São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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Crítica

Wenders busca o Japão em "Tokyo-Ga"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Quando Wim Wenders abraça outro cineasta, nunca sabemos exatamente se pretende colocá-lo em relevo, ou se, como um vampiro, pretende se colocar em situação de privilégio à custa do homenageado.
Essa dúvida não existia quando o alemão filmou Nicholas Ray em "O Amigo Americano". Mas uma forte luz de amarela ambigüidade aflorou quando Wim filmou o amigo à morte, em "Um Filme para Nick" ("Lightning over Water").
Apesar do consentimento, mais do que isso, do pedido de Ray para ser filmado por Wim, havia algo de obsceno naquilo: um homem agonizava diante de nós, um grande cineasta, e isso não era bonito. Em todo caso, será possível sempre mudar de opinião e, quem sabe, talvez daqui a algumas décadas não se possa ver como uma preciosidade essa filmagem. No mais, em 1980 Wenders estava no auge de sua carreira.
Com "Tokyo-Ga" (TC Cult, 20h15), de 1985, Wenders entende nos introduzir a um só tempo ao universo de Yasujiro Ozu e ao Japão. É, em princípio, uma bela atitude de um cineasta cinéfilo, chamando a atenção para um mestre morto (e japonês) e lembrando que o cinema tem história, que as coisas não brotam da terra.
Sempre haverá o fantasma da dúvida: e se Wenders estivesse buscando criar uma identidade que, afinal, serve mais a ele do que ao entendimento de Ozu ou do Japão? O filme que passa hoje é uma chance para tirar (ou aprofundar) a dúvida.


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