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Artista apropriou do pop aos gritos de Munch
da Reportagem Local
Em 1975, Alex Vallauri ainda não
era grafiteiro. Mas sua arte já se delineava em experiências com gravura feitas com chapas de metal,
madeira e pedra.
No texto "Sombras Nada Más",
que escreveu para apresentar uma
exposição, Vallauri dá diversas
pistas do que viria a ser seu universo criativo.
Cita, por exemplo, as xilogravuras de Edvard Munch (1863-1944),
artista norueguês que gravou algumas das imagens mais gritantes do
expressionismo. Essa corrente,
fundada na idéia de que a deformação de uma imagem expressa
mais verdade e poesia do
que a sua reprodução fiel, marcou sobretudo o
início da arte de
Vallauri.
Escreve também sobre a arte
pop, uma das
matrizes de suas
obras de rua.
O kitsch, modo como a arte trata objetos inicialmente vulgares que por ela são
incorporados, também aparecem
em seu discurso. E ele incorporou
elementos kitsch em toda a sua
produção de paredes, como a clássica "Rainha do Frango Assado".
Leia a seguir a íntegra de "Sombras Nada Más", de Vallauri.
(CEM)
"As ruas de neon, a noite, uma
mulher a vagar, o homem à espera na esquina, o ato consumido
antes de consumado, o dinheiro
nas ligas. Ela, o saber de tudo,
mais um. O pão de amanhã, a espera, a mesa do bar.
As mesmas palavras, a cama à
espera, o anonimato, a não-troca. A rua perto do cais, corpos a
se roçar, cabeças virando, a rua,
o copo na mesa, o quarto, a roupa no chão.
Meus 16 anos, 65 a 68. Santos, o
cais, o precisar sentir o neon, Nelson Gonçalves, a cerveja quente,
o bloco na mão, a transposição
da cor, do clima, aquarelas veladas, esboços, expressionistas.
Maria a perguntar:
- Mas tu me vê assim? Te esqueceste do brinco, ganhei ontem
d'aquele americano. Não! D'aquele marinheiro de barba.
Lixar a madeira, olhar as xilogravuras de Munch, gravar precisamente, deformar o rosto, a
dor, a alegria, a espera, a cama
vazia, a toalha molhada.
A volta ao cais, Beatriz Rossi,
Luiz Hamen, o mesmo tema, a
visão da mulher do operário, o
papel a ser rabiscado. O social, o
expressionista, a denúncia.
Hoje, passaram-se dez anos, o
mesmo tema? Sublimar. O prazer, a dor, o sadomasoquismo, o
lápis que corre sensual pelos corpos. O sutiã, o objeto, o fetichismo. O prazer consumado a ser
consumido.
A pop arte, não mais a denúncia,
o criticismo, o objeto consumido,
o "kitsch' dos anos 60, o baby-
doll, a cama vazia, o homem na
esquina.
Ela.
O vermelho-batom no cigarro
apagado, outro cigarro, o cinzeiro ao pé da cama, outro cigarro,
depois. A volta de cada corpo ao
seu. Prazer, troca, continuidade.
A representação, o lápis que corre pelos corpos sensuais."
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