São Paulo, quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

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Crítica

A revolução dos clichês

"Avatar", com o qual James Cameron diz querer revolucionar o cinema, estreia na sexta; filme recicla ideias sobre mundos de fantasia e aposta alto no poder do 3D

Divulgação
Ator Sam Worthington vira avatar e se passa por Na'vi

ANDRÉ BARCINSKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Avatar", o filme que James Cameron diz fazer "Titanic" "parecer um piquenique", será exibido em sessões especiais amanhã. O diretor tem autoridade para falar. Ele dirigiu "Titanic".
Dirigiu também "O Exterminador do Futuro" (84), "Aliens" (86), "O Segredo do Abismo" (89), "O Exterminador do Futuro 2" (91).
Seus filmes já renderam algo como US$ 4 bilhões em bilheteria. Mas nenhum gerou tanta expectativa quanto "Avatar". Culpa do próprio Cameron, que há anos vem tratando o filme como "uma revolução no cinema".
Filmado com uma nova tecnologia 3D e com orçamento estimado em US$ 230 milhões (sem contar custos de lançamento), "Avatar" chega na sexta a mais de 600 salas do Brasil.
Destas, 110 o exibem em 3D, o que obriga o espectador a usar um grande óculos pelas quase três horas de projeção.
A história de "Avatar" se passa em 2154. Humanos estão de olho em um valioso mineral encontrado no planeta Pandora, habitado por um povo tribal chamado Na'vi. Para se comunicar com os Na'vi, que têm três metros de altura, humanos precisam se "conectar" mentalmente com clones artificiais dos nativos, os tais "avatares".
Se a história apenas recicla clichês sobre mundos de fantasia e os perigos da destruição da natureza, a grande atração de "Avatar" são mesmo as imagens em 3D. O problema é que Cameron parece ter passado mais tempo desenvolvendo esse novo sistema do que escrevendo um roteiro interessante.
O diretor sempre foi um inovador das tecnologias do cinema. Mas em seus filmes anteriores, a tecnologia foi usada para ajudar a história, não para substituí-la. Longas como "O Exterminador do Futuro" e "Titanic" resistem ao tempo por causa de suas histórias e personagens, mesmo que o impacto de seus efeitos visuais já tenha sido ultrapassado.
Desde os tempos de aprendiz com Roger Corman, o mais inventivo produtor de filmes B, Cameron descobriu que todo filme precisa de um "truque", uma marca que o diferencie da concorrência. No fundo, ele continua diretor de filmes B.
O que aumentou foram os orçamentos. No caso de "Avatar", o "truque" é o 3D. As imagens são, de fato, impressionantes.
Mas, se assistir a peixinhos nadando num filme Imax é agradável por 30 minutos, passar três horas vendo clones do velocista Usain Bolt correndo pela floresta beira o desagradável. Lá pela 30ª imagem deslumbrante, o impacto do 3D se diluiu. Resta a história. Que, infelizmente, não é grande coisa.


AVATAR

Avaliação: regular



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