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BIA ABRAMO
Eu pago, eles decidem e nós engolimos
Para preencher cotas de programação nacional, leis protecionistas na comunicação podem ter resultados ambíguos
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DANIEL CASTRO já havia comentado brevemente o teor
de uma campanha da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) contra o projeto de lei
que institui cotas para programação
nacional nos canais pagos em sua coluna de 5 de dezembro. Intituladas
"Falácia 1", "Falácia 2", as duas notas
chamavam atenção para o fato de
que a campanha apóia-se numa inverdade, num argumento essencialmente falso: se a lei for aprovada, os
assinantes não vão mais "escolher a
programação".
"Então não muda nada", concluía
Castro, e com razão: desde quando o
assinante escolhe a programação da
TV por assinatura? No máximo, escolhe-se a operadora, o pacote e a
mensalidade. Os 5 milhões de assinantes da TV paga, número ao qual
chegou o mercado de TV por assinatura este ano, quase que uma década
depois de suas previsões excessivamente otimistas, não decidem uma
vírgula daquilo que os canais pagos
decidem sobre a programação.
O projeto de lei contra o qual a ABTA está se insurgindo prevê uma cota de 50% para canais pagos brasileiros, mais 10% de programação nacional nos canais estrangeiros -que
hoje somam 75% da programação da
TV por assinatura no Brasil. Leis
protecionistas na área de comunicação e produção cultural podem ter
resultados ambíguos, às vezes protegendo o que não existe e/ou favorecendo uma produção mediana simplesmente para preencher a cota,
mas daí a comprar a briga das operadoras há um abismo.
A peça publicitária vai além da argumentação falaciosa; ela prossegue
com uma ameaça: "Eles decidem o
que você vai assistir e depois é você
quem pagará mais por isso". Ou seja,
de forma nada sutil, estão avisando
que, se o assinante não aderir à campanha e a lei for aprovada, os custos
do cumprimento da lei serão repassados ao consumidor.
Portanto, caro assinante de TV, o
melhor é engolir a lógica torta, correr para o site Liberdade na TV e dizer, em alto e bom som, aquilo que, no íntimo, você sabe não ser verdade: "Eu pago, eu escolho o que vou
ver na minha TV por assinatura".
E se os assinantes levassem a afirmação a sério e passassem a exigir,
de fato, poder escolher por aquilo
que pagam (e não é pouco)? Leitor,
leitora: você não gostaria de decidir o
que vai ver na TV por assinatura?
Que tal começar com a volta das séries legendadas na Fox? Ou banir,
definitivamente, determinados filmes depois que eles atingem um certo número de reprises? Ou oferecer
pacotes realmente flexíveis por preços bem mais camaradas? Ou uma
programação com menos intervalos
comerciais? Cartas para a redação.
biabramo.tv@uol.com.br
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