolimos


Para preencher cotas de programação nacional, leis protecionistas na comunicação podem ter resultados ambíguos

DANIEL CASTRO já havia comentado brevemente o teor de uma campanha da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) contra o projeto de lei que institui cotas para programação nacional nos canais pagos em sua coluna de 5 de dezembro. Intituladas "Falácia 1", "Falácia 2", as duas notas chamavam atenção para o fato de que a campanha apóia-se numa inverdade, num argumento essencialmente falso: se a lei for aprovada, os assinantes não vão mais "escolher a programação".
"Então não muda nada", concluía Castro, e com razão: desde quando o assinante escolhe a programação da TV por assinatura? No máximo, escolhe-se a operadora, o pacote e a mensalidade. Os 5 milhões de assinantes da TV paga, número ao qual chegou o mercado de TV por assinatura este ano, quase que uma década depois de suas previsões excessivamente otimistas, não decidem uma vírgula daquilo que os canais pagos decidem sobre a programação.
O projeto de lei contra o qual a ABTA está se insurgindo prevê uma cota de 50% para canais pagos brasileiros, mais 10% de programação nacional nos canais estrangeiros -que hoje somam 75% da programação da TV por assinatura no Brasil. Leis protecionistas na área de comunicação e produção cultural podem ter resultados ambíguos, às vezes protegendo o que não existe e/ou favorecendo uma produção mediana simplesmente para preencher a cota, mas daí a comprar a briga das operadoras há um abismo.
A peça publicitária vai além da argumentação falaciosa; ela prossegue com uma ameaça: "Eles decidem o que você vai assistir e depois é você quem pagará mais por isso". Ou seja, de forma nada sutil, estão avisando que, se o assinante não aderir à campanha e a lei for aprovada, os custos do cumprimento da lei serão repassados ao consumidor.
Portanto, caro assinante de TV, o melhor é engolir a lógica torta, correr para o site Liberdade na TV e dizer, em alto e bom som, aquilo que, no íntimo, você sabe não ser verdade: "Eu pago, eu escolho o que vou ver na minha TV por assinatura".
E se os assinantes levassem a afirmação a sério e passassem a exigir, de fato, poder escolher por aquilo que pagam (e não é pouco)? Leitor, leitora: você não gostaria de decidir o que vai ver na TV por assinatura?
Que tal começar com a volta das séries legendadas na Fox? Ou banir, definitivamente, determinados filmes depois que eles atingem um certo número de reprises? Ou oferecer pacotes realmente flexíveis por preços bem mais camaradas? Ou uma programação com menos intervalos comerciais? Cartas para a redação.

biabramo.tv@uol.com.br


Texto Anterior: Pianista Chick Corea é tema do próximo volume da Coleção Folha
Próximo Texto: Noveleiros levam trama de época à internet
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.