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Opinião
Show é doce que gruda e não enjoa
Apresentação de Madonna com a turnê "Sticky & Sweet" no Maracanã termina em rave, em que cantora é patrona e musa
CECILIA GIANNETTI
COLUNISTA DA FOLHA
"Sticky & Sweet" prova
que o mundo é o
playground de Madonna; mas Nova York, desde o
começo (e novamente destacada no recente retorno a uma espécie de disco revitalizada, com
o álbum "Confessions on a
Dancefloor"), é a nave-mãe da
diva, que trocou Michigan pela
Maçãzona em 1978, com (diz-se) não mais do que 37 doletas
amassadas no bolso, para tornar-se dançarina.
Virou também cantora, em
clubes como Paradise Garage e
Danceteria, onde em 1983 já
mandava pra galera um playback de "Everybody". Foi a partir dali, no circuito de clubes
noturnos e coreografias que
misturam todo o tipo de danças
de rua, que se tornou ícone
mundial pop, em vez de apenas
mais uma sensação importada
dos Estados Unidos via MTV.
O show da atual turnê da loira, que estreou no Maracanã,
no Rio, no último domingo, desenrola para o público, em quatro blocos de canções, o novelo
de influências absorvidas e reviradas pela estrela em 25 anos
de carreira, intercalados por
poderosas intervenções em vídeo -e quem poderia duvidar
de que a mídia que Madonna
melhor manipula seria uma das
chaves de suas bodas de prata
pop?-, responsáveis por guiar
o público entre mudanças de
clima bem arquitetadas.
A cola que junta todas as pontas é feita de chiclete, marshmallow, açúcar de confeiteiro...
Doces que grudam nos dentes e
viciam sem, curiosamente, enjoar. Mérito d'Ela e do faro certeiro que, desde sempre, a faz
cercar-se e alimentar-se de talentos que melhoram a receita,
(bom tino que parece abandoná-la quando a questão é escolher seus homens).
Quando Madonna surge num
trono suspenso, na abertura
com "Candy Shop", apesar de
uma ou outra nota desafinada
pelo gogó real, a coroação não
parece em momento algum
exagerada ou despropositada.
Ela é mesmo a rainha dessa zona chamada indústria pop; levanta uma sobrancelha, esboça
um meio sorriso superior. O
seu "bota a mão no joelho, dá
uma agachadinha" começará a
pegar fogo é com a segunda
canção, "The Beat Goes On",
também de seu 11º álbum de estúdio, quando um veículo Auburn Speedster 851 branco, de
1935, invade o palco, demarcando o bloco Pimp do show.
A platéia também produz
imagens fortes; um exemplo: o
grandalhão que passa entre a
multidão gritando "Abre!" e se
destaca por um imenso "bois"
de penas cor-de-rosa vibrante
de um grupo de outros igualmente altos e musculosos, todos carregando um gigante desacordado. Álcool e drogas ou
pura emoção? Mistério, que
não chegou a desplugar do palco os olhos de quem deu passagem ao grupo e continuou a pular na chuva.
Animações sobre obras de
Keith Haring abriram o segundo bloco, Old School, com mr.
DJ, seu boné e scratches. Mas
nele, também brinca com hits
dos anos 80, como "Borderline", que transforma em... rock
de arena, quase, com direito a
guitarradas. Em seguida, ela levou o inevitável escorregão e
prosseguiu linda e loira após
esticar um joelho pro alto (não,
não era parte da coreografia).
No terceiro bloco, Gypsy, não
é à toa que a música romena é
destaque: recauchutada por
uma nova sensação nova-iorquina, que chegou ao Brasil pelos próprios pés, a banda Gogol
Bordello, agora celebrada pela
cantora. O último bloco não poderia ter título mais apropriado: o Maracanã, afinal, está alagado, a platéia, no escuro, e todos dançam ao som da batida. É
uma rave, mas diferente. Esta
tem dona, patrona e musa. Uma
idosa que não aparenta a idade.
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